Por Etiene Ramos
A pandemia do novo coronavírus vem provando que nem os segmentos mais robustos do setor de serviços conseguem passar por ela sem sequelas graves. Um dos mais afetados é o das academias que, em maio, registrou um faturamento 52% abaixo do esperado para o mês, segundo a 11ª Pesquisa de Impacto da Pandemia de Covid-19 nas Micro e Pequenas Empresas, realizada pelo Sebrae e a Fundação Getulio Vargas (FGV).
O índice estava 42% abaixo do normal na pesquisa anterior, em fevereiro. Com mais turbulências e restrições provocadas pela segunda onda da covid-19 no semestre passado, em maio, 72% dos empresários do segmento estavam em dificuldades para manter o negócio.
Vice-presidente da Associação Brasileira de Academias-Acad Brasil, Leonardo Pereira, calcula que entre 20% e 25% das academias, de todos os portes, encerraram suas atividades no país em decorrência do extenso período de fechamento das operações. “Fomos ainda mais atingidos pela distância de suporte das autoridades, que permanece e nosso setor continua desassistido”, lamenta.
Dono da segunda maior rede de academias próprias do Brasil, a Selfit, fundada no Recife há oito anos, Pereira e suas 72 unidades espalhadas no país não passaram incólumes à crise sanitária. “Fomos afetados, mas como estamos em vários estados, os níveis de intensidade foram distintos. No Norte e no Nordeste sofreram menos que São Paulo e Brasília, os mais penalizados. Nosso faturamento caiu entre 30% e 35% e reduzimos nossa força de trabalho de 15% a 20%”, declara o empresário.
A crise obrigou a Selfit a adotar um controle mais rígido dos recursos a fim de preservar o máximo de empregos e clientes. “Negociamos as debêntures emitidas no mercado e também com todos os nossos fornecedores. Paramos nosso processo de expansão em 2020, e estamos voltando com a abertura de quatro novas unidades até dezembro”, diz Leonardo Pereira, que programa investir R$100 milhões na rede Selfit até junho de 2022.
Duas das novas unidades serão em Salvador, na Bahia; uma em São Luís, no Maranhão; e uma no Recife, onde funcionava a imponente academia R2, em Boa Viagem, que fechou as portas em maio, mantendo apenas a unidade de Fortaleza, no Ceará.
Chance de expansão
Para as academias que resistirem à Covid-19, há um leque de oportunidades, modelos e regiões para serem explorados. Profissional de Educação Física e consultor em gestão de academias, Enoque Júnior, observa que a pandemia deixou muitas redes em dificuldades e, com isso, elas estão cada vez mais avaliando suas unidades para decidir quais irão permanecer. “Esse movimento ficou mais forte no último ano porque algumas academias terminam sugando recursos das outras e, com a crise, precisam ser fechadas”, explica.
Para o consultor, o Brasil é um mercado com chances de franca expansão porque 95% da população ainda está fora das academias. “O público está dividido entre as pessoas que sabem da existência das academias e consomem os serviços; as que sabem e não consomem, e as que não sabem e não consomem”, diz.
De olho neste cenário, a rede alemã Happy Fit desembarcou no Brasil há um mês, com um investimento de cerca de R$ 2 milhões, na cidade de Garanhuns, distante 200 quilômetros do Recife. O investidor, um empresário que prefere ficar no anonimato, segundo Enoque Júnior, deixou de lado as capitais e escolheu Garanhuns por estar localizada numa região que vem crescendo com condomínios de casas fora dos limites do município e próxima de pelo menos 30 cidades. “A Happy Fit trouxe para o interior uma estrutura que só conheci em grandes centros como São Paulo, Rio de Janeiro ou Belo Horizonte, por um preço acessível, com uma estrutura diferenciada que vai da arquitetura aos equipamentos, todos de uma única marca, e os recursos humanos”, afirma o consultor que trabalha na implantação do empreendimento.