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Ciência acelera uso da macaúba no NE como alternativa para biocombustível

Novo protocolo de germinação da macaúba abre caminho para cultivo em larga escala e produção de combustíveis renováveis na região
Planta brasileira de alto poder energético, macaúba será usada na produção de combustíveis renováveis
Planta brasileira de alto poder energético, macaúba será usada na produção de combustíveis renováveis. Foto: Acelen Agripark/Divulgação

A ciência está ajudando a Acrocomia aculeata a germinar mais rápido e a ter um crescimento acelerado, podendo desbancar a soja na produção de biocombustíveis. Trata-se da macaúba, também conhecida como coco-baboso, coco-de-espinho ou macajuba, uma palmeira brasileira que pode mudar a vida de muitos produtores do Nordeste.

A Acelen Renováveis, empresa dedicada à produção de combustíveis renováveis e controlada pela Acelen — do portfólio da Mubadala Capital, gestora global de ativos com sede em Abu Dhabi —, desenvolveu em parceria com a Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) um novo protocolo de germinação da macaúba. A inovação avança no projeto de US$ 3 bilhões da companhia para produção de combustível sustentável de aviação (SAF) e diesel renovável (HVO) a partir dessa planta não domesticada.

Nordeste lidera produção com planta na Bahia

O projeto reforça o papel estratégico do Nordeste na cadeia nacional de biocombustíveis. A primeira planta industrial, em construção na Bahia, será responsável por 1 bilhão de litros de combustíveis renováveis por ano, com cultivo de macaúba em áreas de pastagens degradadas. O clima da região, a disponibilidade de terras e a infraestrutura logística são fatores decisivos.

A planta, nativa do Brasil, produz de sete a dez vezes mais óleo por hectare do que a soja. Até agora, o cultivo enfrentava limitações devido à dormência das sementes. O novo protocolo elimina a etapa de escarificação, simplificando o processo e elevando a taxa de germinação.

Parceria da Acelen Renováveis com a Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), a criação de um novo protocolo de germinação da macaúba
Parceria da Acelen Renováveis com a Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), a criação de um novo protocolo de germinação da macaúba. Foto: Acelen Agripark/Divulgação

Mais de 50% de germinação com novo protocolo

Pesquisadores da Unimontes, liderados pelo professor Leonardo Ribeiro, com apoio técnico da equipe Agro da Acelen Renováveis e do consultor Francisco Peralta, registraram taxas de germinação superiores a 50%.

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O protocolo atua diretamente no condicionamento fisiológico das sementes, com pré-tratamento que evita o ressecamento e mantém a viabilidade do embrião. Diferente da escarificação, que exigia mais tempo e mão de obra, o método utiliza controle de temperatura e umidade para induzir a germinação de forma uniforme e em menor tempo.

“Essa abordagem não reduz apenas o tempo e os custos envolvidos, mas também diminui os riscos de contaminação, resultando em mudas mais saudáveis e produtivas. Um avanço significativo na cadeia produtiva”, afirma Victor Barra, diretor de Agronegócio da Acelen Renováveis.

Além disso, o sistema inclui monitoramento constante da atividade metabólica das sementes, permitindo o ajuste das condições em cada etapa do processo. Isso garante mudas mais vigorosas e reduz a mortalidade no plantio.

Plantio e manejo em áreas degradadas

Após a germinação, as mudas passam por viveiros especializados, onde permanecem de três a quatro meses. O manejo inclui irrigação controlada, suplementação nutricional e aclimatação.

O plantio definitivo será feito em sistemas integrados de recuperação de áreas degradadas, com espaçamento que facilita a mecanização da colheita e do manejo. Cada hectare comporta até 400 plantas. A macaúba, adaptada ao clima semiárido, exige pouca irrigação suplementar e se desenvolve bem em regiões com precipitação entre 800 e 1.200 mm.

A colheita será feita em ciclos semestrais, com uso de plataformas mecanizadas. A extração de óleo será realizada em unidades integradas à planta industrial, com aproveitamento de coprodutos como fibra, torta e casca.

