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Sem aval do ONS, Piauí abriga obras da 1ª usina de hidrogênio verde do NE

Solatio inicia na ZPE de Parnaíba o processo de instalação de empreendimento de R$ 27 bilhões, mesmo sem garantia de ligação ao sistema elétrico. Governador do Piauí, Rafael Fonteles, busca investidores árabes
Parque industrial da Solatio na Zona de Processamento de Exportação (ZPE) de Parnaíba Piauí hidrogênio verde
Máquinas já iniciaram trabalho de remoção da vegetação no local onde funcionará a usina de hidrogênio verde da Solatio. Foto: Divulgação

Enquanto 62 projetos de hidrogênio verde estão em desenvolvimento no Nordeste, segundo levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Piauí abriu caminho como o primeiro estado da região a iniciar efetivamente as obras de uma usina, mesmo sem o aval do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Imagens das máquinas em operação, limpando 154 hectares de vegetação, foram apresentadas pelo governador do estado, Rafael Fonteles, a investidores árabes interessados no empreendimento.

A empresa espanhola Solatio deu início à terraplenagem da área na Zona de Processamento de Exportação (ZPE) de Parnaíba, marcando a primeira etapa da implantação do parque industrial voltado à produção de hidrogênio verde e amônia. A previsão é que esta fase dure de seis a sete meses.

Com capacidade projetada para geração de 3 gigawatts (GW) anuais, a usina no litoral piauiense tem investimento orçado em R$ 27 bilhões e previsão de geração de 3 mil empregos diretos e indiretos.

O anúncio do avanço foi feito pelo governador do Piauí, Rafael Fonteles, na sexta-feira (30), durante encontro com investidores e representantes dos Emirados Árabes Unidos em Dubai. Segundo ele, as atividades seguem diretrizes ambientais rigorosas, com acompanhamento de engenheiros civis, agrônomos, biólogos e médico veterinário.

Durante o encontro, Rafael Fonteles ressaltou o impacto global do projeto. “É um grande projeto de transição energética, que impacta o mundo pela grandiosidade e pela descarbonização que ele vai proporcionar para o meio ambiente. E a ZPE de Parnaíba, o Piauí, o Nordeste, o Brasil sendo protagonista desse projeto, gerando trabalho, emprego e renda para o nosso povo”, afirmou.

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Parque industrial da Solatio na Zona de Processamento de Exportação (ZPE) de Parnaíba Piauí hidrogênio verde
Uiina da Solatio será implantada dentro da Zona de Processamento de Exportação (ZPE) de Parnaíba. Foto: Divulgação

Desafios de conexão elétrica

O projeto anunciado em Dubai refere-se à mesma planta da Solatio que, em abril deste ano, teve seu pedido de acesso à rede elétrica barrado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Segundo o parecer técnico do ONS, a conexão provocaria sobrecarga estrutural e riscos de colapso de tensão em subestações da região, agravados pela ausência de reforços previstos no curto prazo.

A decisão, posteriormente referendada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), segue a mesma linha de negativas aplicadas a outros projetos de grande porte no setor, como os da Casa dos Ventos, no Porto do Pecém (CE).

Mesmo diante da limitação de infraestrutura elétrica, a Solatio mantém o cronograma de implantação da usina e segue com a etapa de limpeza do terreno na ZPE, enquanto busca alternativas para viabilizar a futura conexão ao Sistema Interligado Nacional (SIN).

Governador do Piauí Rafael Fonteles investidores árabes
Durante missão do Consórcio Nordeste a países árabes, o governador do Piauí, Rafael Fonteles, apresentou o projeto da Solatio. Foto: Juliana Oliveira/Governo do Piauí

Investidores árabes veem potencial no projeto

O presidente da Solatio, Pedro Vaquer, destacou a relevância da iniciativa, que classifica como o maior projeto de hidrogênio do mundo. “Hoje temos um momento simbólico para poder mostrar as obras começando, com a limpeza do terreno lá dentro da ZPE de Parnaíba. É um momento histórico, porque o que começou como sonho, há dois anos, agora se torna realidade”, disse.

Representantes de fundos de investimento árabes também demonstraram interesse. Segundo H.E. Mohammad Khalifa Al Qamzi, representante de investidores da região, o projeto tem grande potencial. “Fiquei muito feliz e estou ansioso para visitar a instalação para avançarmos, porque eu vi ali um grande potencial e tenho clientes que querem investir nesse projeto”, afirmou.

Etapas e sustentabilidade

De acordo com Pablo Aguiar, engenheiro da empresa contratada para realizar a supressão vegetal, a limpeza da área está sendo conduzida com diversas medidas ambientais.

“Dentre as ações utilizadas, estão o uso de sons para afugentar animais, paralisação imediata em caso de identificação de ninhos ou tocas ativas, preservação total de espécies ameaçadas, registro de todos os animais resgatados, coleta de mudas e preparo de viveiros para o remanejo adequado da flora, além do isolamento da área para proteger a população de qualquer tipo de acidente”, explicou.

Capacidade e mercado

A produção de hidrogênio verde será destinada, principalmente, aos mercados europeu e asiático, que apresentam demanda crescente por combustíveis sustentáveis. O projeto integra a Missão 5 do programa federal Nova Indústria Brasil (NIB), que prioriza bioeconomia, descarbonização e segurança energética.

A autorização para instalação do projeto na ZPE de Parnaíba foi assinada em março deste ano pelo vice-presidente da República e ministro da Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin. A empresa também obteve licença prévia da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Piauí (Semarh).

Crescimento do setor no estado e no Nordeste

A indústria de hidrogênio verde é considerada uma solução estratégica para a redução de emissões de carbono, utilizando fontes renováveis. O Piauí, com seu potencial em energia solar e eólica, tem se consolidado como um dos principais polos de produção de energia limpa no Brasil.

No cenário regional, o Nordeste concentra a maior parte dos projetos em desenvolvimento no país. Dos 62 projetos atualmente mapeados na região, 40 estão no Ceará, seguido pelo Rio Grande do Norte (5), Pernambuco (4), Bahia (3), Piauí (3), Maranhão (2), Alagoas (2), Paraíba (1) e Sergipe (1). No Piauí, além da usina em Parnaíba, outros projetos estão em fase de estudo, fortalecendo a participação do estado no mercado global de energias renováveis.

*Com informações do Governo do Piauí

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