Por Samuel Santos
O que parecia ser a retomada para o setor de entretenimento virou pesadelo, e pelo segundo ano seguido. O agravamento da pandemia do novo coronavírus redundou no cancelamento de festas ligadas ao Carnaval em Pernambuco. Empresários da cadeia produtiva do turismo e entretenimento já estimam prejuízos e um adiamento da tão esperada retomada do setor. Mesmo adotando a política de remarcação dos eventos, produtores já avaliam um prejuízo inicial na casa dos 20%.
Prévias e camarotes estão sendo cancelados e outros eventos e shows reagendados. A medida prejudica diretamente produtores, fornecedores e trabalhadores informais, já que os negócios do Carnaval praticamente pararam nesses últimos dias.
A Carvalheira, que já estava com a estrutura montada para os quatro dias de festa, precisou mudar os planos. Em nota, a direção do bloco “Carvalheira na Ladeira”, que no carnaval de 2020 reuniu cerca de 8 mil pessoas, anunciou para o feriado da Semana Santa, no mês de abril, a tradicional maratona de shows e atrações.
“Com as novas medidas restritivas anunciadas pelo Governo de Pernambuco, não será possível realizar o Carvalheira na Ladeira nas suas datas originais. Mas estamos todos planejados, esperando a hora de levantar e montar esse festival, que é o maior orgulho dos 18 anos de história”, diz o texto.
Os empresários têm se esforçado para não precisarem devolver o dinheiro dos ingressos já vendidos, mas entendem que precisam conviver com a disponibilidade dos consumidores de aderirem às novas datas.
“Estamos remarcando a maioria dos eventos, dentro da nossa política de redução de danos, que prevê o agendamento para uma nova data no prazo de 90 dias. O cliente tem total direito de reaver o dinheiro do ingresso, caso queira. Esperamos, inclusive, que a festa seja remarcada, como sinalizou a Prefeitura do Recife”, destaca Waldner Bernardo de Oliveira, presidente da Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (Abrape-PE) e dono da Allticket.
Sem festa de rua e em camarotes, o turismo no estado também sai prejudicado. “O Carnaval é um período em que a gente recebe turistas do mundo todo. Não tínhamos uma perspectiva alta de abrigar viajantes internacionais este ano, mas contávamos com a presença maciça de visitantes de outras partes do país. Foi uma decisão difícil do governo estadual, que mexe com todo o trade turístico. Mas não tínhamos outra saída, já que existe uma perspectiva de aumento de casos [de Covid-19] nos próximos dias, antes de uma possível desaceleração [da pandemia]”, afirmou o secretário de Turismo de Pernambuco, Rodrigo Novaes, durante entrevista coletiva nesta quarta (09).
O titular da pasta não mensurou o tamanho do rombo que o cancelamento do ponto facultativo do Carnaval pode trazer para vários setores que dependem do turismo, mas deixou claro que o momento requer cautela.
“Realmente, o segundo ano sem Carnaval é um duro golpe para quem estava em um processo de retomada. A gente afeta essas pessoas de uma maneira muito cruel, mas foi preciso optar pela vida e assim foi feito. A gente sabe que a variante Ômicron não é tão ofensiva, mas se espalha muito rápido. Como os não vacinados não têm espírito de coletividade, tivemos que tomar essa decisão, que não nos agrada em nada”, ressaltou Novaes.
Hotéis devem ter prejuízo, mas ainda não estimaram volume de perdas
A rede hoteleira também enxerga o atual cenário com preocupação. De acordo com o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Pernambuco (ABIH-PE), Eduardo Cavalcanti, ainda não existe uma estimativa em números de prejuízo, mas os primeiros cancelamentos já começaram.
“A maioria dos hóspedes que vem para hotéis do litoral e interior tem como objetivo fugir do Carnaval. Então, sem o feriadão, essas pessoas ficam impedidas de vir. A gente já sente os cancelamentos de pessoas que alegaram que vão precisar bater ponto nos dias 28 deste mês e em 1º de março”, relata.
Segundo dados da ABIH-PE, até o anúncio do cancelamento, a expectativa de ocupação nos hotéis e pousadas de Porto de Galinhas, no Litoral Sul de Pernambuco, estava em 95% e, no Recife, 80%.
Em Gravatá, destino tradicional no Agreste, a ocupação de leitos esperada era de 85%.
“Com esse movimento em cima da hora tudo pode mudar. Primeiro tivemos o cancelamento das festividades de rua, que já é impactante para o turista que vem para capital; depois os eventos privados e agora o feriado. É certo que teremos perdas, mas ainda não sabemos o tamanho”, explica Cavalcanti.
Leia também – Governo de Pernambuco cancela o Carnaval