Exportações do Nordeste despencam em 7 estados: descubra por quê

Exportações do Nordeste caíram 8,7% em abril, na contramão do Brasil, que registrou alta de 14,1%
Exportações do Nordeste: Sthefany Miyeko, da Fiepe, explica o que aconteceu em Pernambuco
Exportações do Nordeste: Sthefany Miyeko destaca importância do fator Argentina na queda dos embarques em Pernambuco/Foto Jhonatas Guedes (Fiepe)

As exportações do Nordeste tiveram queda em abril passado comparado ao mesmo mês de 2023 em meio a um ciclo conturbado na economia mundial, marcada por guerras, inflação resistente nos Estados Unidos, juros altos nos países desenvolvidos e uma crise resiliente na Argentina. Houve desaceleração em sete estados, consolidando a má fase da região no comércio exterior.

Ao todo, as exportações do Nordeste, no mês passado, chegaram a US$ 1,7 bilhão – diminuição de 8,7% na comparação anual – e o déficit na balança comercial nordestina atingiu US$ 735 milhões. Os números são do Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

Esses dados estão na contramão do país, ja que, em abril, os embarques do Brasil totalizaram US$ 30,9 bilhões, alta de 14,1% no compartativo anual. No primeiro quadrimestre, o país bateu record em relação aos anos anteriores, cravando US$ 108 bilhões.

PE, CE e BA foram decisivos para recuo nas exportações do Nordeste

Os três estados nordestinos mais ricos e que lideram as exportações do Nordeste – Bahia, Ceará e Pernambuco – deram uma contribuição importante para o resultado regional. As empresas pernambucanas registraram o maior recuo nesse grupo, de 21%. As companhias cearenses tiveram retração de 17,4%.

Na Bahia, a redução foi bem menos acentuada, 1,2%, mas dá continuidade a uma curva descrescente que vem se mantendo desde o ano passado, com alguns períodos isolados de recuperação.

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Em Alagoas, a oscilação negativa no comparativo anual foi de 6,7%. Na Paraíba, a federação estadual das indústrias informa uma baque de 30,1% no primeiro trimestre de 2024, comparado ao mesmo período de 2023. Em Sergipe, o setor fabril reporta uma diminuição na receite de exportação de 10% em abril comparado ao mês anterior.

No Piauí, houve reação na passagem de março para abril, com crescimento de 65,5%, mas o resultado em relação ao mesmo mês do ano passado é negativo (37,2%), o que equivale a um tombo superior a 1/3 sobre o faturamento total dos embarques. Os dados do Maranhão não foram divulgados.

Exportações do Nordeste: em Pernambuco, Stellantis sofre os efeitos da crise argentina
Marcha a ré nas exportações do Nordeste: Stellantis Goiana (PE) sofre os impactos continuados da crise argentina/Foto: Stellantis

Exportações do Nordeste: entenda a desaceleração em PE

Em Pernambuco, o valor das exportações em abril foi de US$ 129,2 milhões, queda de 14% sobre março, segundo a federação estadual das indústrias.

A coordenadora do Centro Internacional de Negócios da Fiepe, Sthefany Miyeko, afirma que a performance negativa no mês se deve em grande parte ao desempenho da indústria automobilística que, no estado, tem como maior player a Stellantis.

Impactado pela crise no país vizinho, que é um dos seus principais importadores, o setor apresentou uma queda de 78% nas vendas de veículos e autopeças para a Argentina. Outra contribuição veio do agronegócio. “As exportações de uva para o Canadá tiveram uma baixa de 79%”, diz a especialista em Relações Internacionais.

O resultado de Pernambuco no comércio exterior só não foi ainda pior porque a indústria automotiva e de autopeças local desloucou parte das suas vendas externas para o México. Com isso, o mercado mexicano foi o maior destino dos embarques do estado no mês passado (US$ 21 milhões).

Já no quadrimestre janeiro/abril, a desaceleração nas remessas da economia local para fora do Brasil chega a 17%.

Quais riscos e oportunidades para PE nas exportações do Nordeste?

Um dos fatores fundamentais para entender os números atuais das exportações de Pernambuco é a situação da Argentina, um dos maiores parceiros comerciais da economia estadual e destino de diversos produtos, entre eles os de alto valor agregado, leia-se automóveis.

Com a persistência da crise interna, a Argentina segue como a maior vulnerabilidade de Pernambuco no mercado externo. “Como alternativa para a queda das exportações para este país, a indústria automobilística vem diversificando o mercado e apostando em outros países latino-americanos, como o México e o Peru”, destaca Sthefany Miyeko.

A executiva também vê oportunidade para o crescimento nos embarques de produtos em ascensão na pauta de exportações pernambucana, como a água de coco. A bebida teve um aumento de 6,7% na receita dos embarques para os Estados Unidos, no primeiro quadrimestre do ano comparado ao mesmo período de 2023.

O problema é que se trata de um produto de baixo valor agregado, que não compensa retrações, por exemplo, nos embarques de automóveis, mas pode aliviar a baixa nas remessas de uva.

Exportações do Nordeste: ArcelorMittal Pecém enfrenta queda na demanda nos EUA e México
Exportações do Nordeste: queda na demanda nos Estados Unidos e México tem exigido nervos de aço da ArcelorMittal Pecém (CE)/Foto: ArcelorMittal

Exportações do Nordeste: Ceará tem queda em aço e calçados

No Ceará, um dos setores exportadores que vem sendo mais afetados pela conjuntura econômica global é o de ferro e aço, que tem como maior player no estado a unidade da ArcelorMittal no Complexo do Pecém.

As exportações do segmento totalizaram US$ 114,2 milhões de janeiro a abril de 2024, queda de 64,1% sobre igual quadrimestre em 2023. Em abril, a receita foi de US$ 26,4 milhões, 12,6% inferior à março.

O relatório Ceará em Comex, elaborado pelo setor industrial por meio da Fiec, aponta que “os declínios contínuos nos embarques da área acentuam os desafios enfrentados pelo setor, especialmente com a redução das importações pelos Estados Unidos e México”.

Os fabricantes cearenses de calçados também vivem dias difíceis no comércio exterior. As exportações somaram, no quadrimestre, US$ 77,5 milhões, 26,5% a menos que de janeiro a abril do ano passado. Em abril, a redução foi de 17% em relação a março. O baque vem sendo causado pelo fechamento de empresas importadoras de sapatos, na Argentina e Estados Unidos.

Petróleo, celulose e soja em baixa na Bahia

Na Bahia, petróleo, celulose e soja foram os maiores responsáveis pelo declínio das exportações em abril.

Em um ano, esses produtos tiveram um aumento de preços de 21% no comércio exterior, o que não foi o suficiente para compensar o tombo nos volumes destinados ao mercado internacional pelas empresas baianas. As informações são da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais (SEI).

Segundo a autarquia, o panorama, no primeiro quadrimestre (US$ 3,337 bilhões), é de estabilidade na receita, com um recuo discreto (0,2%) sobre janeiro a abril do ano passado.

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