
Com mais de 800 produtores atuando na atividade e uma cadeia produtiva que movimenta mais de R$ 150 milhões por ano, Sergipe ocupa hoje o posto de quarto maior produtor de camarão em cativeiro do Brasil. Apesar de ser o menor estado do Nordeste em extensão territorial, tem se destacado no cenário nacional graças à sua vocação natural para a atividade aquícola, favorecida por fatores como as cinco grandes bacias hidrográficas e um litoral com áreas estuarinas e águas interiores de teor salino, ideais para a criação da espécie.
A produção sergipana é estimada entre 10 mil e 12 mil toneladas por ano, com base no consumo de ração, utilizado como principal indicador da atividade no Brasil, dada a informalidade predominante no setor.
“Sergipe se destaca não apenas pela produção em si, mas pelo modelo que adota. É um estado com forte presença de pequenos produtores, com áreas de cultivo abaixo de 10 hectares, o que torna a atividade socialmente importante e amplamente distribuída”, explicou o empresário e coordenador da Câmara Empresarial da Pesca e Aquicultura da Fecomércio Sergipe, Félix Lee. Segundo ele, Sergipe foi pioneiro na produção de ração exclusiva para camarão, com uma indústria instalada desde 1991.
O impacto econômico da atividade também é expressivo. Além de movimentar R$ 150 milhões, gera um número considerável de empregos em toda a cadeia — da produção de larvas ao beneficiamento e comercialização”, reforçou. Estima-se que cada hectare cultivado gere 1,5 emprego direto e até 7,5 empregos considerando toda a cadeia produtiva, o que coloca o setor da carcinicultura à frente de outras atividades, como a fruticultura da uva.

Grande parte do camarão produzido em Sergipe é destinada ao mercado de outros estados. Os principais compradores são a Bahia e Alagoas, além do Rio de Janeiro, que abriga o Ceasa fluminense — o maior mercado de pescado da América Latina. “Cerca de 60% da produção sergipana vai para o Rio, dada a tradição de consumo e a força do setor turístico”, afirmou.
Apesar do destaque no mercado interno, o camarão sergipano ainda enfrenta obstáculos para alcançar o mercado internacional. Entre as principais barreiras estão as restrições da União Europeia, que exige rastreabilidade do pescado brasileiro, e a ausência do camarão de cativeiro na lista de produtos permitidos pela China. O mercado dos Estados Unidos, por sua vez, já é suprido por grandes produtores como o Equador. “Hoje, a exportação não é atrativa porque o mercado interno paga bem e não exige os altos investimentos em infraestrutura e certificações exigidos pelo mercado externo”, explicou Félix Lee.
O tipo de camarão cultivado em Sergipe é, majoritariamente, da espécie Litopenaeus vannamei, conhecido como camarão cinza. É o camarão mais cultivado no mundo. Cerca de 46% da produção global de camarão em cativeiro é dessa espécie.
Camarão na merenda escolar
No aspecto social, o estado também desponta com uma iniciativa pioneira: a inclusão do camarão na merenda escolar, inicialmente no município de Indiaroba. A experiência foi expandida e todos as escolas estaduais recebem o camarão na merenda. A iniciativa, implantada em 2023, está em seu terceiro ano no âmbito estadual, cumprindo uma promessa de campanha do governador Fábio Mitidieri. “Foi uma medida audaciosa e bem-sucedida. A proteína de alto valor nutritivo é rica em ômega 3 e tem impacto direto na redução da evasão escolar, pois os alunos aguardam os dias em que o camarão será servido”, afirmou o coordenador.
O programa “Filé de Camarão na Alimentação Escolar” já atinge 109 escolas de ensino integral em Sergipe e movimenta a economia local por meio da aquisição do crustáceo de pescadores artesanais e agricultores familiares. Os investimentos vêm crescendo: em 2023, foram adquiridos 10.203 kg de camarão (R$ 609.119,10); em 2024, o volume dobrou para 20.406 kg (R$ 1.281.904,92); e, para 2025, a previsão inicial é de 17.244 kg, com investimento de R$ 1.083.440,52.
A iniciativa da Secretaria de Estado da Educação (Seed) alia alimentação saudável à valorização da cultura alimentar regional, promovendo também o desenvolvimento territorial sustentável. O camarão é servido somente com autorização dos responsáveis. A diretora do Departamento de Alimentação Escolar, Lucileide Rodrigues, destaca que o programa une saúde, cultura e pertencimento, além de impulsionar a economia.

