Único banco público estadual do Nordeste, o Banco do Estado de Sergipe (Banese) iniciou um processo de venda e retroarrendamento de seus imóveis, operação conhecida como sale and leaseback. O procedimento terá o objetivo de captar recursos para ampliar a oferta de crédito aos clientes em um momento de crescimento da instituição. Apesar da medida, o banco afastou a possibilidade de privatização depois que o Sindicato dos Bancários manifestou preocupação com o anúncio, alegando que houve ruídos no comunicado do Banese.
O processo consiste no repasse dos prédios, que, após serem adquiridos pelos compradores, serão imediatamente locados pelo próprio banco. Com isso, o Banese assegurou a manutenção de suas atividades nos mesmos pontos de atendimento. O edital foi lançado em 26 de junho, mas alcançou repercussão somente nos últimos dias, a poucos dias do fim do prazo para o recebimento de propostas de interessados na compra dos imóveis.
O documento não entra em detalhes quantitativos sobre o patrimônio envolvido na operação, mas informações do banco indicam a existência de cerca de 50 agências em todo o estado, 11 delas apenas em Aracaju. O potencial da operação chegaria a R$ 100 milhões.
“Para o Banese, é mais estratégico e rentável captar os recursos com a venda dos imóveis e aplicá-los em operações de crédito aos clientes, ao invés de manter o valor imobilizado em forma de prédios. Trata-se de um método bastante comum no mercado financeiro, que já é adotado por diversos bancos, públicos e privados, e redes de varejo”, explica o diretor de Finanças, Controles e Relações com Investidores do Banese, Aléssio Rezende.
O executivo acrescenta também que esse tipo de operação, conhecida no Brasil como desmobilização de imóveis, é caracterizada pela troca de um ativo permanente pela entrada de dinheiro circulante para investimento na ampliação dos negócios. Por fim, reforça que o edital lançado é apenas uma prospecção do interesse do mercado, que ainda não há compromisso de venda e que o banco analisará se as propostas interessam à sua estratégia de crescimento.
“Quando os possíveis parceiros nos enviarem as ofertas, vamos avaliar se elas interessam à estratégia de crescimento do Banese, que continuará sendo uma instituição pública e sólida, conforme determinação do Governo do Estado, que tem fortalecido o banco dos sergipanos de diversas formas, inclusive com seguidos aportes de capital”, afirma.
Bancários chegaram a temer privatização, mas reunião apaziguou ânimos
O Sindicato dos Bancários se manifestou contrário à medida e chegou a temer que a operação fosse o prenúncio de uma privatização, a despeito de os resultados do banco serem positivos. Na semana passada, porém, os ânimos foram apaziguados após a diretoria da entidade ser convidada por diretores do Banese para ouvir explicações. Na reunião, os representantes do banco teriam feito um pedido de desculpas por eventuais ruídos de comunicação com os funcionários e negado a possibilidade de a instituição ser repassada à iniciativa privada.
“Avaliamos como uma operação precipitada, porque saiu à revelia do sindicato, dos funcionários e funcionárias do banco, dos clientes, ou seja do conjunto da sociedade sergipana”, afirmou o presidente do Sindicato dos Bancários de Sergipe (SEEB-SE), Adilson Azevedo, que participou da reunião juntamente com a economista do Escritório Estadual do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Flávia Rodrigues.
Atualmente, a operação está na fase de análise das propostas apresentadas e assinaturas de acordos de confidencialidade. A previsão é de que a seleção dos proponentes ocorra em setembro.
Banese: operação vai ocorrer em cenário de números positivos
O Banese registrou um lucro líquido de R$ 17,4 milhões no primeiro trimestre de 2024, valor 27% maior que o apurado no mesmo período do ano passado. Os ativos totais do banco atingiram a marca de R$ 9,7 bilhões, um crescimento de 15,1% no mesmo período e de 8,7% em relação ao trimestre imediatamente anterior.
Além disso, as operações de crédito tiveram aumento de 13% em 12 meses, alcançando a marca de R$ 4,1 bilhões. Já as receitas totalizaram R$ 376,3 milhões ao fim do primeiro trimestre do ano, com destaque para as receitas com operações de crédito, que registraram R$ 198,7 milhões, o que equivale a 53% das receitas totais e um crescimento de 13,3% no ano.
O banco encerrou março deste ano com R$ 8,7 bilhões de recursos captados, um aumento de 9,6% em relação ao trimestre anterior e de 15,8% quando comparado ao mesmo período de 2023. Outro dado relevante é relativo ao patrimônio líquido da instituição, que variou em +11,1% nos últimos doze meses. O crescimento é fruto principalmente dos aportes realizados pelos atuais acionistas, sobretudo o Governo do Estado, por meio da subscrição privada de novas ações, assim como a incorporação à reserva de lucros do resultado do período. Desde janeiro de 2023, a atual gestão estadual indica ter feito três aportes no Banese.
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