Por Juliana Albuquerque
O que começou como uma tensão diplomática, se consolidou em conflito armado no início da madrugada desta quinta (24), com o início do ataque da Rússia à Ucrânia. As consequências dessa guerra podem impactar economicamente não apenas os países diretamente envolvidos, mas toda a economia global, inclusive o Brasil.
“Considerando o modelo global de comércio internacional, onde basicamente não existem fronteiras, todo tipo de conflito gera uma grande instabilidade. A depender do impacto dessa guerra, as consequências sobre a confiança econômica podem ser grandes e se estenderem por vários meses, o que reduz bastante as perspectivas de crescimento econômico do Brasil”, avalia o economista Werson Kaval, que também é professor de pós-graduação do Centro Universitário Tiradentes (Unit-PE).
Segundo Kaval, como a Rússia é um dos maiores produtores de petróleo do mundo, com capacidade para produzir diariamente mais de 10 milhões de barris, o conflito armado iniciado deve fazer com que o valor do commodity dispare, com impacto quase que direto no Brasil.
“A Petrobras adota a paridade internacional no valor do petróleo; então, é até que natural que os consumidores brasileiros esperem novos aumentos nos combustíveis em breve”, afirma o economista, que adverte que o movimento de alta já teve início na manhã desta quinta (24), quando o preço do barril de petróleo, que já vinha aumentando com a perspectiva de acirramento do conflito, passou dos US$ 100 dólares, maior valor dos últimos sete anos.
De acordo com o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo de Pernambuco (Sindicombustíveis-PE), Alfredo Pinheiro Ramos, não há dúvidas que haverá aumento.
“Com o barril de petróleo a cem dólares, a diferença de preço passa dos R$ 0,60 na gasolina e dos R$ 0,40 no preço do diesel. Por isso, acreditamos que a qualquer momento a Petrobras irá disparar o gatilho e aumentar o valor do preço do combustíveis”, analisa Ramos.
Guerra pode provocar alta no preço do gás natural na Europa
Segundo Werson Kaval, cerca de 40% do Gás Natural (GN) que abastece o continente europeu é fornecido pela Rússia. Com o conflito armado, é praticamente impossível que o fornecimento não seja interrompido.
“A guerra pode interromper o fornecimento do gás natural russo e forçar os países europeus a buscarem novas fontes, o que torna o produto mais caro, pois a oferta tende a diminuir e aumentar a demanda. Esse movimento pode afetar os preços internacionais como um todo. Esses efeitos podem chegar a economia brasileira, com aumento da inflação em resposta à alteração entre oferta e demanda no mercado internacional”, explica o economista.
Conflito pode atrair investidores para o Brasil
O fluxo de capitais no mercado financeiro pode migrar para outros países, incluindo o Brasil. “Os investidores estrangeiros têm uma necessidade de buscar segurança para investir. Dentro dessa linha [de pensamento], entendemos que no Brasil haja um grande movimento de entrada de moedas estrangeiras atualmente, o que fortalece nossas reservas, o que leva a uma relativa queda da cotação do dólar, como a da última quarta (23), quando a moeda americana fechou abaixo de R$ 5”, argumenta o especialista Kaval.
Para Alexandre Brito, gestor e sócio da Finacap Investimentos, realmente pode existir uma entrada de ativos estrangeiros no Brasil, especialmente por um aumento do preço dos commodities no mercado internacional e por uma procura por um mercado mais seguro.
“Essa entrada do investidor estrangeiro beneficia diretamente a Petrobras e a nossa Bolsa de Valores e já estava acontecendo mesmo antes do conflito se intensificar e o preço do barril de petróleo disparar. Somente nesses dias de fevereiro já são mais de R$ 50 milhões de entradas líquidas de investidores estrangeiros na bolsa”, afirma Brito.
Além da alta no preço das commodities, segundo Xavier, a taxa básica de juros (Selic) brasileira, hoje em 10,75% ao ano, é outro atrativo para investidores que aplicam em mercados emergentes. O analista avalia que no curto prazo o dólar deve ter uma valorização.
“A tendência é que se observe um aumento do dólar, porque o investidor tende a ser avesso aos riscos. Então, no curto prazo, haverá uma injeção de ativos nos Estados Unidos, com consequente valorização do dólar”, complementa.
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