Para a equipe econômica da Confederação Nacional da Indústria, o PIB nacional perderá R$ 8,2 bilhões este ano e R$ 14,2 bilhões em 2022. São esperadas demissões no setor industrial e redução das exportações
Etiene Ramos
As chuvas estão voltando nas regiões dos grandes reservatórios do país, em volumes e prazos até acima do esperado. Mas os efeitos da maior crise hídrica dos últimos 90 anos, que reduziu a produção hidroelétrica e elevou o preço da energia elétrica com uma sequência de reajustes das tarifas e, a partir de setembro, com a bandeira da escassez hídrica, ainda vão ser sentidos por muito tempo.
Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI) o cenário anterior, sem os aumentos da energia elétrica, foi desmontado. A nota técnica “Impacto econômico do aumento do preço da energia elétrica”, elaborada pela Gerência Executiva de Economia da instituição, aponta que o preço da energia vai implicar numa queda de R$8,2 bilhões no Produto Interno Bruto (PIB) deste ano em relação ao valor esperado sem os reajustes e foi baseado em preços de 2020. Só nos últimos 12 meses, até outubro, a energia elétrica teve aumento de 30,3%, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo IBGE, que divulgou ontem (2) a retração de 0,1% no PIB do terceiro trimestre em relação ao segundo trimestre.
Os números mostram, claramente, que toda a economia já está sendo impactada e a indústria é um dos setores mais afetados pelo uso intensivo de energia elétrica. “As tarifas mais altas prejudicam a indústria e vão mais além. Aumentar custos nessa época de dificuldades, tira de circulação os recursos das atividades econômicas”, declara o presidente da Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe), Ricardo Essinger. Segundo ele, nem a tarifa fora da ponta, que reduz o valor da energia quando usada em horários de menor demanda, escapou dos reajustes. O volume significativo de impostos sobre a energia é outro ponto que ele ressalta no estudo da CNI. “Na composição do preço, praticamente a metade é de impostos e encargos”, afirma.
PIB da Indústria
Os economistas da CNI preveem ainda que o PIB industrial deste ano sofrerá perdas de R$2,2 bilhões, das quais R$1,2 bilhão serão da indústria de transformação, e o restante dos segmentos da indústria extrativa, da construção e dos serviços industriais de utilidade pública.
A análise avalia um abalo ainda mais amplo para o país quando considera os efeitos diretos e indiretos do aumento das tarifas de energia, um insumo básico para todas as atividades econômicas e que incide diretamente sobre os custos de produção e dos serviços. Junto com os combustíveis, a energia vem elevando a inflação e os juros – a única arma do Banco Central para conter o consumo e equilibrar a economia. Enquanto isso, os efeitos deixam de ser só econômicos e financeiros e passam a ser sociais.
“Neste ano, estimamos que os efeitos diretos e indiretos do aumento de preço da energia gerem uma perda de cerca de 166 mil empregos em relação à quantidade de pessoas que estariam ocupadas sem o aumento no preço da energia. O consumo das famílias se reduzirá em R$7,0 bilhões – a preços de 2020. Já a inflação às famílias, em 2021, sofrerá um aumento de 0,16%. A perda nas exportações será o equivalente a R$ 2,9 bilhões”, afirma a nota técnica da CNI.
As previsões negativas não param por aí. A situação vai piorar em 2022 quando, segundo o estudo, o aumento no preço da energia elétrica vai elevar a perda do PIB nacional para R$14,2 bilhões; do PIB industrial para R$3,8 bilhões; e da indústria de transformação para R$ 1,7 bilhão. “O impacto sobre o emprego é uma perda de cerca de 290 mil postos de trabalho em relação à quantidade de pessoas ocupadas entre abril e junho de 2021. O consumo das famílias se reduzirá em R$12,1 bilhões. Já o aumento no preço às famílias será de 0,41%. Por último, as exportações devem cair aproximadamente 5,2 bilhões de reais”, estima a equipe econômica da CNI. “Esse estudo expõe a realidade. É muito importante para que se saiba a verdade. Haviam suposições e agora se sabe que quando se aumenta x% vai repercutir y% na indústria, antes não se sabia”, conclui Ricardo Essinger.