
A Embrapa lançou a BRS 54 Lumiar, nova cultivar de uva verde sem sementes voltada ao cultivo no Vale do Submédio São Francisco, região que concentra a maior parte da produção e exportação de uvas de mesa do Brasil. Desenvolvida especialmente para as condições do semiárido irrigado, a nova variedade exige menos aplicações hormonais e permite reduzir em até 50% os custos com mão de obra, principal fator de despesa na viticultura da região.
A cultivar também elimina a cobrança de royalties por quilo comercializado, prática comum entre as variedades estrangeiras. No caso da BRS 54 Lumiar, os produtores pagam apenas pelas mudas. Segundo Adeliano Cargnin, chefe-geral da Embrapa Uva e Vinho, a nova uva pode ser adotada por todos os perfis de viticultores, de familiares a grandes produtores, e sua praticidade de manejo deve contribuir para reduzir custos de produção e aumentar a rentabilidade, com possibilidade inclusive de baratear o preço final ao consumidor.
“A redução da mão de obra no manejo dos cachos vai impactar a redução do custo de produção e, consequentemente, aumentar o lucro do produtor com grandes possibilidades de baratear o preço desse alimento”, afirma Cargnin.
Inspirada no luar do Sertão, a BRS 54 Lumiar traz no nome e na coloração verde-clara das bagas uma referência ao brilho da lua cheia, símbolo recorrente da paisagem nordestina. Com cachos grandes, bagas crocantes e sabor equilibrado, a cultivar foi pensada para o mercado de fruta fresca, com potencial tanto para o mercado interno quanto para exportação.

Cruzamento genético .
A variedade foi desenvolvida a partir de cruzamento genético realizado em 2010, na Estação Experimental de Viticultura Tropical da Embrapa Uva e Vinho, em Jales (SP). Em 2019, as primeiras unidades de validação foram implantadas no Vale do São Francisco, com a participação de 12 empresas em Petrolina (PE), Juazeiro, Curaçá e Casa Nova (BA).
Os testes demonstraram boa produtividade, excelente padrão comercial dos cachos e alta aceitação de mercado. Embora apresente vigor inferior ao de outras cultivares como a BRS Vitória ou a BRS Isis, a recomendação é de podas mais longas e produtividades entre 20 e 22 toneladas por hectare por safra, alcançando cerca de 50 toneladas por hectare ao ano.
Segundo João Dimas Garcia Maia, pesquisador da Embrapa Semiárido, as cultivares estrangeiras exigem pelo menos 50% a mais de mão de obra e impõem aos produtores o pagamento de royalties por quilo colhido, o que compromete a rentabilidade, especialmente entre os pequenos. A BRS 54 Lumiar, ao reduzir essas exigências, contribui para democratizar o acesso à viticultura de qualidade e ampliar a competitividade da produção nacional.

Reservas de mudas para plantio
O viveiro Petromudas, em Petrolina (PE), já iniciou a reserva de mudas para plantio ainda em 2025. A Embrapa destaca que a distribuição de suas cultivares é realizada exclusivamente por viveiristas licenciados. Para outros viveiros interessados em adquirir o material básico, a reserva pode ser feita junto à Estação Experimental de Canoinhas (SC), por meio de edital público com entrega prevista entre julho e setembro, conforme disponibilidade no matrizeiro da Embrapa.
A nova cultivar se insere no escopo do programa Uvas do Brasil, coordenado pela Embrapa desde o final da década de 1970, voltado ao desenvolvimento de cultivares adaptadas às condições brasileiras.
O programa se consolidou como referência em viticultura tropical e já disponibilizou ao mercado variedades como a BRS Vitória, uva preta sem sementes cultivada em cerca de 4 mil hectares, a BRS Isis, uva vermelha sem sementes presente em 300 hectares, a BRS Núbia, uva preta com sementes reconhecida pelo tamanho das bagas, e a BRS Melodia, uva vermelha sem sementes de sabor intenso.
Economia, produtividade e atratividade comercial
Segundo o viticultor e consultor Newton Matsumoto, que participou da validação da nova variedade, a BRS 54 Lumiar combina economia, produtividade e atratividade comercial. “A cultivar entrega produtividade, sabor e aparência. É uma uva com grande potencial de mercado, que deve agradar tanto produtores quanto consumidores”, avalia.
Hoje, o Vale do Submédio São Francisco responde por mais de 90% da uva fresca exportada pelo Brasil. Segundo o Ministério da Agricultura, as vendas externas da fruta somaram mais de US$ 260 milhões em 2023, com destaque para os mercados da Europa, Reino Unido e América do Norte. Com o lançamento da nova cultivar, a expectativa é ampliar a presença da uva brasileira no mercado internacional, ao mesmo tempo em que se fortalece a autonomia tecnológica da produção nacional.
A BRS 54 Lumiar foi desenvolvida no âmbito do projeto “Desenvolvimento de novas cultivares para a competitividade e sustentabilidade da vitivinicultura brasileira”, realizado em parceria entre a Embrapa e o CNPq. As análises de compostos funcionais da fruta foram conduzidas em cooperação técnica com o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), fortalecendo a base científica por trás da nova variedade.
*Com informações da Embrapa
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