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Setor produtivo quer mais atitude dos governos com infraestrutura

Seminário que reuniu empresários e líderes de entidades industriais e comerciais destacou a urgência na entrega das grandes obras de infraestrutura do estado
Seminário “Construindo Caminhos para o Desenvolvimento” Atitude Fiepe infraestrutura
Os gargalos da infraestrutura em Pernambuco foram discutidos no seminário ““Construindo Caminhos para o Desenvolvimento”. Foto: Paulo Goethe/ME

Estado que foi o primeiro a universalizar a oferta de energia elétrica no Nordeste, com polos que são referências nacionais em tecnologia e saúde, além de um complexo industrial e portuário em Suape que abriga até uma refinaria, Pernambuco ainda enfrenta desafios em infraestrutura que prejudicam o setor produtivo e são entraves para a atração de novos investimentos. Estradas ampliadas, uma ligação ferroviária que saia do papel e um planejamento estratégico para as próximas décadas foram necessidades discutidas no seminário “Construindo Caminhos para o Desenvolvimento”, realizado na manhã desta quarta-feira (17) no RioMar Trade Center, no Recife.

Promovido por duas entidades do setor empresarial – a Movimento Atitude Pernambuco e a Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe) – com apoio da Agência de Desenvolvimento de Pernambuco (Adepe) e o Porto de Suape, o evento foi uma oportunidade para representantes dos governos estadual e federal apresentarem as ações que estão sendo realizadas para resgatar o estado como protagonista do desenvolvimento regional.

O Nordeste corre contra o tempo para atrair grandes empreendimentos econômicos antes da entrada em vigor, em 2032, da reforma tributária, que eliminará os incentivos fiscais. E isso preocupa muito o setor produtivo. O presidente do Atitude Pernambuco, Guilherme Ferreira da Costa, disse que a intenção de realizar o evento foi a de promover a união entre a classe empresarial e governos. “Para haver novos investimentos é preciso infraestrutura. Pernambuco precisa novamente assumir o protagonismo e voltar a ser um dos estados líderes do desenvolvimento do Nordeste”, afirmou na abertura do evento.

Para o empresário, o urgente é melhorar o acesso na BR-101. Tanto que a entidade que preside celebrou um acordo de Cooperação Técnica com o DNIT para a elaboração dos projetos básico e executivo de engenharia visando a realização de obras de melhorias na mobilidade da rodovia, que é o principal eixo de ligação entre o Recife e o Complexo Industrial do Porto de Suape. Na altura do quilômetro 84 circulam diariamente 45 mil veículos leves e pesados, sendo ponto constante de engarrafamentos.

O presidente da Fiepe, Bruno Veloso, disse que o seminário foi importante para discutir pilares fundamentais para a classe empresarial do estado, que aguarda obras que deveriam estar prontas há 30 anos, como a Transnordestina. “Quando falamos em investimento, o capital vai sempre buscar o melhor local. O frete pesa muito. Pernambuco deve se preocupar em oferecer as melhores condições de transporte, energia com voltagem adequada e internet de qualidade. Esse evento inicia um processo de termos uma pauta de acompanhamento dos projetos de infraestrutura que precisamos”, contou. “Um porto estratégico, sem modal ferroviário, não existe”, alertou.

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Raquel Lyra governadora de Pernambuco Seminário “Construindo Caminhos para o Desenvolvimento” Atitude Fiepe infraestrutura
Raquel Lyra reafirmou que eixo sul do Arco Metropolitano vai ficar pronto até dezembro de 2026. Foto: Bruna Lapa/ME

Como espectadora, Raquel Lyra ouviu as “queixas” dos empresários com a perda de competitividade do estado e depois apontou investimentos para solucionar “gargalos” históricos da infraestrutura pernambucana. Aos participantes do seminário, que reuniu na plateia boa parte dos responsáveis pelo Produto Interno Bruto estadual, a governadora garantiu que o Arco Metropolitano – a alça rodoviária que vai ligar os municípios de Goiana (da montadora Stellantis) a Ipojuca (Porto de Suape) – terá a primeira parte, o seu eixo sul, finalmente concluída em dezembro de 2026.

