Nesta quinta-feira (22), menos de 10 dias antes de tomar posse, o presidente eleito e diplomado, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou oficialmente os nomes de 11 futuros ministros e ministras de seu governo. Até então, já foram anunciados os nomes de comandantes de 21 das 37 pastas disponíveis, restando 16 ministros a serem confirmados nos cargos negociados, em maioria, com PSD, MDB, União, Rede e partidos do centrão.
Segundo o futuro presidente, o anúncio será feito na próxima terça-feira (27). “Quem tem expectativa, não perca. Tudo pode acontecer nos próximos dias”, brincou o petista. A maioria dos nomes indicados pertence à classe política, como o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, à frente do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, e a vice-governadora de Pernambuco e ex-prefeita de Olinda (PE), Luciana Santos (PCdoB), que comandará a pasta da Ciência e Tecnologia.
Formada em engenharia elétrica, Luciana também foi deputada federal e ocupa a presidência de seu partido, além de fazer parte do Conselho Político da Transição de governo. Ela já trabalhou como secretária estadual de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente na gestão do falecido governador Eduardo Campos, que também chegou a ser ministro da mesma pasta, ao lado de Lula.
“É uma honra! Um trabalho que assumo com muito compromisso e com muita disposição. Depois de quatro anos de negacionismo a Ciência vai voltar a ser prioridade nesse país”, comentou Luciana após o anúncio.
Dentre os escolhidos, destacam-se ainda as indicações do ex-governador do Piauí, Wellington Dias (PT), no comando do ministério do Desenvolvimento Social; o ex-governador do Ceará, Camilo Santana (PT), comandará o MEC; e o deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP) comandará a Secretaria de Relações Institucionais.
A indicação de Geraldo Alckmin foi elogiada pelo presidente do Sistema Fecomércio/Sesc/Senac PE e diretor da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Bernardo Peixoto dos Santos Oliveira Sobrinho. “É uma indicação muito importante, principalmente para um sistema como a Fecomércio. O Alckmin é um amigo da instituição. Na CNC, ele tem ligação direta com o presidente, doutor José Roberto Tadros, e também com o Sistema S, que ele conhece. Para nós do comércio, foi a melhor indicação até agora”, declarou Bernardo.
Questionado sobre a composição majoritariamente política do futuro governo, o presidente da Fecomércio argumenta que Lula está repetindo um erro ao aumentar o número de ministérios e não priorizar quadros técnicos.
“Um ministério com muita política não é tão bom. Espero que as negociações deem em coisas boas, que venha paz, trabalho, e desenvolvimento econômico. Ou ele [Lula] bota pessoas técnicas nos principais ministérios, fazendo um trabalho decente, ou a gente vai ladeira abaixo. Bolsonaro falava muita besteira, mas pelo menos botou um ministério mais técnico, aí funciona melhor”, opinou Bernardo, que aposta na independência do Banco Central para conter a inflação e os juros.
Já André Regis, professor de Ciência Política e Administração na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), afirma que o aumento do número de ministros significa um movimento de aproximação com o Congresso e com os partidos.
“O presidente tem clareza de que sua base de sustentação é pequena e procura ampliar seu apoio no Congresso distribuindo novos ministérios para os representantes de partidos e bancadas. A distribuição tem uma característica de atender a pleitos de partidos, como, por exemplo, Luciana Santos como ministra da Ciência e Tecnologia, representando a cota do PCdoB no governo”, disse o cientista político.
Escolhas difíceis
A busca de Lula por governabilidade fica explícita quando ele próprio afirma ser mais difícil montar um governo que vencer as eleições. “Nós estamos tentando fazer um governo que represente no máximo que a gente puder as forças políticas que participaram conosco da campanha. Quero dizer para os companheiros que ainda não foram contemplados que nós vamos contemplar as pessoas que nos ajudaram, porque somos devedores”, afirmou o presidente eleito.
Regis destaca a experiência política de muitas dessas pessoas escolhidas por Lula para comandar os ministérios e formar uma boa base de sustentação de seu governo e articulação política, impedir a eventual abertura de processos de impeachment e aprovar temas caros à agenda do presidente.
O professor destaca ainda que, apesar da tendência de Lula colocar políticos da região Nordeste em ministérios mais “sociais e representativos”, o eixo econômico foi praticamente concentrado na região de São Paulo, a exemplo do próprio vice-presidente, Geraldo Alckmin, e de Fernando Haddad, indicado à Fazenda, e Aloizio Mercadante como presidente do BNDES.
“Alckmin já ocupou uma pasta semelhante no plano estadual, no governo Serra. Colocá-lo nesta pasta, com a qual ele tem afinidade, significa que ele mudará de papel. Até então, ele atuou como interlocutor político na transição. A partir do momento em que ele se desloca, significa que a articulação ficará com o PT de Lula, e Alckmin terá menos protagonismo”, declarou André Regis. Por fim, o professor destaca que nenhuma das pessoas anunciadas até o momento esteve envolvida nos escândalos de corrupção descobertos durante os governos passados de Lula e Dilma.
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