Em assembleia na manhã desta sexta-feira (9), os policiais civis decidiram recuar da ameaça de realizar uma greve em pleno Carnaval de Pernambuco. A paralisação seria a primeira da categoria a acontecer neste período em toda a História do estado. Já a governadora Raquel Lyra anunciou um investimento de R$ 12 milhões em segurança, no ciclo carnavalesco, e um aumento de 10% no efetivo que estará trabalhando na festa.
A greve foi o assunto político mais importante nas últimas semanas pelo potencial de desgastar o governo no momento em que está sendo implementado o programa Juntos Pela Segurança e prejudicar o maior evento da economia criativa no estado, com estimativa de movimentar R$ 3 bilhões este ano.
O Sindicato dos Policiais Civis (Sinpol) chegou a anunciar que iria descumprir uma ordem do Tribunal de Justiça de Pernambuco para que a greve não fosse realizada.
Carnaval de Pernambuco com politização da polícia civil
Nesta sexta-feira, as lideranças relatam um clima tenso na assembleia que definiu os rumos do movimento. A reunião teve forte conotação política, com a presença do presidente da Assembleia Legislativa (Alepe), Álvaro Porto. O presidente, embora seja do mesmo partido que Raquel Lyra, o PSDB, vem gerando uma crise institucional entre a Casa Joaquim Nabuco e o Palácio do Campo das Princesas, sem precedentes no estado.
Também participou do encontro, o deputado Joel da Harpa, presidente da Comissão de Segurança Pública da Alepe e uma das figuras mais controversas da casa. É um bolsonarista radical com posicionamentos polêmicos, a exemplo de sugerir que o governo do estado jogasse, aos tubarões, presidiários que cumprem pena por crime hediondo.
Na assembleia, de acordo com o presidente do Sinpol, Áureo Cisneiros, foi assinado um documento de compromisso com uma proposta apresentada por Álvaro Porto.
A proposta contempla a realização de uma reunião entre Governo Raquel Lyra e uma comissão da categoria na segunda-feira pós-carnaval (19), às 10h da manhã, na presidência da Alepe, que assume a intermediação das negociações. O Sinpol vinha pleiteando que esse papel fosse cumprido pelo TJPE.
Álvaro Cisneiros afirma que o recuo dos policiais civis – que vão realizar uma operação padrão durante o carnaval – exige contrapartida. A categoria quer o “cumprimento do compromisso público da governadora Raquel Lyra, apresentado em diversos veículos de comunicação, de realizar ainda em fevereiro e terminar em maio as tratativas de negociação com o Sinpol”, sustenta nota divulgada pela entidade.
Os profissionais da segurança querem também, ainda segundo a nota, “o cumprimento do ofício enviado pela Secretária de Administração informando que os policiais civis serão prioridade nas negociações”.
Carnaval passa, politização fica
A greve no Carnaval de Pernambuco foi suspensa, mas não o acirramento da politização do Sinpol na gestão Raquel Lyra. O sindicato afirma que, por meio da Confederação Brasileira dos Trabalhadores Policiais Civis e a Federação dos Policiais Civis do Nordeste, vai solicitar uma audiência com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski.
O presidente da secção regional da federação da categoria, Tony Britto, diz que vai articular a participação, nesse encontro, de todos os presidentes dos sindicatos de policiais civis do Nordeste. “Chamaram a atenção das entidades nacionais do setor os baixíssimos salários e péssimas condições de trabalho”, acrescenta.
A decisão de levar esse assunto a Brasília, como se os governadores não tivessem condições de resolvê-lo, coloca os estados numa situação delicada, já que, em última análise, salário e condições de trabalho do funcionalismo estadual são questões que dizem respeito aos governos de cada unidade da federação. O que sugere que esta é uma estratégia mais política, do que prática.
Raquel contra-ataca com agenda positiva
Enquanto o Sinpol realizava ato com um dos maiores adversários da governadora, Raquel Lyra contra-atacava com uma agenda positiva na segurança pública. Em visita ao Centro Integrado de Comando e Controle (CICCE), no bairro de São José, no Recife, Raquel anunciou o valor que será investido este ano na área de defesa social, durante o Carnaval de Pernambuco, e detalho a estratégia para o período.
Segundo a governadora, o número de jornadas de trabalho no ciclo carnavalesco vai chegar a 67,8 mil.
“São 67 mil lançamentos de homens e mulheres para garantir a segurança pública do nosso estado. O Centro de Comando Operacional da Defesa Social está funcionando na capital, no Agreste e no Sertão com todas as operativas do Estado para garantir que o folião que brinca em Pernambuco possa voltar para casa com tranquilidade”, afirmou.
Durante o carnaval de Pernambuco, de acordo com material divulgado pelo governo, a Secretaria de Defesa Social (SDS) vai atuar de maneira integrada com o sistema de acompanhamento de ocorrências, a Corregedoria Geral, células integradas de inteligência e o monitoramento das ações das corporações policiais.
Por meio deste Centro – detalha o governo – “haverá a coordenação de todo trabalho de policiamento nos polos de folia do carnaval, com o espelhamento de câmeras das Prefeituras de Olinda e Recife”. “Serão monitoradas cerca de 450 câmeras, 358 no Recife, 45 em Olinda, além do monitoramento nos terminais integrados por meio das câmeras do Consórcio de Transporte Metropolitano”, frisa o conteúdo.