“Vamos tirar o sonho do papel”, disse Raquel, destacando o investimento de R$ 1,3 bilhão – dividido entre os governos federal e estadual – para que as empresas do norte da Região Metropolitana tenham acesso a Suape sem enfrentar os constantes engarrafamentos da BR-101. Esta via expressa de 95 quilômetros de extensão já era para estar em operação há dez anos. O eixo sul do Arco Metropolitano tem 45,3 km de extensão e vai da BR-408, em Paudalho, até a BR-101, no Cabo de Santo Agostinho, deve ter sua obra licitada neste semestre. Já o eixo norte, com 50 km e que interliga as BRs 408 e 101, na altura de Goiana, ainda está em planejamento e sem data prevista de licitação.

A duplicação da BR-232, no trecho de 102 quilômetros entre São Caetano e Arcoverde, é outra obra viária que está no radar do governo do estado. Raquel Lyra disse que a administração estadual será responsável pela carteira de projetos que garantirá os recursos para o início da obra. A elaboração dos projetos básicos e executivo estava orçada em R$ 5 milhões. Com recursos do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e em parceria com Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), o governo de Pernambuco espera depois duplicar um outro trecho da BR-232, desta vez de 159 quilômetros, entre Arcoverde e Serra Talhada, no Sertão.

Infraestrutura: Compesa e Metrô

“Alavancar a infraestrutura é melhorar o ambiente de negócios”, afirmou Raquel Lyra, ressaltando os cerca de R$ 1 bilhão em investimentos realizados pela sua gestão em 2024. A modelagem de concessão da Compesa para a iniciativa privada e uma solução para o Metrô do Recife, que pode passar até por uma estadualização, foram outras ações destacadas pela governadora no seu discurso que encerrou o seminário.

Em sua apresentação, o diretor-presidente do Complexo Industrial Portuário de Suape, Márcio Guiot, pontuou que ações de infraestrutura beneficiam todo o setor produtivo do estado. “Suape não vive sozinho”, disse, citando o empreendimento que reúne 83 empresas e é gerador de 20 mil empregos diretos. Para ele, iniciativas como melhores estradas e a viabilização da ferrovia Transnordestina valorizariam um dos mais importantes ativos econômicos de Pernambuco, que é o complexo industrial portuário.

Até 2030, Suape receberá R$ 23,66 bilhões de investimentos que permitirão dragagem, recuperação do molhe, ampliação de terminais e uma maior operação de cargas, incluindo automóveis e contêineres. O complexo portuário também se prepara para ser um importante player regional no novo mercado de energia renovável capitaneado pelo hidrogênio verde. Em parceria com a Refinaria Abreu e Lima, da Petrobras, outro tipo de hidrogênio, o azul, poderá ser comercializado utilizando o C02 resultante do processo de produção de diesel. Das 24 milhões de toneladas de carga movimentadas anualmente por Suape, 69% são de combustíveis.

superintendente do Dnit em Pernambuco, Bruno Bittencourt

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Bruno Bittencourt apresentou levantamento do DNIT que mostra a boa qualidade das estradas federais que cortam Pernambuco. Foto: Bruna Lapa/ME

Na sua apresentação, o superintendente do DNIT em Pernambuco, Bruno Bittencourt, apontou 80% das rodovias da malha rodoviária federal do estado encontram-se em bom estado. São 2.358 quilômetros de vias, sendo 94% pavimentadas. “Rodovia duplicada facilita circulação de pessoas e mercadorias, incrementando o turismo e o desenvolvimento econômico”, disse, citando 65 km de três BRs (104, 407 e 423) que passam por ampliação de faixas, beneficiando cidades como Petrolina, Toritama, São Caetano e Lajedo. Segundo ele, o órgão tem ao todo 40 contratos ativos e previstos em Pernambuco, com recursos estimados em R$ 570 milhões.

secretário de Infraestrutura de Pernambuco, Diogo Bezerra

Seminário “Construindo Caminhos para o Desenvolvimento” Atitude Fiepe infraestrutura
Diogo Bezerra revelou os investimentos do governo estadual na manutenção das estradas da malha estadual. Foto: Bruna Lapa/ME

