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Quem foi ao supermercado nas últimas semanas percebeu o aumento significativo no preço do café, a segunda bebida mais consumida pelos brasileiros, ficando atrás apenas da água. O impacto no bolso das famílias, especialmente as de baixa renda, tem sido evidente. Em alguns estados da região Nordeste, como o Rio Grande do Norte, o aumento chegou a 123% nos últimos 12 meses. O pacote de 250 gramas, que custava em média R$ 7,85 em janeiro de 2024, passou a ser encontrado por R$ 17,53, segundo dados do Instituto Municipal de Proteção ao Consumidor de Natal (Procon Natal).
No comparativo mensal, entre dezembro de 2024 e janeiro de 2025, o preço do café variou consideravelmente. Em Pernambuco, por exemplo, o valor médio do pacote de 250g aumentou 14,56%, passando de R$ 11,06 para R$ 12,67. A diferença de R$ 1,61 pode parecer pequena, mas para as famílias de baixa renda, essa variação é significativa, pois, somada a outros aumentos de preços, ela impacta diretamente o orçamento.
“Quando falamos de café, somado a outros itens, estamos nos referindo a produtos que pesam no bolso do trabalhador no final do mês. No caso do trabalhador de baixa renda, pesquisas mostram que, em média, 30 a 40% do salário é destinado à alimentação. Ou seja, o impacto do preço do café é maior para essa parcela mais humilde”, explica Edgard Leonardo, economista e consultor.
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Fatores que contribuíram para o aumento do preço do café
Diversos fatores têm impulsionado a alta no preço do café. Um deles são as questões climáticas que afetaram as lavouras de café. O clima severo de 2024, com períodos prolongados de altas temperaturas e secas nas regiões produtoras, como Minas Gerais e São Paulo, prejudicou o desenvolvimento dos grãos, impactando diretamente a produção.
Além disso, o cenário geopolítico também tem pressionado os preços do café. A crise no Oriente Médio e os ataques no Canal de Suez dificultaram a logística global, impactando a exportação do grão. Com o aumento do tempo de transporte e a escassez de contêineres, os custos de embarque do café aumentaram, elevando os preços internacionais do grão.
O aumento da demanda, tanto no Brasil quanto no exterior, também contribui para a elevação do preço. A bebida, que é a segunda mais consumida no Brasil, teve um crescimento de 1,1% no consumo entre janeiro e outubro de 2024, segundo a Abic.
Ao mesmo tempo, a China aumentou suas importações do grão em cerca de 17% ao ano, o que, apesar de representar uma oportunidade para os produtores brasileiros, pressiona a oferta interna e contribui para o aumento no preço do café no mercado nacional.
“A nossa agricultura é extremamente internacionalizada. Uma vez que isso acontece, fatores como o câmbio afetam bastante o preço do café e de outros alimentos nos supermercados”, explica Breno Almeida, economista e vice-presidente da Fundação Perseu Abramo.
Preço do café continua a subir, prevê a Abic
A Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) projeta que o preço do café continuará a aumentar nos próximos meses, com um possível acréscimo de até 25% nos supermercados. Em dezembro de 2024, o pacote de 1 kg de café estava sendo vendido por R$ 48,90.
De acordo com o presidente da Abic, Pavel Cardoso, esse aumento ocorre porque a indústria ainda não repassou totalmente os custos do café, que subiu 116,7% em 2024, comparado a 2023. A expectativa da Abic é que os preços melhorem no segundo semestre de 2025.
Preço do café deve diminuir somente em 2026
A previsão é que o preço do café continue elevado ao longo de 2025. A safra deste ano está projetada para ser 4,4% menor em relação à safra anterior, totalizando cerca de 51,8 milhões de sacas, conforme estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Somente em setembro, após o término da colheita da safra atual, será possível avaliar se haverá uma redução nos preços.
Contudo, há uma expectativa de que 2026 registre uma safra recorde de café, o que pode resultar em uma maior oferta e, consequentemente, impactar positivamente os preços nos supermercados, beneficiando os consumidores.
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