Estaleiro Atlântico Sul agora é referência em reparo naval na América Latina

Apesar do bom resultado de sua nova estratégia de atuação, o EAS tem expectativa de voltar à construção naval em 2023 Por Patrícia Raposo Após enfrentar a tempestade que lhe levou a pedir Recuperação Judicial, o Estaleiro Atlântico Sul (EAS) começa a navegar em oceano azul. No último dia 20 de outubro, o EAS comemorou […]

Apesar do bom resultado de sua nova estratégia de atuação, o EAS tem expectativa de voltar à construção naval em 2023

Por Patrícia Raposo

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Após enfrentar a tempestade que lhe levou a pedir Recuperação Judicial, o Estaleiro Atlântico Sul (EAS) começa a navegar em oceano azul. No último dia 20 de outubro, o EAS comemorou o primeiro ano de sua nova atividade, o reparo de navios, e já se consolida como uma referência na América Latina para serviços dessa natureza, tirando, inclusive, clientes de estaleiros europeus.

Situado no Complexo Portuário de Suape, em Pernambuco, o estaleiro cumpriu, nos últimos doze meses, 13 contratos – cinco paradas técnicas e oito docagens (serviços mais longos)-, que o levaram a atingir sua capacidade máxima. Contando com apenas um dique, o desafio agora é aumentar a eficiência, reduzindo tempo dos processos, para ampliar capacidade de reparos.

Nicole Terpins, CEO do EAS/Fotos: divulgação EAS

Quando a CEO Nicole Terpins iniciou essa modalidade de serviços, seguindo o plano de Recuperação Judicial, o cenário nacional estava pouco promissor para construção naval. “Hoje está um pouco melhor, com crescimento nos setores de cabotagem, óleo e gás, de modo que, em 2022 talvez seja possível fechar alguns contratos para retornarmos à construção naval em 2023”, analisa a CEO.

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Mas isso vai depender de como o cenário regulatório vai se desenhar. “Vimos o Guedes (Paulo Guedes, ministro da Economia) promover a redução do imposto de importação e se isso continuar, com uma maior abertura ao mercado externo, é possível que não haja aquecimento de construção naval. Mas esperamos que o governo tenha mais sensibilidade”, apela.

Felizmente, a demanda por reparos tem estado alta e isso se deve a projetos represados em função da pandemia da covid-19, mas também, porque o EAS está se consolidando como referência no mercado latino-americano para esse tipo de serviço naval, região carente de estaleiros com essa finalidade. Nem mesmo os estaleiros cariocas podem ser considerados concorrentes, porque nenhum tem o porte do EAS.

Tem ajudado nesse processo a desvalorização do real frente ao dólar, já que o EAS concorre com estaleiros europeus. “Tradicionalmente não conseguíamos competir com o preço do exterior, mas fizemos um trabalho forte de produtividade, o que nos permitiu reduzir nossos preços”, explica a Nicole.

Para os armadores, além da economia gerada com a possibilidade de pagar pelos serviços em real, há ganho de tempo. Um dos grandes concorrentes do EAS é o estaleiro português Lisnave, que fica em Setúbal. Enviar um navio do Brasil para Portugal, consome 14 dias de viagem, de ida e vinda.  “É um custo expressivo. Os armadores sempre colocam na conta o quanto tem de economia em relação ao preço lá fora, mas, sobretudo, ao tempo que se gasta no processo, deixando de faturar”, diz a CEO.

Em dezembro, o estaleiro encerra o ano com um novo marco: vai atender ao primeiro contrato de embarcação offshore. Até agora, o EAS só tem contratos com embarcações para cabotagem. A nova linha de atuação trará encomendas bem mais lucrativas, o que refletirá no Produto Interno Bruto de Pernambuco.

No semestre passado, o PIB do estado fechou com alta de 5,8%, quando comparado ao mesmo período do ano anterior. O resultado foi puxado, principalmente, pelo setor da Indústria. Só em março, impactado pelas atividades do EAS, o resultado da produção industrial do estado alcançou 7% de crescimento sobre o mesmo mês de 2020, e isso graças ao setor de equipamentos de transporte, que avançou 39,5%, onde se insere o estaleiro.

“Neste primeiro ano, tivemos um crescimento maior que o esperado e num período curto de tempo alcançamos o máximo da nossa capacidade. Também chegamos aos principais armadores do Brasil”, relata Nicole.

Ela agora estuda passar a operar na retroárea para ampliar a capacidade do EAS , se libertando da dependência de dique e cais. “Vamos trabalhar com embarcações menores que podem ser içadas”, explica.

Em sua fase mais próspera, o estaleiro chegou a ter cerca de 3.500 funcionários. No auge da crise, quase zerou as contratações. Há um ano, contava com 350 colaboradores, mas, aos poucos vê crescer novamente seu time, e hoje já são quase 450 empregos diretos.

 O Plano de Recuperação Judicial do estaleiro prevê o pagamento de uma dívida de R$ 2,3 bilhões com os credores, com carência de três anos e prazo de outros 15 para reestruturação. Para voltar a trazer dinheiro ao caixa foi definido que o EAS atuará em quatro eixos: operação de reparos navais, renegociação das dívidas, projeto industrial com infraestrutura marítima e continuidade do modelo de negócios. O plano foi homologado judicialmente em junho.

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