César Piorski*
Na década de 1930, o economista britânico John Maynard Keynes revolucionou a maneira como os economistas analisam e compreendem os mercados e suas flutuações. Particularmente, Keynes argumentava que a decisão de investir constitui um ato sujeito à incerteza, de maneira que a fim de compensar tal ignorância, os investidores apoiam-se no estado geral das expectativas para determinarem, a partir do investimento, o nível de emprego e renda da economia.
Na década de 1960, o economista James Tobin, ao estudar a relação entre investimento e alocação de recursos, levantou a hipótese que o incentivo a investir, por parte de qualquer empresa, guarda uma relação direta entre o valor de mercado da empresa e o valor de reposição dos seus ativos reais (máquinas e equipamentos), esta relação ficou conhecida como “Q de Tobin” e tinha a pretensão de explicar as decisões de investimento por parte das empresas.
Na prática, o Q de Tobin assume valores maiores ou menores do que a unidade. Para um Q de Tobin menor que a unidade (Q < 1), o indicativo é que o valor de mercado da empresa é menor que o valor de reposição dos seus ativos, neste caso, não haveria qualquer incentivo para investir, visto que o atual estoque de ativo não está gerando os rendimentos esperados (expectativas), evidenciando, com isso, expectativas pessimistas quanto ao futuro da empresa.
Por outro lado, nos casos para os quais Q de Tobin se mostra maior que a unidade (Q>1), o valor de mercado da empresa é maior que o valor de reposição dos seus ativos reais, sinalizando, dessa forma, um otimismo (expectativa) do mercado em relação àquela empresa, pois o estoque de ativos está gerando rendimentos superiores aos esperados, fato este que reforça a propensão a investir, por parte da empresa.
Dado que, a partir do Q de Tobin podemos inferir sobre o estado de expectativas e, consequentemente, sob o incentivo a investir o qual Keynes se referia, tem-se que no período atual, a economia brasileira registra um Q de Tobin da ordem de 1.33 (empresas geram receitas econômicas pouco acima do esperado), evidenciando uma expectativa positiva, porém, ainda tímida quanto ao desempenho futuro da economia.
Contudo, observando em nível mais desagregado, os setores de Alimentos Processados, Químicos, Máquinas e Equipamentos, apresentam Q de Tobin da ordem de 10, 5 e 9 respectivamente, indicando elevado otimismo em relação ao comportamento futuro destes setores.
Isso posto, a julgar pela métrica de Tobin, tomada como indicativo das expectativas quanto ao desempenho futuro da economia brasileira, tem-se que no geral o estado de expectativas é de otimismo moderado, com otimismo arrojado ainda restrito aos setores de Alimentos Processados, Químicos, Máquinas e Equipamentos. Portanto, ainda insuficiente para reduzir o desemprego de maneira drástica, e acelerar o crescimento do PIB.
Logo, no que depender das expectativas, ainda estamos à espera de dias melhores.
*César Piorski é Doutor, Mestre e Bacharel em economia com especializações em Economia de Empresas, Engenharia Financeira e Macrocenários. Atua como estrategista da Volk Capital, empresa que fundou em 2022.
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