Entre os aspectos que explicam a perda do posto da cana-de-açúcar nas exportações estão a redução da safra e de áreas plantadas
Por Samuel Santos
O ano que passou trouxe bons números para a agricultura. O agronegócio em Pernambuco fechou 2021 com US$ 501 milhões em produtos exportados, o que representa um acréscimo de 19% em relação a 2020. O dado é da Federação da Agricultura do Estado de Pernambuco (Faepe). Segundo a entidade, o resultado positivo foi puxado principalmente pela fruticultura e venda de açúcar para o mercado internacional.
O presidente da Faepe, Pio Guerra, avaliou o acumulado de janeiro a dezembro do ano passado como bastante positivo. “O ano de 2021, sem dúvida, foi especial para as exportações, principalmente porque esse foi o maior valor movimentado pelo agronegócio local desde 2012”, avalia.
No recorte por seguimento, a atividade que mais se destacou foi a produção de frutas, sobretudo as do Vale do São Francisco, no Sertão do estado. As mangas responderam por 21,8% do volume exportado e as uvas, 22%. O açúcar representou 36,7% das exportações e o álcool, apenas 4,9% da produção que foi para o mercado externo. Limões e sucos representaram 3,4% do volume e os pescados, 2,1%. Outros segmentos somaram 5,8%.
Ainda de acordo com Pio Guerra, os números mostram uma mudança de comportamento da economia local, evidenciado pela perda do protagonismo do setor sucroalcooleiro. “Isso não acontece há quatro anos. Antigamente o setor sucroalcooleiro era o principal ator do agronegócio. Acredito que a fruticultura se consolidou como protagonista porque vem modernizando a sua produção e conquistando novos mercados em um espaço comercial em que o Brasil não tinha tanta experiência”, aponta o presidente.
Entre os aspectos que explicam a perda do posto da cana-de-açúcar como líder das exportações estão a redução da safra e de áreas plantadas e a falta de chuvas na Zona da Mata pernambucana, problema que não atinge a fruticultura, por ser uma atividade irrigada.
Temporais
Se a ausência de chuva já é um problema, o excesso dela atrapalha. O grande receio dos produtores de frutas dos municípios sertanejos que integram o Vale do São Francisco é que os temporais de verão causem ainda mais prejuízos. “Apesar de toda a tecnologia empregada, não podemos esquecer que essa é uma atividade agrícola. Já tivermos perdas na casa dos R$ 60 milhões por causa das chuvas recentes, o que pode refletir no resultado da próxima safra”, destaca o presidente da Faepe.
Somado aos fenômenos climáticos está um outro fator que tem preocupado quem vive da fruticultura. Impulsionado pelo dólar, o preço dos defensivos agrícolas para evitar pragas disparou, o que pode impactar na produção. “Nossa preocupação hoje é com as doenças que podem surgir nas plantações, como oídio, míldio e antracnose. Se por um lado o dólar em alta é bom para exportar, por outro ele encarece o custo de produção, já que os defensivos vêm de fora”, explica José Gualberto, presidente da Associação dos Exportadores do Vale do São Francisco (Valexport), José Gualberto.
Apesar dos entraves, os empresários da fruticultura estão otimistas e veem espaço para repetir o feito do ano passado. “Conseguimos escoar bem a produção, tanto para o mercado interno, quanto para o externo. O crescimento de vendas de mangas e uvas foi de 25%. A gente espera repetir ou quem sabe aumentar esse percentual neste ano”, completa Gualberto.