O crescimento de 2,9% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado foi muito maior do que as previsões pessimistas do final de 2022, ainda no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, quando se acreditava que o crescimento da economia ficaria entre 0,6% e 0,8% em 2023, primeiro ano do terceiro governo Lula (PT). A performance do ano passado ficou muito próxima da de 2022, quando a economia teve um crescimento de 3%.
Entre os que acreditavam nessa previsão menor, tinha de tudo: quem desconfiava que o PT e mais especificamente, o atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não conseguiria dar uma expectativa de estabilidade à economia, os que acreditavam que a inflação ia ultrapassar a meta e que a alta dos juros ia continuar paralisando a economia…
Primeiro, Haddad surpreendeu como ministro da Fazenda ao defender o controle dos gastos públicos, apesar das pressões políticas/populistas. Nesta semana que está acabando, ele foi elogiado até pela secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen pela aprovação de uma reforma tributária “histórica”. Este foi um dos lados da boa performance da economia.
Foi o terceiro ano seguido que o resultado do PIB foi melhor do que o esperado pelos economistas. O crescimento do PIB é importante, porque significa que as empresas estão produzindo mais, gerando mais empregos, o que faz aumentar a renda da população.
O que mais puxou o crescimento da economia em 2023, pra variar, foi um setor que o Brasil é muito competitivo: a agropecuária com uma alta recorde de 15,1%, o maior avanço desde o começo da série histórica iniciada pelo IBGE em 1995. Uma safra recorde de grãos de soja e de milho puxaram o crescimento do setor, que respondeu por um terço do crescimento da economia em 2023, segundo a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis. Nada de novo sob o sol, mas é bom ter um agropecuária pujante para puxar a economia, trazendo impacto às exportações, que aumentaram 9% e, mais discretamente, também à indústria de alimentos.
Depois da agropecuária, outro setor que impactou o resultado do PIB foi a indústria extrativista com um aumento de 8,7% da sua produção, que inclui setores como petróleo, gás natural e minério de ferro. O Brasil continua sendo o País das commodities. O ideal, segundo os economistas, seria vender ao exterior, produtos de maior valor agregado, como fazem os países mais desenvolvidos.
O controle da inflação influenciou o resultado do PIB de 2023. “Também foi importante o arrefecimento da inflação. Juntando o aumento da massa salarial e a renda das transferências do governo, sobrou uma massa de recursos na mão das famílias que propiciou o aumento do consumo”, resume Rebeca Palis. O consumo das famílias cresceu 3,1% no ano passado.
A parte ruim dos números de 2023. A formação bruta de capital fixo, ou seja os investimentos caíram 3% no ano passado. Como diz a jornalista Miriam Leitão, “isso traz uma preocupação para o futuro”. Investimentos apontam para aumento da produtividade e um crescimento sustentável a longo prazo, o que o Brasil continua precisando. Em outras palavras: um nível baixo de investimento, limita o crescimento. Entre outras coisas, isso significa que o atual crescimento está longe de ser sustentável.
E, para 2024 ? A previsão é de um crescimento de 2% do PIB. Os juros estão caindo, está ocorrendo uma recuperação da renda dos brasileiros… Pode ser que este crescimento de 2% “seja melhor” como afirmou, na sexta-feira (1º), o ex-secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida. Ele aponta que a continuidade deste cenário vai resultar num crescimento mais bem distribuído. É tudo que o Brasil precisa, crescer de uma forma que a geração da riqueza seja mais distribuída.
E existem vários projetos que vão tramitar no Congresso que podem ajudar nisso: a regulamentação de reforma tributária, a pauta verde, que inclui os combustíveis do futuro, a regulamentação dos projetos que definem regras para a captura ou emissão de carbono, entre outros.
E, por último, vale um depoimento de Fernando Haddad ainda sobre a performance do PIB: “Precisamos de investimento para fazer a economia rodar. No ano passado, não foi o investimento que puxou o crescimento. Nós queremos criar um ambiente de negócios necessário para que o empresário invista fortemente, porque é esse investimento que melhora as condições econômicas. Porque com investimento você cresce sem risco inflacionário”. É isso!
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