Ceará quer começar a produzir hidrogênio verde até dezembro

O projeto de geração do hidrogênio Verde tem à frente o Instituto Avançado de Tecnologia e Inovação (IATI), de Pernambuco.

Por Kleber Nunes

Até dezembro, deve entrar em operação a primeira planta de hidrogênio verde do Ceará, com capacidade para produzir 250 m³ por hora do chamado “combustível do futuro”. O projeto tem à frente o Instituto Avançado de Tecnologia e Inovação (IATI), de Pernambuco, e está sendo implantado no Complexo Industrial e Portuário de Pecém, no Ceará. O empreendimento, que inclui a instalação de uma usina solar de 3 MW de potência, é um investimento de R$ 42 milhões e coloca o país na disputa pelo protagonismo nesse novo mercado global.

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O hidrogênio (H2) é o elemento químico capaz de se ligar a outros átomos do mesmo tipo, formando um gás versátil que pode ser utilizado em diversos processos. Deter essa tecnologia, no entanto, é visto como solução para os problemas de energia que a humanidade já enfrenta diante da emergência climática. Quando queimado de maneira controlada, o H2 oferece o combustível limpo, produzindo apenas água como resíduo, nesse caso é comumente chamado de “hidrogênio verde”.

Porto de Pecém
Planta no Porto do Pecém conta com apoio do Gesel e UFRJ/Foto: reprodução do site oficial

O H2 verde é obtido a partir da eletrólise que, em suma, é o processo de utilização da corrente elétrica na água para separar o gás das moléculas de oxigênio. Se esse procedimento ocorrer com uso de energia limpa, ou seja, sem a emissão de dióxido de carbono, como já acontece nos laboratórios do projeto em construção no Porto de Pecém, tem-se o H2 verde.

“Estamos desenvolvendo equipamentos para que o hidrogênio verde que vamos produzir a partir de dezembro seja utilizado nas caldeiras da termelétrica da EDP Brasil [parceira do projeto], enriquecendo o diesel e fazendo com que ele seja completamente consumido aumentando, assim, a eficiência e reduzindo a emissão de gases poluentes”, explica o diretor-presidente da IATI, Guilherme Cardim, em entrevista ao Movimento Econômico.

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A planta de hidrogênio verde no Ceará conta com o apoio do Grupo de Estudos do Setor Elétrico, Gesel, da Universidade Federal do Rio Janeiro (UFRJ) que estuda a viabilidade econômica, setorial e mercadológica da usina. Outra parceira da IATI é a Hytron, empresa que nasceu dentro da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e desenvolve os equipamentos para a eletrólise. Juntas com a EDP Brasil buscam implantar no Ceará o hub do H2 verde.

Na disputa por esse mercado emergente, o IATI também encabeça dois projetos no Complexo Industrial e Portuário de Suape, em Pernambuco. Um deles, o pioneiro do instituto, há três anos, gera H2 verde em um laboratório na Termelétrica Energética Suape, parceira do negócio.

De acordo com Cardim, a experiência mostra uma redução de 15% no consumo do diesel e de mais de 25% nas emissões de gases poluentes. Esta primeira etapa recebeu um aporte de R$ 4 milhões. O próximo passo é implantar esse sistema em um dos motores da usina.

Plantas de eletrólise

Assim como em Pecém, o outro empreendimento do IATI, no Porto de Suape, prevê a implantação de plantas de eletrólise na Termopernambuco, com investimento na ordem de R$ 18 milhões, que também conta com a parceria da Hytron. Embora seja menor do que a experiência cearense (10 m3/h de H2 verde produzido com uma usina solar de 120 KW de potência), a iniciativa do instituto na termelétrica segue uma tendência mundial que é a substituição do H2 cinza – gerado a partir da queima de combustíveis fósseis – pelo H2 verde.

“Hoje a Termopernambuco usa o hidrogênio cinza para esfriar as turbinas de geração de energia elétrica. A gente vai substituir pelo hidrogênio verde. Esse deve ser o primeiro mercado do H2 verde, ao invés de está buscando novos usos para ele como em veículo, a gente deve substituir o cinza que é largamente usado no mundo”, destaca Cardim.

Guilherme Cardim
Guilherme Cardim/Foto: Silvio Melo/Iati Divulgação

A Agência Internacional de Energia (AIE), ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), estima que substituir todo o H2 cinza mundial significaria 3.000 TWh renováveis adicionais por ano, algo similar à demanda elétrica atual na Europa.

Outra novidade na parceria do IATI com a Termopernambuco será o experimento do H2 verde como combustível para empilhadeiras. “Outro mercado absurdo, porque geralmente essas empilhadeiras têm baterias de lítio e são carregadas com energia de fontes não renováveis, imagina quantas máquinas dessa existem no setor logístico em todo o mundo né? Serão equipamentos com célula-combustível que vai pegar o hidrogênio e converter ela em energia elétrica”, diz Cardim.

Os empreendimentos do IATI devem se somar ao TechHub Hidrogênio Verde de Suape, que foi lançado no mês passado pela CTG Brasil em parceria com o Departamento Nacional do Senai, Senai Pernambuco e Governo do Estado. A iniciativa concentrará no terminal a implementação de projetos de inovação focados na produção, transporte, armazenamento e gestão de H2 verde. Juntos, os projetos receberão inicialmente investimentos de até R$ 45 milhões. O IATI ainda conduz outro projeto para o desenvolvimento do novo combustível no Porto do Açu, no Rio de Janeiro.

Desafios

Com o barateamento da produção das energias renováveis, como solar e eólica, o H2 verde também teve queda no custo de sua geração, mas ainda, conforme Cardim, não é competitivo se comparado, por exemplo, ao H2 cinza. Este custa de US$ 1 a US$ 2 por quilo, enquanto que o hidrogênio limpo tem a mesma quantidade comercializada no mercado por US$ 4 até US$ 8.

“A busca de todo mundo hoje é para reduzir os custos que começam na produção, mas segue em toda longa cadeia, pois há o armazenamento, o transporte até a aplicação final do hidrogênio. Há também a necessidade de se aumentar a eficiência dos eletrolisadores. As projeções é que até 2030 a gente tenha o hidrogênio verde na faixa de competitividade, eu sou otimista e acredito que será bem antes disso”, afirma Cardim.

Outro ponto urgente, na opinião do diretor-presidente do IATI, é a regulação do mercado e o incentivo. “Faltam regras claras de mercado e de mecanismos de financiamento para essas tecnologias. A gente quer descarbonizar, mas em algum momento alguém precisa colocar a mão no bolso, afinal de contas, não é mais uma escolha é uma necessidade do nosso planeta a descarbonização”, destaca Cardim.

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