Abyssal, Botany e Acqua Spirit são algumas marcas que estão sendo produzidas em diversos municípios do estado com boa aceitação
Por Samuel Santos
Nem só de cerveja e cachaça vive o mercado de bebidas artesanais de Pernambuco. Um destilado com muita personalidade tem ganhado espaço entre os fabricantes de bebidas locais. É o gin, cuja produção é a mais nova cartada do empresariado local.
A principal representante do setor é a Abyssal, braço da Capunga, empresa já consolidada na cervejaria artesanal e que agora tenta seu lugar ao sol no ramo de destilados. Victor Lamenha, fundador do primeiro gin tipicamente pernambucano explica que a estratégia foi milimetricamente calculada, sem espaço para improvisos. Foram dois anos para desenvolver a fórmula perfeita a fim de agradar, principalmente, o paladar do nordestino.
“Já era um desejo antigo nosso entrar nesse ramo, mas foi em 2017 que a gente começou a namorar com esse segmento e em 2019 embarcamos de vez. Criamos um gin um pouco mais leve, com cerca de 40% de teor alcoólico, mas que tem tido boa aceitação”, explica.
A destilaria localizada no município de Igarassu, no Grande Recife, produz atualmente cerca de 5 mil garrafas do Gin Abyssal por mês. O mercado consumidor ainda é restrito a cidades pernambucanas e capitais de estados como Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará, através de parcerias com grandes redes de varejo, como Carrefour e Big Bompreço.
Lamenha não revela números sobre faturamento, mas diz o gin está no top 3 dos produtos mais vendidos pela Capunga. “O carro-chefe continua sendo a cerveja, mas já temos o Abyssal bem posicionado diante da nossa carta de produtos”, conta.
O Abyssal é um gin do tipo London Dry, método de fabricação criado na Inglaterra há quase 300 anos, e que é considerado o mais conhecido e consumido no mundo. A aceitação do London Dry made in Pernambuco foi tão boa que a Capunga decidiu se aventurar ainda mais no universo dos destilados e em 2020 lançou a Vodca Abyssal.
De acordo com a Associação Pernambucana de Cervejarias Artesanais, a demanda por bebidas feitas de forma artesanal só representa 0,1% do que é consumido no estado. Mas Lamenha enxerga espaço para crescer. “Compramos um novo terreno em Igarassu para construção de outra destilaria, de maior porte, e nossa expectativa é começar a operação em 2023”.
Botany
Outro gin com alma pernambucana é o Botany, fabricado em uma destilaria localizada no bairro do Pina, na Zona Sul do Recife. O negócio é tocado por Durval Bacelar e Gabriel Bacelar Neto, profundos admiradores da bebida que decidiram investir nesse nicho, mas sem esquecer de suas raízes.
A receita é secreta, mas segundo os criadores, carrega nela a alma nordestina, já que a composição leva blend de folhas de pitangueira, planta comum na região. Ingredientes cítricos como laranja baiana e limão siciliano também ajudam a dar cara e sabor ao gin da Botany Distillery.
Diferente do Abyssal, o Botany se apresenta em três variações, uma para cada gosto. O London Dry preserva o equilíbrio aromático dos botânicos e é voltado para os paladares mais tradicionais. Já o Botany OldTom é feito com 12 botânicos exóticos e o Signature se destaca por explorar os cítricos frescos.
Os rótulos da recifense Botany Distillery já colecionam medalhas ao redor do mundo. Já foram 19 ao todo, conquistadas em competições na Europa e Estados Unidos.
Acqua Spirit
Com menos tempo de estrada, está o London Dry Acqua Spirit, desenvolvido em uma pequena destilaria aberta ao público na Reserva do Paiva, no município do Cabo de Santo Agostinho. Seu criador é Marcelo Libório, que decidiu deixar de lado o mundo da gastronomia para se dedicar aos destilados.
“Inicialmente pensei em abrir uma cachaçaria. Me especializei, comprei um alambique, mas no meio do caminho fui convencido pela minha esposa a produzir gin, uma bebida que estava se tornando popular por aqui”, relata.
Foram 50 experimentos até chegar na receita ideal. A venda do produto começou em 2019, inicialmente para amigos e alguns restaurantes. Com a pandemia, em 2020, a produção praticamente parou e só foi retomada no início deste ano.
“Temos capacidade para produzir 16 mil litros por mês, mas hoje fabricamos cerca de mil garrafas/mês. Nossos principais clientes são hotéis, resorts, restaurantes, delicatessens e eventos”, completa.
A empresa familiar, formada apenas por quatro pessoas, pensa em voos mais altos, mas sem abrir mão de sua singularidade. “Nosso gin é premium, destilado quatro vezes e reúne ingredientes altamente selecionados. Focamos muito na qualidade do que estamos oferecendo e, por isso, fazemos questão de apresentar o produto como algo diferenciado no mercado. Estamos procurando parceiros para ajudar na distribuição, mas por hora, não pensamos em estar em redes de supermercados, com algo em larga escala”, acrescenta Libório.
Apoio ao setor
Para impulsionar os produtores locais de bebidas artesanais, a Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (Adepe) prometeu abrir até fevereiro de 2022 uma loja para comercialização de bebidas produzidas no estado. O espaço vai funcionar no Armazém 11, na área portuária do Recife e deve reunir cerca de 50 marcas locais, contemplando empresários dos ramos de vinho, licores, cerveja, cachaça, gin e outros destilados.