Investimento em rodovias também foi o ponto destacado pelo secretário de Infraestrutura de Pernambuco, Diogo Bezerra. Segundo ele, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) foi o maior catalisador do investimento de R$ 1 bilhão feito pelo governo do estado neste ano. “É o maior investimento de Pernambuco nos últimos 6 meses, comparando-se os últimos dez anos”, afirmou. Os recursos foram destinados, em sua maioria, para a construção e conservação de 9 mil quilômetros de estradas. Somente a manutenção das rodovias consomem R$ 1,7 bilhão do orçamento por ano. Em relação ao Arco Metropolitano, Diogo Bezerra ressaltou que o projeto está sendo desenvolvido para que obedeça aos padrões do DNIT. “Com isso, vamos conseguir desafogar a BR-101 e todas as perimetrais da Região Metropolitana do Recife”, prometeu.

secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, Guilherme Cavalcanti

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Guilherme Cavalcanti afirmou que Pernambuco é o melhor estado do Nordeste para atrair grandes investimentos. Foto: Bruna Lapa/ME

O secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, Guilherme Cavalcanti, destacou que o estado possui a segunda maior malha viária do Nordeste, com 800 quilômetros construídos ou restaurados pela atual gestão. Ele pontuou que o governo vem fazendo o primeiro mapeamento das oportunidades econômicas de Suape, assim como o mapeamento das possíveis cargas que podem circular para ferrovia Transnordestina.

Acreditando na construção do trecho pernambucano da ferrovia, que atualmente encontra-se na fase de definição da empresa/consórcio que elaborará o projeto inicial, Guilherme Cavalcanti destacou o potencial de Suape de escoar até a produção de grãos do Piauí, Maranhão e região Centro-Oeste. “Construindo nossa base de inteligência, vamos também liderar a revolução do combustível do futuro, o hidrogênio verde”, afirmou.

diretor de Relações Institucionais do Grupo Neoenergia, João Paulo Neves Baptista Rodrigues

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João Paulo Neves Baptista Rodrigues abordou o cenário da infraestrutura de energia elétrica no estado. Foto: Bruna Lapa/ME

Em relação ao potencial energético, o diretor de Relações Institucionais do Grupo Neoenergia, João Paulo Neves Baptista Rodrigues, garantiu que Pernambuco está numa posição de destaque no Nordeste e no Brasil. Mais de 82% da energia produzida no estado já são provenientes de fontes renováveis e a estrutura atual tem capacidade de abastecer o dobro da população existente. Como diferenciais, ele destacou o avanço da descarbonização, com a implantação da planta de energia solar que deverá abastecer Fernando de Noronha, a manutenção da termelétrica em Suape por mais 15 anos e a instalação de 35 mil lâmpadas de tecnologia LED na iluminação pública de todo o estado até 2025.

economista da Consultoria Econômica e Planejamento (Ceplan), Tânia BacelaR

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Tânia Bacelar destacou dois temas pouco discutidos: a economia do mar e a implantação de banda larga articulada no cinturão digital do estado. Foto: Bruna Lapa/ME

A economista da Consultoria Econômica e Planejamento (Ceplan), Tânia Bacelar, afirmou a necessidade de se olhar para o futuro, sem esquecer o passivo relevante que Pernambuco tem em relação à sua infraestrutura. “Decisões estratégicas em infraestrutura podem mudar a realidade de um lugar”, destacou. Ela apontou a importância de se criar uma política de desenvolvimento, citando como exemplo o que aconteceu com Portugal, que utilizou recursos da União Europeia para reduzir as desigualdades regionais. “Infraestrutura é um tema central. Há dois temas que ainda se discute muito pouco em Pernambuco: a economia do mar e a implantação de banda larga articulada no cinturão digital do estado”, afirmou.

Presente ao evento, o senador Fernando Dueire (MDB-PE) elogiou a realização do seminário. “Empresários são o vetor para o governo funcionar melhor”. O empresário Avelar Loureiro Filho, da ACLF Empreendimentos, disse que o evento foi uma iniciativa muito importante, mas que sentiu falta de planejamento. “É preciso que o estado – e nós, os empresários – nos debrucemos sobre um planejamento que nos ajude a avançar no que desejamos desenvolver”, disse.

Já o empresário Paulo Sales, do Grupo Moura, entende que a iniciativa é importante para troca de informações. “Nós estávamos precisando dessa interação entre governo e iniciativa privada. Precisávamos discutir e conhecer o que o estado vem fazendo. Acho importante que todos se unam em torno dessa pauta, inclusive as várias entidades empresariais, disse.

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