No Brasil, a Stellantis vai lançar o seu primeiro modelo híbrido que utiliza sistema elétricos combinado com o uso do etanol em 2024. A ideia é que este primeiro modelo seja 100% nacionalizado e das marcas Fiat ou Jeep – ambas da Stellantis – e que lideram os maiores volumes de vendas, segundo o presidente da Stellantis para a América do Sul, Antonio Filosa.
Desenvolvida pela Stellantis, a tecnologia que vai fazer esta transição para o carro de emissão zero chama-se Bio-hybrid e é compatível com as linhas de produção das três plantas da empresa – Betim, em Minas Gerais; Porto Real, no Rio de Janeiro; e Goiana, na Mata Norte de Pernambuco.
Geralmente, a companhia faz investimentos antes de lançar um novo modelo. As unidades mineira e pernambucana estão recebendo um investimento de quase R$ 16 bilhões entre 2018 e 2025. “Boa parte disso já foi gasto. Temos muitos planos de investimentos para a fábrica de Goiana, mas não posso dizer quando nem tampouco quanto”, afirmou Filosa.
As soluções da Bio-hybrid são pelo menos quatro plataformas de mobilidade que serão aplicadas no Brasil, de forma gradativa, usando motores que vão usar a eletricidade e o etanol até chegar no veículo 100% elétrico, o BEV. “O bio-hibrído reduz o consumo do carro. E vai eliminar 80% das emissões nos primeiros dois minutos, quando são emitidos alguns dos gases mais nocivos ao meio ambiente”, explicou o vice-presidente de assuntos regulatórios para a América do Sul da Stellantis, João Irineu Medeiros.
No mundo inteiro, a adoção do carro elétrico está ocorrendo para diminuir os gases que contribuem para o aquecimento global, como o gás carbônico. Tanto os países como as empresas têm metas de reduções nas emissões de carbono. A da Stellantis é de diminuir em 50% as emissões de carbono até 2030 e 100% até 2038.
O caminho para a marca chegar nos veículos 100% elétricos – e sem emissão de carbono – vai ocorrer de forma gradativa no Brasil por, pelo menos, dois motivos. O primeiro é que o Brasil já possui um percentual alto de geração de energia limpa na sua matriz energética, o que resulta em menos emissões de carbono no processo de fabricação de todas as coisas, incluindo os veículos.
O segundo grande motivo é o etanol, um biocombustível produzido em larga escala no País que gera menos emissões. A emissão de carbono do etanol é compensada pelo plantio da cana-de-açúcar, matéria-prima do produto, segundo os diretores da empresa. “A cana-de-açúcar é uma reserva de energia, quando se fala de mobilidade”, comentou Filosa.
“O Brasil tem uma possibilidade única”, diz se referindo ao fato de que a solução híbrida pode deixar os carros emissões zero acessíveis à população, sem precisar de subsídios. Na Europa, governos como o da Noruega, estão subsidiando a aquisição do carro elétrico pela população.
Filosa argumenta que a solução híbrida “pode significar investimentos graduais, uma plataforma 100% localizada. Vai gerar riqueza para quem produz etanol, para os fornecedores que terão mais tempo para investir (e se adequarem) e também para os consumidores”. Estes últimos terão carros mais baratos do que os 100% elétricos que não apresentam a solução híbrida. E ele complementa: “é uma oportunidade de reindustrialização e de reconfiguração da indústria nacional de autopeças, que é diversificada, complexa e muito importante para a e economia brasileira”.
O desenvolvimento regional e a Stellantis
Uma das propostas da Tecnologia Bio-Hybrid, como afirmou Filosa, é a “descentralização das indústrias em todas as regiões para equilibrar a riqueza, melhorar a distribuição de renda e aumentar a demanda por carros”. Ele diz que a Stellantis “é a empresa que mais nacionaliza componentes da empresa e dos seus fornecedores”. Geralmente, um carro precisa de quatro mil componentes para ser montado e grande parte disso é produzida fora das montadoras, o que faz este tipo de empreendimento gerar um impacto grande em todo o entorno onde se instala.
Ao ser questionado sobre o fim dos incentivos fiscais para as montadoras, Filosa respondeu que este é um tema importante pra todas as regiões do Brasil e não sabe quando o governo federal vai decidir o término dos regimes de incentivos fiscais. “A gente entende que há muita falta de isonomia entre os territórios, sendo que em alguns há dificuldades estruturais maiores. Por exemplo, Igarassu não tem 5G nem 4G para a infraestrutura de dados”, comentou. A cidade de Igarassu fica próxima à fábrica da Jeep em Goiana.
O executivo argumentou também que a “infraestrutura física do Nordeste é carente por razões históricas e que agora seria a hora de acelerar também lá. O Brasil não pode se desenvolver só aqui (no Sudeste), mas tem que se desenvolver como um todo”. Para o executivo, é importante pensar em previsibilidade econômica “que significa ter rotas de competitividade para todos as regiões do Brasil, porque não é correto que Pernambuco viaje a 20 por hora, enquanto São Paulo viaja a 250 por hora. Estou falando de economia, porque em cultura e gastronomia Pernambuco é líder”.
Ainda no evento que a Stellantis realizou em Betim para apresentar as soluções da tecnologia Bio-Hybrid, Filosa afirmou que não se sabe ainda como o País vai “aceitar” os minérios que são usados na produção das baterias dos carros elétricos, como o lítio e outros. A América do Sul tem todos estes minerais. Isso significa que as fábricas de produção destas baterias poderiam ficar no continente dependendo da regulamentação que entrar em vigor no País e dos investimentos.
Quem é a Stellantis
Além das marcas já citadas acima, a Stlellantis possui mais 12 marcas de veículos, incluindo a Peugeot. Na segunda-feira, a companhia divulgou o balanço do primeiro semestre de 2023. No Brasil, a montadora apresentou uma participação de 32,2% na venda de veículos. No mesmo período, a empresa consolidou a sua liderança no Brasil, Uruguai, Argentina e Chile. Em toda a América do Sul, a companhia comercializou 411 mil unidades nos seis primeiros meses deste ano.
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