O preço da carne dianteira com osso, que estava custando R$ 12,50, em um mês saltou para R$ 17,50. E pode ficar mais caro
Por Patrícia Raposo
A decisão das autoridades alfandegárias da China de liberar a entrada no país de carne bovina brasileira que tenha recebido o aval sanitário chinês antes de 4 de setembro está sendo considerada como o primeiro passo para a retomada integral das exportações do produto brasileiro. Mas ela também pode ser o primeiro sinal de novos aumentos no preço da carne.
Quando houve a suspensão das vendas ao país asiático, se reduziu o abate porque a procura pelo produto caiu. O animal ficava no campo engordando e isso derrubou o preço da carne. No começo da crise com a China, o preço da arroba estava em R$ 310,00 e desceu para R$ 260,00. Mas agora já voltou aos patamares de agosto, chegando aos R$ 310,00. E não deve parar por aí.
A China consome cerca de 20% dos bovinos abatidos no Brasil e ao retomar as compras da carne brasileira, o país asiático contribui para uma redução da oferta do produto no mercado nacional. Isso, por si só, já impacta no preço da carne. No entanto, se a previsão da ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, estiver certa e a abertura total ocorrer no próximo mês de dezembro, outro fator vai impactar nos preços: a sazonalidade.
Os executivos de frigoríficos preferem não falar sobre o assunto abertamente porque aumento do preço da carne é tema indigesto no setor. No entanto, um deles conversou com o Movimento Econômico e explicou o cenário atual e o que está por vir.
“O anúncio da retomada pela China coincide com o momento em que grande parte do gado que estava no campo está agora indo para confinamento. Criar o gado confinando eleva os custos de produção. Esse custo elevado faz com que ao bater 22 arrobas, o gado seja direcionado para a venda”, explica o executivo. Segundo ele, o produtor tende a vender o animal porque ele já não consegue engordar tanto, mas continua com a mesma dieta para não perder peso.
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“No campo, o produtor consegue segurar um animal por muito tempo engordando, mas no confinamento só por duas semanas, no máximo. Por isso, muitos animais estão sendo colocados à venda, para redução de custos, e esse custo passa para os preços”, disse.
Se neste momento a China volta a ter interesse em comprar a carne brasileira, a tendência é de o produtor direcionar sua mercadoria, que poderia ser vendida aqui, para o mercado externo, que paga em dólar, reduzindo a oferta do produto no Brasil. E o que já estava caro, fica pior.
O bolso do consumidor sente claramente o efeito. O preço da carne dianteira com osso, que estava custando R$ 12,50, em um mês subiu para R$ 17,50. E pode ficar mais caro. “No fim das contas, é o brasileiro quem pague o preço das exportações para a China”, analisa o executivo.