
Os desafios para o País continuar crescendo em 2025 passam principalmente pelo controle da inflação e redução da taxa de juros, segundo a opinião de três economistas consultados pelo Movimento Econômico. Como já é senso comum, este ano deve ter um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) menor do que os 3,4% que ocorreu em 2024, anunciado na sexta-feira (7) pelo IBGE.
A previsão da Secretaria de Política Econômica, do próprio Ministério da Fazenda, é de que o PIB brasileiro apresente um crescimento de 2,3% este ano. Dentro deste cenário, o economista da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe) Cezar Andrade argumenta que “o problema em usar a taxa de juros para conter a inflação elevada é reduzir o consumo das famílias, aumentar o preço do crédito, diminuindo também os investimentos das empresas”.
No ano passado, uma das coisas que puxou o crescimento do PIB foi justamente o consumo das famílias que impactou setores como o de serviços e a indústria com incrementos, respectivamente, de 3,7% e 3,3%. “Em 2024, o consumo das famílias aumentou em decorrência da taxa de desocupação que diminuiu”, cita Cezar.
Ele também acredita que a retirada da taxa de importação de nove produtos anunciadas, na quinta-feira (06), pelo governo federal pode não surtir o efeito desejado de conter a inflação e impactar, negativamente, alguns setores da indústria brasileira e pernambucana. “Estas medidas podem deixar o similar estrangeiro mais barato do que o nacional e prejudicar a indústria local. Por exemplo, em Pernambuco, temos muitas indústrias grandes e médias de massas e biscoitos. E o consumidor vai preferir o que tiver mais barato”, conta. Os produtos que vão ficar sem a taxação, devem ficar mais baratos ao consumidor final.
Entre os nove tipos de comida que vão ter a taxa de importação retirada estão: massas alimentícias, café, biscoitos, sardinhas, óleo de girassol, azeites, entre outras. “O governo federal abriu mão de receber receitas, quando precisa é diminuir os gastos”, comenta Cezar.
Ainda para conter a inflação, Cezar diz que a Fiepe defende que o governo federal deveria fazer um pacote fiscal robusto, que equilibre as contas públicas e diminua as despesas da União.

Até o cenário de guerra comercial que está se desenhando com a futura taxação de alguns produtos que o Brasil exporta, principalmente para os Estados Unidos, pode influenciar no crescimento do PIB brasileiro em 2025. “O aço é um dos produtos que deverá ser taxado pelos Estados Unidos. Estas taxações devem influenciar no resultado da indústria brasileira”, argumenta o economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Pernambuco (Fecomércio-PE) Rafael Lima.
Segundo o economista da Fecomércio, o impacto das taxações na indústria brasileira também pode trazer outro fator negativo: diminuição do emprego no setor, o que repercute no consumo das famílias, fazendo a economia crescer menos. A redução da desocupação foi uma dos fatores que puxou o crescimento da economia para cima em 2024, segundo informações do IBGE.
“A nossa expectativa é de que estas futuras taxações sejam uma nova forma de negociar e não se perpetuem por muito tempo com os países em desenvolvimento. Os Estados Unidos exportam muito para Índia, Brasil e México, que são grandes mercados consumidores. Se os produtos destes países forem taxados, naturalmente vão ser taxados também os produtos norte-americanos. Numa guerra comercial não há vencedores, ambos os lados saem perdendo”, enfatiza Rafael.
Ainda envolvendo o cenário internacional, Rafael lembra que o Brasil não é autossuficiente em produtos como derivados de petróleo, gás natural, que devem ter aumento de preços por causa de guerras e instabilidade, entre outros. A história recente do País mostra que o aumento do preço dos combustíveis resulta em aumento da inflação no Brasil.
Já o setor agropecuário deverá ter uma safra mais otimista em 2025 e ser um dos responsáveis pelo crescimento do PIB do País este ano. No ano passado, a atividade decresceu 3,2% devido aos impactos climáticos que diminuiu a safra, como ocorreu com a soja.
Os juros e o futuro crescimento da economia
Rafael argumenta que “os juros só devem estagnar – ou pararem de aumentar – depois que houver uma estabilização da inflação”. E lembra que o desemprego voltou a acelerar no final de 2024. “Isso faz o consumo das famílias cair pelo efeito renda”, constata. E, não por coincidência, o último trimestre de 2024 foi o que menos cresceu, registrando uma alta de 0,2%.
Economista e professor do Centro Universitário Tiradentes (Unit-PE) Paulo Alencar argumenta que o Banco Central não vai mais precisar aumentar a taxa básica de juros, a Selic, porque o consumo já caiu desde o final de 2024 e isso vai segurar a inflação. “O que o governo federal deve fazer é estimular o consumo com a redução de alguns tributos e diminuir também os impostos sobre os itens da cesta básica, fazendo parcerias com os Estados para diminuir o ICMS”, alega.
“O governo está atacando a inflação dos alimentos porque ela foi o dobro do IPCA em 2024”, explica Paulo. Usado para medir a inflação oficial do País, o IPCA ficou em 4,83% no ano passado, enquanto a alta dos preços dos alimentos alcançou 8,13% no mesmo período. “Quanto menor a inflação mais o país decola em setores como os serviços, que geram emprego e renda”, comenta.
A expectativa do professor é de que o governo mantenha os juros e começe a diminuir a taxa Selic no início do segundo semestre, caso perceba que a inflação está controlada. Com a inflação em alta, todos perdem poder de compra, afetando mais as pessoas de baixa renda que usam uma parte significativa do salário para comprar alimentos.
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