Uma parceria entre os governos Federal, Estadual, Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e a gigante do entretenimento, o Tik Tok, vai requalificar o Parque Memorial Quilombo dos Palmares, situado na Serra da Barriga, em União dos Palmares. O governo de Alagoas pretende, ainda, debater a viabilidade de inserir o local histórico dentro de um roteiro turístico para turistas de outros países.
A requalificação e reforma do parque começou a ser debatida nos últimos dias, com a realização de visitas técnicas no sítio arqueológico para construir um projeto de requalificação do local, que segundo a Secretaria da Cultura e Economia Criativa de Alagoas (Secult), deve ser lançado em novembro durante as comemorações do dia da Consciência Negra.
Outras ações foram lançadas esta semana durante evento que contou com a presença da ministra da Cultura Margareth Menezes, o presidente da Fundação Cultural Palmares (FCP), João Jorge Rodrigues, a secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do MinC, Márcia Rollemberg, o diretor do TikTok, Handemba Mutana, e outras autoridades locais.
Na solenidade foi apresentado o projeto para remodelação do Parque, que incluiu a reconstrução e redesenho das placas de sinalização, além da recuperação dos equipamentos de áudio, que contam com as vozes de personalidades negras como Djavan, Carlinhos Brown, Tony Tornado, Leci Brandão e a atriz e ialorixá Chica Xavier. A trilha sonora foi composta pelos maestros Almir Medeiros e Wilson Santos, da Orquestra de Tambores de Alagoas, com a participação especial de Leila Pinheiro.
Além das melhorias físicas, foi lançado o aplicativo Serra da Barriga, que oferece aos visitantes e àqueles que não podem visitar o Parque a oportunidade de conhecer sua história e obter informações detalhadas. O aplicativo também proporciona experiências interativas, permitindo que os usuários tirem selfies com representações dos guerreiros quilombolas Zumbi, Aqualtune, Dandara, Acotirene e Ganga Zumba.
“Estou presenciando aqui o retorno da esperança, porque a gente vê uma confluência do Governo Federal, Governo do Estado, Prefeitura, Sociedade Civil, iniciativa privada, movimentos sociais, que se unem em prol de reformular, em prol de fortalecer, em prol de preservar a memória, dessa história, desse lugar, e também de ampliar para o Brasil e para o mundo a reflexão de que a Serra da Barriga tem uma representatividade não só para o povo brasileiro, mas para o povo mundial”, disse a ministra Margareth Menezes.
A superintendente Perolina Lyra também reforçou a importância da parceria entre os diversos poderes. “Estamos hoje aqui numa demonstração clara da união e parceria de todos os poderes, mostrando mais uma vez que, unindo nossas forças, nós podemos e conseguimos colocar a Serra da Barriga num lugar de destaque, onde de verdade quem ganha é o movimento, a cultura e o estado de Alagoas”, destacou.
Para a secretária de Estado da Cultura e Economia Criativa, Mellina Freitas, a modernização é um marco na preservação e promoção da cultura e história afro-brasileira. “A modernização do Parque Memorial simboliza um compromisso com a valorização de nossa herança cultural. A iniciativa não é apenas uma reforma física, mas um ato de reconhecimento e respeito pela história e pelas lutas de nossos ancestrais. Utilizando a tecnologia como aliada, está sendo criada uma ponte entre o passado e o presente, proporcionando uma experiência imersiva e educativa para todos os visitantes. Este é um passo significativo para o fortalecimento do turismo cultural e o desenvolvimento sustentável da região, consolidando Alagoas como um verdadeiro guardião da memória e identidade afro-brasileira”, destacou.
Quilombo internacional
O vice-governador de Alagoas, Ronaldo Lessa, se reuniu na segunda-feira (27) com representantes da Fundação Palmares, Ufal e movimentos negros e debateu a internacionalização e a requalificação da Serra da Barriga, tendo em vista a importância do quilombo para a América e seu potencial histórico e cultural.
De acordo com o presidente da Fundação Cultural Palmares, João Jorge, o apoio do Governo de Alagoas é importante para contribuir com a divulgação da Serra da Barriga para outros países. “O objetivo é fazer da Serra da Barriga um lugar de referência da diáspora negra e contra a luta racial. No local já há até uma discussão para a produção de um filme internacional sobre a história de Zumbi dos Palmares e da Serra da Barriga”, ressaltou.
Parque Memorial Quilombo resgata história de resistência
O Quilombo dos Palmares, fundado no século 16, abrigava escravos que haviam escapado das capitanias da Bahia e de Pernambuco. No auge do século 17, esse refúgio chegou a abrigar até 30 mil pessoas, organizadas em diversos povoados conhecidos como mocambos. Entre os principais mocambos estavam Cerca Real do Macaco, Subupira, Zumbi e Dandara, sendo o maior deles habitado por aproximadamente seis mil pessoas, quase a população do Rio de Janeiro na época.
Esses mocambos formavam uma espécie de república, onde as decisões políticas eram tomadas coletivamente pelos líderes de cada mocambo em conjunto com o chefe supremo. Esta liderança foi ocupada inicialmente por Acotirene, seguida por Ganga Zumba e, posteriormente, por Zumbi.
Carregando todo o peso histórico e cultural, o Parque Memorial Quilombo dos Palmares foi inaugurado em 2007 e foi reconhecido como Patrimônio Cultural do Mercosul em 2017 e tombado pelo Iphan desde 1985. Ele é o pioneiro e único parque temático dedicado à cultura negra no Brasil.
Com sua atmosfera que recria a República dos Palmares, o maior e mais organizado quilombo das Américas, o parque encanta os visitantes como uma maquete viva que reconstrói as edificações mais emblemáticas do quilombo. Com paredes de pau-a-pique, coberturas vegetais e inscrições em banto e yorubá, é possível encontrar o Onjó de Farinha (Casa de Farinha), Onjó Cruzambê (Casa do Campo Santo), Oxile das Ervas (Terreiro das Ervas), ocas indígenas e Muxima de Palmares (Coração de Palmares).
Além das construções que refletem o modo de vida da comunidade quilombola, o Memorial oferece uma experiência sensorial completa, com pontos de áudio que narram aspectos da vida no Quilombo em quatro idiomas (Português, Inglês, Espanhol e Italiano). Entre os espaços estão Acotirene, Quilombo, Ganga-Zumba, Caá-Puêra, Zumbi e Aqualtune.
Os mirantes de Acaiene, Acaiuba e Toculo, estrategicamente posicionados, proporcionam vistas deslumbrantes da Serra da Barriga. Completando o ciclo de edificações simbólicas, o restaurante Kúuku-Wáana (Banquete Familiar) oferece pratos da culinária afro-brasileira, e o Batucajé serve como palco para manifestações artístico-culturais.
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