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As expansões da rede Café do Mercado e da geradora pernambucana Kroma Energia têm algo em comum com milhares de empreendimentos instalados no Nordeste: passaram pelas operações de crédito do Banco do Nordeste (BNB), que financia desde microempreendedores até grandes empreendimentos que apontam para o futuro como: saneamento, plantas de etanol, fábrica que vai transformar resíduo orgânico em biometano, entre outras atividades que dialogam com estes tempos de transição energética. Somente em 2024, foram emprestados R$ 61,3 bilhões na área de atuação da instituição.
“O crédito do BNB permitiu à empresa fazer uma expansão sem se endividar”, afirmou o diretor da rede Café do Mercado, Ivson Santos. De porte médio, a companhia tem sete unidades no Grande Recife e fez três operações de crédito com o banco, sendo a primeira em 2020. “A de 2020 ajudou a empresa a se capitalizar, porque ficamos descapitalizados durante a pandemia”, lembrou Ivson.
As duas operações de crédito realizadas em 2021 e 2023 contribuíram para a empresa abrir a quinta, a sexta e a sétima unidades. “Os financiamentos foram importantes para a aquisição de equipamentos, adquirir o mobiliário das novas unidades. Esta semana, estamos fechando mais um financiamento para comprar um carro que transporte as mercadorias da empresa”, contou Ivson. Para ele, o grande atrativo da operação foi a taxa de juros “mais em conta”.
A consolidação da Kroma Energia como geradora passou pela construção de três complexos de parques solares fotovoltaicos também financiados por três operações do BNB. Os três empreendimentos vão ter uma capacidade instalada de 480 megawatts (MW), incluindo 100 MW que já estão em operação em Flores, no Agreste de Pernambuco. No total, a Kroma captou financiamentos da ordem de R$ 1,1 bilhão.
O sócio da Kroma Energia e CFO da empresa, Valério Veloso, afirmou que “os financiamentos foram fundamentais para criar um parque de geração deste porte”. E acrescenta: “Mais de 70% da produção de energia serão vendidas a empresas de saneamento, que também é uma prioridade do BNB. Estas empresas de saneamento poderão economizar 30% da conta de luz. Então, o financiamento contemplou uma empresa nordestina que vai produzir energia renovável para empresas de saneamento, que são grandes consumidoras (de energia)”.
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Impacto do crédito
Somente no ano passado, o crédito da instituição contribuiu para a geração de 517,3 mil empregos diretos e indiretos, aumento de R$ 7 bilhões na massa salarial, um aumento na arrecadação de impostos da ordem de R$ 1,7 bilhão, trazendo também um incremento de valor adicionado à economia da ordem de R$ 16,7 bilhões nos locais que receberam os financiamentos. Os números são estimados por uma ferramenta desenvolvida em parceria entre o BNB e a Universidade de São Paulo (USP).
“O crédito é uma força motriz do crescimento, porque ajuda a viabilizar novos negócios e diversifica a economia. Temos um crédito especializado, voltado para o desenvolvimento com prazos”, resume o gerente do Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene), Allisson Martins.
As principais linhas de financiamento fazem parte do Fundo Constitucional do Nordeste (FNE) que financia desde microempreendedores, passando por capital de giro para as empresas, até equipamentos que aumentem a produtividade. Em 2024, o FNE financiou R$ 44,8 bilhões e a expectativa é de aumento de 18% dos valores a serem emprestados pelo fundo este ano.
No ano passado, mais de 50% de todo o crédito liberado pelo Banco do Nordeste (BNB) foram destinados a empresas e empreendedores em cinco Estados da região: Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco e Piauí. Eles receberam R$ 31,1 bilhões dos R$ 61,3 bilhões emprestados pela instituição em 2024.
