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A indústria em Pernambuco registrou a maior retração na produção em todo o Brasil, entre os meses de agosto e setembro passado, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O recuo foi de 12%. O setor fabril da Bahia também teve desempenho negativo no comparativo mensal (-3%). Entre as maiores economias do Nordeste, apenas o Ceará registrou crescimento na passagem de um mês para o outro (2,2%).
Na edição mais recente da Produção Industrial Mensal Regional (PIM Regional), pesquisada pelo instituto, Pernambuco aparece à frente, em termos negativos, entre os 15 locais analisados. Entre as regiões com pior desempenho, é seguido pelo Amazonas (-6,1%), Rio Grande do Sul (-5,4%) e Região Nordeste (-5,2%). O estado apresentou desacelaração em seis das 12 atividades que integram o estudo.
Indústria de Pernambuco amplia desaceleração
A gerente de planejamento e gestão do IBGE em Pernambuco, Fernanda Estelita, avalia que “o resultado reafirma a tendência de desaceleração da indústria pernambucana“. “A queda observada em setembro é a mais expressiva desde abril de 2020, no início da pandemia de coronavírus. Alguns fatores conjunturais podem justificar este comportamento, como as dificuldades de crédito e as taxas de juros aos produtores, que, embora tenham começado a cair, ainda se mantém em patamares elevados”, explica.
Entre setembro deste ano e o mesmo mês de 2022, o volume de produção da indústria pernambucana também caiu. Houve retração de 4,6%, na contramão da média nacional (crescimento de 0,6%). Já no acumulado de janeiro a setembro deste ano, frente ao mesmo período de 2022, o resultado das indústrias pernambucanas foi praticamente estável, frente a uma leve queda de 0,2% na média nacional.
O coordenador do Núcleo de Economia da federação estadual da área fabril (Fiepe), Cézar Andrade, ressalta que os resultados do setor neste segundo semestre do ano vem surpreendendo a entidade pela tendência atípica do ponto de vista da sazonalidade.
“Tradicionalmente, no estado, o segundo semestre é melhor para o setor industrial que o primeiro. É o período em que começa a safra da cadeia sucroenergética e também há um aquecimento no segmento de alimentos. Além disso, já deveria estar acontecendo a produção de estoques para as vendas de final de ano, o que não vem se confirmando em 2023″, ressalta.
O especialista afirma que, entre os fatores que pode justificar esse ponto fora da curva, está a dificuldade de acesso ao crédito no segmento. “Nossa sondagem industrial trimestral mais recente aponta que os maiores desafios enfrentados pelo empresário industrial no estado são a obtenção de financiamento e a taxa elevada de juros. Os cortes recentes determinados pelo Banco Central na Selic ainda não tiveram impacto significativo no mercado”, avalia.

Indústria na Bahia confirma tendência negativa
Na indústria baiana, o resultado de setembro sobre agosto faz parte de uma sequência de taxas negativas. Em agosto, houve retração de 3,1% sobre julho. Na PIM de setembro, o estado apresentou queda em todos os indicadores. Na comparação entre setembro de 2023 e o mesmo mês de 2022, o recuo chegou a 9%.
No acumulado de nove meses deste ano, a queda é de 4,5%. Na análise dos últimos 12 meses, o IBGE aponta recuo de 5,9% no estado. A retração na atividade fabril local está relacionada à baixa na demanda de petróleo, químicos e petroquímicos e metalúrgicos no comércio exterior. As exportações baianas despencaram 26% de janeiro a agosto deste ano, no comparativo com o mesmo período do ano passado, influenciando negativamente a produção industrial.
A Bahia também sofre o impacto continuado do fechamento do complexo automotivo da Ford, em Camaçari, desativado em janeiro de 2021. O encerramento das atividades do polo automobilístico provocou um baque na indústria local – e na economia do estado como um todo – que só deverá começar a ser revertido com a entrada em operação da greentech BYD, em 2024. A montadora chinesa está se instalando no antigo parque da concorrente norte-americana.
Na visão da federação local do setor industrial (Fieb), outros fatores vem prejudicando a área fabril, especialmente a conjuntura macroeconomica adversa no país, com reflexos na Bahia.
“Os resultados da produção industrial revelam uma preocupante desaceleração na indústria nacional e baiana. O setor enfrenta desafios relacionados à competitividade, um sistema tributário complexo, altas taxas de juros e a consequente restrição no acesso ao crédito, fatores que tem piorado o seu desempenho. É crucial destacar a necessidade de reformas estruturais, como por exemplo a tributária”, destaca a instituição, por meio de nota técnica.
Ceará reage, mas não reverte queda
No Ceará, apesar da reação registrada na passagem de agosto para setembro, o setor também segue em desaceleração. Em setembro de 2023 comparado ao mesmo mês do ano anterior, a queda atinge 11,9%. No acumulado de nove meses deste ano, a retração é de 7,6% e, no acumulado de 12 meses, bate nos 8,5%.
Apenas 5 regiões tiveram crescimento no país
Em setembro, a produção industrial do país, segundo o IBGE, variou 0,1%, na série com ajuste sazonal, com taxas positivas em apenas cinco dos 15 locais pesquisados. A maior alta foi do Pará (16,1%), com Rio de Janeiro (3,1%), Ceará, Paraná (1,8%) e Goiás (1,2%) a seguir. Frente a setembro de 2022, a indústria cresceu 0,6% e foi acompanhado por dez dos 18 locais pesquisados. As maiores altas foram no Rio Grande do Norte (40,2%), Pará (14,5%) e Espírito Santo (14,2%).
No acumulado no ano, frente a igual período de 2022, houve redução de 0,2% na produção nacional. O acumulado nos últimos 12 meses mostrou variação nula (0,0%) em setembro.
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