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Chuvas extremas atrapalham reação do polo gesseiro de Pernambuco

Maior polo gesseiro do Brasil enfrenta período chuvoso atípico que atrasa a produção nas lavras e nas empresas

Por Kleber Nunes

Chuvas prejudicam a extração nas minas de gesso – FOTO: Vera Cruz Comunicação

Após se recuperar, relativamente de forma rápida, dos impactos econômicos da pandemia da covid-19, o polo gesseiro do Araripe, no sertão de Pernambuco, se deparou, em junho e neste mês de julho, com os efeitos da emergência climática. A chuva e o frio foram responsáveis por segurar a reação do setor que é responsável por gerar 6.000 empregos diretos e indiretamente outros 20 mil postos de trabalho nas cidades de Araripina, Trindade, Bodocó, Ipubi e Ouricuri.

Com os termômetros chegando a marcar 16ºC, mas com a sensação térmica abaixo disso, as minas de onde se extrai a gipsita, base para produção do gesso, funcionam em ritmo reduzido. A extração do minério é prejudicada porque o solo encharcado dificulta a circulação dos caminhões. Na outra fase da cadeia produtiva, o tempo frio atrapalha a secagem de produtos, como blocos e placas de gessos, impactando o varejo, que tem visto o estoque minguar, e o consumidor se afastar quando sente o aumento dos preços no bolso.

Antes o período chuvoso com pancadas moderadas se restringia a abril e maio, e outubro e novembro. “Fomos pegos de surpresa, agora não há solução a não ser esperar o tempo melhorar porque infelizmente não dispomos de tecnologia para a secagem dos produtos. A chuva é muito importante para o sertanejo, mas dessa forma constante e fora do padrão prejudica demais o polo gesseiro”, afirma o gerente regional da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), Hélio Rocha.

A preocupação do especialista não é à toa, o polo do gesso pernambucano é o maior do Brasil. Na área, estão instaladas 491 empresas ativas, sendo a maioria delas de fabricação de artefatos e pré-moldados (277), mas também com mineradoras e calcinadoras. Juntas são responsáveis por 1,7% do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado e por quase 50% da economia da região.

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Durante o período mais crítico da pandemia, o polo só foi afetado no fim de 2020 para início de 2021, ainda assim segundo Rocha, o impacto não foi tão grande “graças ao superávit de empregos” com recorde no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) durante o primeiro ano da pandemia todo. O gerente aponta que foram 1.800 novos postos de trabalho apenas na indústria de minérios não-metálicos, e 2.500 se consideradas a extração e a construção civil.

Diante da previsão de especialistas de que os eventos climáticos extremos tendem a se repetir com mais intensidade e em menor frequência, esse deve ser o primeiro e último ano que as indústrias de minérios não-metálicos vão apenas esperar a volta do sol. A Fiepe está preparando a abertura de editais, nos próximos dias, para atrair projetos de inovação que possam, por meio da tecnologia, levar soluções para a extração, armazenamento e produção do gesso no Araripe.

“A ideia é trazer inovação para as indústrias para, por exemplo, fazer com que o forno se transforme em um produto mais eficiente e, consequentemente, o empresário ganhe uma produtividade maior. Queremos também câmaras de secagem dos artefatos e um sistema produtivo com a introdução do conceito de indústria 4.0, essa filosofia inclui a inteligência artificial para a automação dos processos industriais de forma eficiente com o menor custo possível”, explica Rocha.

Infraestrutura logística é o gargalo do polo

Produção no polo gesseiro do Araripe perde competitividade pelos altos custos do frete – FOTO: Vera Cruz Comunicação

Toda logística em torno do gesso é 100% realizada por modal rodoviário. Os maiores consumidores do polo gesseiro são os estados do Sudeste e do Sul, e as regiões metropolitanas de Fortaleza, São Luís, Salvador e do Recife. Com exceção da PE 630, que liga Trindade a Ipubi, e as rodovias federais da região o restante da malha viária tem pontos críticos. Soma-se a isso os constantes reajustes do diesel e o gesso pernambucano acaba tendo um alto custo de produção.

De acordo com Hélio Rocha, o custo do frete já chegou a mais do que dobrar o preço do produto para o consumidor final. “Para se ter uma ideia, digamos que o custo de produção foi R$ 100,00 por causa dos gastos com frete o valor lá na ponta chegou a R$ 250,00”, calcula o gerente.

A invasão da Rússia à Ucrânia é o que tem feito com que o gesso que sai do Araripe tenha ainda alguma competitividade no mercado interno. Isso se deve ao fato da crise energética que a guerra provoca. Com a restrição de gás, os países europeus que produzem gesso precisam usar biomassa no seu processo e isso tem encarecido os seus preços.

“Antes tínhamos gesso da Espanha entrando no Brasil com preço menor do que o nosso. Barreiras foram levantadas, mas esse fantasma ainda nos assombra, porque a qualquer momento a situação da guerra pode se resolver e essas barreiras podem cair. O que o setor precisa é de investimento em infraestrutura, incentivos fiscais e combate à informalidade dentro do polo”, destaca Rocha.

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