Planta em Montes Claros faz parte de projeto de investimentos totais de cerca de R$ 18 bilhões no Estado e também na Bahia, onde haverá biorrefinaria | Crédito: Divulgação Acelen Agripark
Planta em Montes Claros faz parte de projeto de investimentos para transformar a macaúba em produção de biocombustíveis. Foto: Acelen Agripark/Divulgação

Regiões mapeadas para o cultivo da macaúba

As áreas destinadas ao cultivo abrangem Bahia e Minas Gerais. No estado baiano, destacam-se Barreiras, Luís Eduardo Magalhães, Correntina e Caetité. Em Minas Gerais, as regiões do Norte e Noroeste concentram os plantios, com destaque para os vales do Jequitinhonha e do São Francisco e a microrregião de Montes Claros.

A meta é alcançar 180 mil hectares, sendo 20% em parceria com agricultores familiares. As áreas foram mapeadas para evitar competição com a produção de alimentos e respeitar critérios ambientais.

“Este novo protocolo é um divisor de águas para a produção de macaúba. Ele não apenas otimiza o processo de germinação, mas também estabelece um novo padrão de eficiência e sustentabilidade na produção de biocombustíveis”, diz Victor Barra.

Óleo de macaúba extraído pela Acelen biocombustíveis
Foto: Acelen Agripark/Divulgação

Extração de óleo será feita em Montes Claros

A Acelen Renováveis anunciou em fevereiro deste ano a primeira extração industrial de óleo de macaúba em fluxo contínuo no Centro de Inovação Tecnológica Agroindustrial da companhia, o Acelen Agripark. A unidade está em construção na cidade de Montes Claros, em Minas Gerais. O processo, que até então era realizado apenas em ambientes laboratoriais, foi viabilizado por uma tecnologia inédita desenvolvida pela equipe de engenharia da empresa e parceiros. O novo sistema de extração permite a produção em maior escala.

Com um investimento de R$ 314 milhões, sendo R$ 258 milhões financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a inauguração do parque está prevista para o final do primeiro semestre de 2025. O projeto terá um ciclo estimado de 15 a 20 anos para alcançar a plena maturidade.

O óleo extraído no Agripark será transportado para a planta integrada da Acelen Renováveis, no Polo Industrial de Camaçari (BA), onde será refinado e convertido em combustível sustentável de aviação (SAF) e diesel renovável (HVO). A unidade da Bahia terá capacidade para produzir 1 bilhão de litros por ano em escala industrial.

plantio de mudas de macaúba
Mudas de macaúba passam por viveiros especializados, onde permanecem de três a quatro meses. Foto: Acelen Agripark/Divulgação

Parceria impulsiona avanço da pesquisa aplicada

O professor Leonardo Ribeiro destaca que a parceria com a Acelen tem acelerado a aplicação de pesquisas desenvolvidas há duas décadas.

“Tem sido fundamental para o avanço das pesquisas realizadas há 20 anos na universidade, abrindo perspectivas para a aplicação dos conhecimentos gerados na construção de tecnologias que viabilizem a transição energética a partir de espécies nativas”, afirma.

Nordeste amplia protagonismo nos biocombustíveis

O Nordeste já ocupa posição de destaque na produção nacional de biocombustíveis. Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), em 2023 a região respondeu por cerca de 18% da produção de biodiesel, com a Bahia liderando regionalmente.

O estado é o terceiro maior produtor de biodiesel do país, com mais de 850 milhões de litros produzidos em 2023. A Bahia também concentra investimentos em combustíveis avançados e em processos industriais com oleaginosas nativas.

A expansão da cultura da macaúba reforça essa posição. Dados do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) mostram que, em 2023, a área plantada com oleaginosas para bioenergia no Nordeste cresceu 9,8% em relação ao ano anterior.

Cadeia produtiva deve gerar 85 mil empregos

Estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) prevê a geração de 85 mil empregos diretos e indiretos e movimentação de US$ 40 bilhões na economia. O projeto da Acelen inclui capacitação de produtores, parcerias com cooperativas e estímulo à cadeia de suprimentos local.

Os biocombustíveis da Acelen serão do tipo drop in, com potencial de reduzir em até 80% as emissões de CO₂ em comparação aos combustíveis fósseis, sem contar o sequestro de carbono promovido pelas plantações.

Leia mais: NE cresce 23% na produção de cachaça e lidera em produtividade no Brasil

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