Presidente do Sindusgesso-PE alerta que a competição com empresas que não pagam impostos estão puxando os preços do gesso para baixo
Etiene Ramos
Não é novidade que a pandemia do novo coronavírus afetou praticamente todos os segmentos econômicos, mas alguns, depois do primeiro impacto, foram fortalecidos. É o caso do polo gesseiro de Pernambuco, localizado no Sertão do Araripe, onde 469 empresas formais – de todos os portes – orbitam em torno das jazidas de gipsita que abastecem 95% do mercado nacional.
“No começo da pandemia, em março do ano passado, ficamos apreensivos com a necessidade de fechar e ter que demitir pessoal. Mas a partir de junho, começaram as demandas de gesso para obras rápidas em hospitais que precisavam atender os pacientes da covid-19. A situação foi se equilibrando e fechamos 2020 com um resultado melhor do que em 2019, ano em que a construção estava parada por causa da crise. Ao invés de demitir, algumas empresas até contrataram mais funcionários”, lembra a presidente do Sindicato da Indústria do Gesso de Pernambuco – Sindusgesso, Ceissa Campos Costa.
Este ano, apesar do cenário estável, ela prefere não fazer prognósticos, considerando quedas recentes na produção industrial de Pernambuco. De acordo com o IBGE, na comparação entre maio e junho deste ano, a redução no Estado foi de -2,8% e em relação a junho de 2020, de -2,7%. “Nós dependemos da indústria da construção civil e o gesso só entra na fase final das obras. Se a construção parar, vai ficar difícil”, explica a presidente.
Apesar do desenvolvimento que as jazidas de gipsita em pleno semiárido nordestino trouxeram para as cidades de Araripina, Ipubi, Trindade, Ouricuri e Bodocó, atraindo multinacionais como a francesa Lafarge Gypsum e o Grupo Etex, da Bélgica, para o polo gesseiro, a informalidade ainda é muito alta. Segundo Ceissa Costa, ela gira em torno de 50%, e só aumentou com a pandemia, trazendo mais problemas. “Não temos mais fiscalizações presenciais, só virtuais. Esperamos a volta dos órgãos ambientais e do Ministério do Trabalho para coibir o aumento da informalidade. Competimos com empresas que não pagam impostos e puxam os nossos preços para baixo. Só a Secretaria Estadual da Fazenda ainda faz autuações porque consegue comparar, por seus sistemas, as entradas e saídas de matéria prima e produtos e identificar a sonegação”, revela.
Lenha nova e gás a caminho
A ação dos órgãos de fiscalização ambiental e do trabalho vem forçando o polo gesseiro a adotar novas práticas. A lenha da Caatinga da região que há décadas é usada nos fornos das calcinadoras, vem dando lugar à madeira de eucalipto de manejo florestal, a maior parte da cidade de Regeneração, no Piauí, e de algumas empresas que já têm suas próprias área de manejo.
Mas a solução para gerar a energia que as fábricas precisam pode chegar em breve, em caminhões com gás da Golar Power, parceira da Companhia Pernambucana de Gás Natural (Copergás) no projeto dos corredores azuis que irão levar gás natural na rota Recife-Petrolina, cruzando todo o Estado de Pernambuco. Mas, para a presidente do Sindusgesso-PE, é preciso que o governo de Pernambuco conceda isenção do ICMS para o transporte de gás se tornar financeiramente viável.
“Estamos tratando do assunto na Câmara Setorial do Gesso, coordenada pelo governo estadual, buscando parcerias e a isenção para viabilizar o projeto piloto com a Golar e a Copergás. Se tivermos a isenção, o gás chegará ao polo gesseiro pelo mesmo preço do Terminal que a Golar vai implantar em Suape, no Grande Recife”, revela Ceissa Costa, destacando que o uso do gás também trará melhores condições às empresas do polo. “Vamos aumentar a qualidade e reduzir o esforço físico dos trabalhadores com a lenha, além de evitar a retirada de lenha”, completa.