A aceitação entre os estudantes tem sido ampla, com aumento na adesão às refeições. Muitos alunos provaram camarão pela primeira vez na escola e relatam satisfação. A diretora de uma das escolas atendidas afirma que essa é a refeição mais aguardada. Já o estudante Ismael Santos reforça que o programa contribui para a nutrição, a variedade alimentar e o combate ao desperdício. A ampliação gradual para outras unidades da rede estadual está prevista nos próximos anos.
A medida também só foi possível graças à quantidade de pequenos produtores e à atuação de empresas locais como a unidade de beneficiamento Brasino, em Propriá — a única com certificação federal (SIF) no estado. Essa unidade processa todo o camarão destinado à merenda escolar, exigindo documentação completa de rastreabilidade para garantir a segurança alimentar do produto.
“O camarão não é um alimento de elite. Ele está na mesa dos estudantes sergipanos e, com o fortalecimento do setor, pode estar ainda mais presente no cotidiano da população”, frisou Félix Lee.
Redução de impostos
A criação de peixes e camarões em viveiros escavados se torna mais viável para produtores sergipanos com a isenção do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre insumos como o camarão, que antes era taxado em 19%. A medida, fruto de uma indicação do deputado estadual Marcelo Sobral (União Brasil), foi acatada pelo governador Fábio Mitidieri e anunciada durante reunião da Câmara Técnica de Pesca e Aquicultura da Fecomércio-SE, realizada com representantes de diversos órgãos públicos e entidades ligadas ao setor.
Para o deputado, a redução do imposto representa um importante avanço para um setor que vem crescendo em importância econômica no estado. “Essa cadeia produtiva gera emprego, fomenta renda e leva desenvolvimento para diversos municípios”, afirmou Marcelo Sobral.

“Esse trabalho em conjunto mostra resultados. Quando todos os entes se unem, a gente consegue avanços expressivos para o produtor. Hoje, por exemplo, o camarão já é uma proteína acessível, com preços em torno de R$ 15 o quilo, e está até incluído na merenda escolar como item da agricultura familiar”, completou.
Marcelo Sobral enfatizou que a maior parte dos criadores em Sergipe pertence à categoria de pequenos e médios produtores. Embora o censo da aquicultura no estado ainda esteja em andamento, ele estima que mais de 80% dos empreendimentos se enquadram nesse perfil.
“Só pelas licenças ambientais já dá para afirmar que a maioria dos produtores são de pequeno e médio porte. São essas pessoas que serão diretamente beneficiadas com a isenção de impostos e com os incentivos que estamos articulando”, ressaltou.
Os pequenos predominam
A carcinicultura se concentra, principalmente, nos municípios de Nossa Senhora do Socorro, São Cristóvão, Brejo Grande e Indiaroba. Segundo o presidente da Associação dos Criadores de Camarão do Estado de Sergipe (ACS), Alessandro Monteiro dos Santos, apesar da predominância de pequenos produtores o volume de produção é significativo.

Apesar da predominância de pequenos produtores — classificados como aqueles que possuem até 10 hectares — o volume de produção é significativo. “O pequeno se torna um grande quando se vê o total produzido. Cerca de 80% da produção de Sergipe vem desses pequenos”, afirma Alessandro, que também é criador há 22 anos.
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