Segundo o diretor de Planejamento do BNB, Aldemir Freire, a explicação é simples: o crédito segue a dinâmica da economia da região e os Estados que têm o maior Produto Interno Bruto (PIB), como Bahia, Ceará e Pernambuco, tradicionalmente, se destacam com valores maiores e maior número de operações. A Bahia, Pernambuco e o Ceará representam 66% da economia do Nordeste.
Freire também explica que há uma regra do FNE que estabelece que cada Estado não pode receber menos que 5% e nem mais 30% dos recursos do Fundo. Os empreendimentos e empreendedores baianos receberam R$ 10,5 bilhões em financiamentos em 2024 em 314 mil operações. Entre 2020 e 2024, os baianos receberam R$ 30,3 bilhões em financiamentos ao setor produtivo, o que correspondeu a 24,4% do total liberado neste período.
No ano passado, os empreendimentos e empresas instaladas no Ceará conseguiram financiamentos da ordem de R$ 6,6 bilhões em 352 mil operações, enquanto os maranhenses receberam R$ 5,3 bilhões em 159 mil operações. No quarto lugar, no ranking do crédito vem o Estado de Pernambuco com R$ 4,6 bilhões emprestados em 159 mil operações e o Piauí ocupa o quinto lugar com uma liberação de R$ 4,1 bilhões em mais de 159 mil operações.
Estados que mais receberam recursos
Os cinco estados que lideraram o crédito em 2024 também foram os que mais receberam créditos entre 2020 e 2024. Neste intervalo de cinco anos, Ceará, Maranhão, Pernambuco e Piauí receberam empréstimos, respectivamente, da ordem de R$ 14,7 bilhões, R$ 15,8 bilhões, R$ 14,6 bilhões e R$ 13,4 bilhões. Os recursos recebidos por Pernambuco e Ceará correspondem, cada um, a 11,9% do total liberado nos cinco anos, enquanto o Maranhão ficou com 12,8% e o Piauí com 10,9%.
Bahia, Pernambuco e Ceará também são os estados mais industrializados da região e, portanto, têm alguns projetos que demandam mais recursos. Os recursos recebidos por projetos na Bahia, Maranhão e no Piauí também foram para uma região denominada Mapiba, que se especializou na produção de grãos numa área que inclui oeste baiano e o Sul do Maranhão e do Piauí. “É uma agricultura de maior precisão e os financiamentos também contemplaram equipamentos e tecnologias novas que aumentam a produtividade”, explicou Allisson Martins. Nas duas últimas décadas, os financiamentos desta área contemplaram a expansão da produção de grãos.
Entre 2020 e 2024, os setores que mais se destacaram recebendo recursos do FNE foram o comércio e serviços, que responderam por 35,2% no total financiado. Neste período, agricultura e pecuária responderam por 55,7% do total financiado. As atividades que se destacam no setor rural são: grãos, bovinocultura de corte e leite e fruticultura.
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O crédito apontando para o futuro
“A agricultura do cerrado nordestino vai entrar numa nova etapa voltada ao beneficiamento, à industrialização dos grãos. Isso vai incluir desde a produção de etanol de milho até a parte do grão que é usado para ração”, explica Aldemir Freire. O BNB está financiando uma planta de etanol de milho da Inpasa no Maranhão. Uma planta deste tipo custa, em média, R$ 1,1 bilhão.
Segundo Freire, a ideia também é diversificar os financiamentos na área de infraestrutura, que bancaram muitos projetos na área de energia renovável, principalmente de geração solar e eólica. A intenção, segundo Freire, é financiar projetos de descarbonização, biocombustíveis, entre outros.
“O Nordeste precisa receber empreendimentos que consumam a energia renovável que vai ser produzida aqui”, comenta Freire, acrescentando que uma opção neste sentido é o financiamento de data centers, que são grandes consumidores de energia. Ele afirmou que há financiamentos neste setor em Fortaleza e no Recife.
O BNB também vai voltar a operar com os Estados num programa que será contemplado com R$ 1,5 bilhão que deve ser usado principalmente para infraestrutura logística. Os recursos foram captados com organizações internacionais.
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