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Produção mineral e pesquisa alavancam investimentos na Bahia

A mineradora Largo Vanádio Maracás, instalada na Bahia, vai produzir baterias de Vanádio e investir no tratamento dos rejeitos

A Bahia se destaca na produção e nas exportações de minérios como o Vanádio, um dos três principais minerais exportados pelo estado no primeiro semestre deste ano, junto com o ouro e o níquel. Os dados são do Sumário Mineral de Julho, divulgado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Bahia (SDE-BA). Único produtor de Vanádio no Brasil, o território baiano vem recebendo investimentos para gerar outros produtos resultantes do mineral, sem provocar novos impactos ambientais.

Cristais de Vanádio – FOTO: Pixabay

A mineradora Largo Vanádio de Maracás, é destaque mundial por exportar produtos oriundos de um dos depósitos de vanádio de maior teor do mundo, em áreas descobertas pela Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM). A empresa produz pentóxido de vanádio, trióxido de vanádio e ferrovanádio e, desde 2018, investe em pesquisas com foco na economia circular e no aproveitamento dos resíduos gerados pela produção do vanádio.

No final do ano passado, a Largo anunciou investimentos da ordem de R$ 3 bilhões em dois projetos em implantação: a produção de ilmenita, em Maracás – cidade distante 215 quilômetros de Salvador; e a fabricação de pigmento de titânio no Polo Industrial de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador. Só com o processo de reaproveitamento do sulfato de sódio, previsto para 2023, a expectativa é reduzir 20 mil toneladas de resíduos por ano.

“A estratégia da Largo é verticalizar sua produção, com dois principais objetivos: reduzir a geração de rejeitos e ser a primeira empresa a colocar no mundo uma produção de bateria de vanádio como algo viável economicamente, possibilitando a transição do mundo para um mundo com menor impacto ambiental, menor emissão de carbono e de gases do efeito estufa”, disse o coordenador de produção da mineradora, Ítalo Araponga, durante o 4º Seminário de Mineração da Bahia, realizado em Jacobina, que fica a 337 quilômetros da capital baiana.

Minérios vem liderando as exportações baianas – FOTO: CBPM/Divulgação

O coordenador afirma que já há mão de obra contratada e em treinamento para o início das operações em 2023. Como pontos positivos, a Largo aponta o aumento da vida útil das bacias de rejeitos, crescimento da sua receita e de arrecadação de impostos, além do aumento da reserva mineral.

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“No caso do titânio, por exemplo, haverá um novo produto sem a geração de um novo impacto ambiental, é algo que vai gerar mais emprego, mais renda. Nesse caso do pigmento específico, dois terços de dióxido de titânio (TiO2) consumido, hoje, no Brasil são importados, principalmente da China. Então, nós estamos falando de trocar um produto, que gera renda e emprego lá, por outro que vai gerar mais postos de trabalho e fazer girar a economia daqui,” diz Heitor Duarte, gerente de P&D da Largo.

Debate sobre uso de resíduos é fundamental

A defesa da CBPM de que o setor deve atentar para as potencialidades da geração de subprodutos da mineração encontra eco nos projetos da Lago. A partir da temática, a companhia tem realizado uma série de debates sobre o aproveitamento de resíduos da mineração na agricultura, na construção civil, na indústria química, entre outros setores produtivos.

“As iniciativas da CBPM são muito importantes, não só no sentido econômico, mas no aspecto ambiental mesmo, porque estamos falando de um tema muito polêmico, porque a mineração gera muitos resíduos e rejeitos que precisam ter um reaproveitamento. A reutilização desses materiais numa expressiva quantidade, evita que ele seja descartado em pilhas, barragens de rejeitos com risco de acidentes, riscos de contaminação do solo e lençóis freáticos. Então, para o meio ambiente esse é um tema essencial para ser debatido”, diz Leonardo Carneiro, diretor de Regularização Ambiental do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), órgao ambiental da Bahia.

“É preciso investimento e integração entre as indústrias”

O Senai Cimatec, em parceria com empresas privadas da Bahia, faz estudos sobre aproveitamento de resíduos de várias substâncias. Uma delas vem dos processos de produção de Terras Raras – substâncias químicas usadas na indústria para a produção de diversos itens – vindas dos rejeitos do processamento da argila. Essas substâncias minerais podem ser usadas na fabricação de superímãs, eletrônicos, indústria aeroespacial, energia, entre outros.

As equipes regionais do Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM) na Bahia também têm pesquisas relacionadas ao uso de resíduos da mineração na agricultura. Eles são provenientes de rochas, como o “Projeto Calcários da Bahia” e o “Projeto Agrominerais da Região de Irecê-Jaguarari”. Mas a fabricação e o uso de subprodutos da mineração ainda não correspondem ao potencial que o setor possui.

O mármore Bege Bahia, produzido nas cidades de Ourolândia, Mirangaba e Jacobina, é um exemplo. A geóloga Ana Fábia Mattos, assessora técnica da CBPM, afirma que do material retirado do solo, em média, apenas 30% são aproveitados para a comercialização, os outros 70% são rejeitos. “Já foram realizados estudos sobre o Bege Bahia que mostram que o rejeito da rocha é, predominantemente, composto por calcário. Essa substância e suas derivações podem ser usadas como corretivo de solo, na composição de materiais usados na construção civil, na indústria siderúrgica e alimentícia, entre outros”, destaca Ana Fábia.

Outra substância que pode ser aproveitada é a sílica (dióxido de silício), encontrada em rochas, areias, quartzo, quartzito e outros materiais, podendo ser utilizada pela indústria química em diversas aplicações comerciais como tintas, plásticos e cosméticos. Outro exemplo de uso variado é do manganês, usado na fabricação de ligas metálicas e que também pode ser usado no preparo de comida animal.

“Um mineral pode ser plenamente aproveitado. O que observamos, atualmente, é a falta de divulgação das pesquisas, a falta de conhecimento das empresas sobre o potencial de beneficiamento, aplicação e comercialização dos subprodutos da mineração. Os estudos existem, mas é preciso investimento e integração entre as indústrias locais, além de infraestrutura”, explica a geóloga.

Mineração investe em sustentabilidade

O Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM) estima que 40,44 bilhões de dólares devem ser investidos no setor mineral até 2026. Do total, mais de quatro bilhões estão direcionados a projetos socioambientais, alguns deles em andamento. As iniciativas relacionadas à responsabilidade social na mineração fazem parte da colaboração de empresas e instituições para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030, as metas elaboradas pela Organização das Nações Unidas (ONU) para proteger o meio ambiente e promover o bem para a humanidade. Dos 17 ODS, os números 11 e 12, apontam, entre outras coisas, para o reaproveitamento de resíduos da mineração e para a redução da produção de rejeitos, respectivamente.

De acordo com especialistas, o aproveitamento de resíduos consiste em criar valor agregado a um material que só possui despesa associada. A prática de reuso promove a formação de uma nova cadeia de negócios e a inserção de uma política mais sustentável nas empresas.

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