A inadimplência (percentual de consumidores com dívidas atrasadas) vem apresentando uma trajetória de queda que se consolidou em fevereiro passado na Bahia e Pernambuco, de acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic). O estudo é elaborado pela Confederação Nacional do Comércio (CNC) em parceria com as Fecomércio estaduais.
Para o setor, a retração reflete fatores como a melhoria do emprego, desaceleração da inflação e os impactos do Desenrola Brasil, programa federal de renegociação de dívidas negativadas. Mesmo assim, o endividamento segue elevado nos dois estados. Como explicar esse cenário e o que ele representa?
Inadimplência no Brasil cai por 5 meses
Para entender esse panorama, é necessário ter a visão do contexto do país a partir da PEIC referente ao mês passado e que teve os resultados nacionais divulgados semana passada e agora entra na fase de publicação dos números dos estados.
Segundo o levantamento, o percentual de famílias inadimplentes, no Brasil, caiu para 28,1% em fevereiro. É a quinta redução seguida desde setembro de 2023, quando o indicador estava em 30,2%, e o menor nível desde março de 2022 (27,8%).
Fique por dentro da inadimplência na Bahia
Na Bahia, o economista Guilherme Dietze, da Fecomércio-BA, toma os dados de Salvador na PEIC para explicar o momento atual no estado. “Temos uma trajetória de queda da inadimplência, consolidada ao longo de um ano”, ressalta. “Houve uma redução quase pela metade, de 40% em fevereiro de 2023 para 22% no mês passado”, compara.
“Na outra ponta, observamos que o endividamento não caiu na mesma magnitude. Mas, no cenário em questão, esse não é um dado negativo. O endividamento é sempre saudável quando as famílias conseguem pagar e a retração da inadimplência mostra que é isso que está acontecendo“, explica.
“Vemos uma situação de mais emprego e de inflação moderada, o que amplia a capacidade de tomada de crédito pelo consumidor”, detalha.
Para o economista, esse crescimento mostra o consumo retomando fôlego com a melhora na economia do país e não um agravamento das finanças das famílias, como poderia parecer numa visão superficial.
Famílias endividadas são 63% em Salvador
De acordo com a PEIC, 594 mil famílias entrevistadas – 63,3% da amostra – mantinham alguma dívida ativa em fevereiro, alta discreta, de 0,5 ponto percentual sobre janeiro.
O levantamento também sinaliza, nos últimos meses, para um aumento no percentual de lares soteropolitanos que estão optando por dívidas com prazos inferiores a seis meses e uma redução, por consequência, na parcela de famílias que contraem dívidas com prazos mais longos.
Sobre o comprometimento de renda, a pesquisa traz uma curva que anima a federação do comércio. “No recorte de 12 meses, observamos que o percentual de lares com mais de 50% da renda comprometida registrou a terceira queda consecutiva, chegando a 22,5%. Há um ano, esse percentual era de 32,5%”, assinala Guilherme Dietze.
PE: inadimplência desacelera por 4 meses
Em Pernambuco, a PEIC aponta o quarto mês consecutivo de queda na inadimplência e um quadro de aquecimento do crédito, com reflexos no endividamento, semelhante ao da Bahia.
Segundo o estudo, no mês em análise, 81,9% das famílias estavam endividadas, mas o percentual dos lares que tinham contas em atraso era bem menor (29,4%) e a parcela que não podia pagar suas dívidas ainda mais baixa (15%).
“Apesar do alto número de endividados, o recorte apresenta uma diminuição continuada na inadimplência”, diz o economista da entidade, Rafael Lima.
Para o economista, a reação no mercado de trabalho estadual e o Desenrola Brasil explicam esse quadro com menos inadimplentes.
“No CAGED [Cadastro Geral de Empregados e Desempregados], Pernambuco aparece como o terceiro estado que mais gerou empregos formais em 2023 no Brasil, o que se soma aos efeitos das políticas de renegociações de dívidas”, avalia.
Inadimplência potencial recua no Ceará
Os números mais recentes sobre percentual de famílias inadimplentes no Ceará ainda não estão disponíveis. De acordo com a Fecomércio-CE, os últimos indicadores, de janeiro, são referentes à inadimplência em potencial (proporção de consumidores que enfrentarão dificuldades nos pagamentos).
Essa taxa foi de 9,0% no mês em tela, 0,4 pontos percentuais superior à de dezembro (8,6%), mas 1,1 ponto percentual abaixo do resultado de janeiro de 2023 (10,1%).
A segmentação do consumidor cearense em situação de inadimplência potencial verificado em janeiro revela predominância do sexo feminino. Além disso, destaca-se o grupo etário com idade acima dos 35 anos e a faixa de renda familiar mensal inferior a cinco salários-mínimos.
Serasa não compartilha desse otimismo
Maior plataforma de análise de crédito do mundo, a Serasa Experian não compartilha do otimismo da Fecomércio da Bahia e Pernambuco. Embora o levantamento ainda não tenha avançado até fevereiro, o Mapa da Inadimplência – elaborado pela companhia – traz uma realidade diferente.
De acordo com o levantamento, o percentual de consumidores com dívidas atrasadas cresceu 1,4% no primeiro mês do ano, totalizando 72 milhões de negativados. No Nordeste, Pernambuco aparece com a maior porcentagem de população inadimplente (45,1%), seguido pelo Ceará (44,9%).
A Bahia (41%) aparece bem atrás, na sexta posição regional e 19ª nacional, mas ainda assim à frente da Paraíba, Maranhão e Piauí.
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