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População e prefeitos cobram barragem do Engenho Pereira, obra de R$ 50 milhões

Prefeitos de Jaboatão e de Moreno reclamam atenção para as enchentes nos municípios.
Barragem do Engenho Pereira
Placa fixada na gestão do ex-governador Paulo Câmara, mas obra da barragem segue parada/Foto: cortesia

Por Fernando Ítalo e Patricia Raposo

Após as últimas chuvas, que levaram 15 municípios a decretar estado de emergência em Pernambuco, o Governo do Estado anunciou que pretende retomar as obras de quatro barragens para contenção de enchentes da Zona da Mata Sul, paralisadas em governos passados. São elas: Panelas II, Gatos, Barra de Guabiraba e Igarapeba. No entanto, especialistas ouvidos pelo Movimento Econômico alertam que é preciso incluir mais uma barragem, a do Engenho Pereira, que evitaria as enchentes em Jaboatão dos Guararapes.

“É importante esclarecer que Jaboatão dos Guararapes não tem sido atingido por inundações. O município tem sido atingindo por enchentes”, alerta o arquiteto e urbanista Fred Moreira Lima, sócio na Moreira Lima Consultores & Projetos, empresa que atua com desenvolvimento urbano em todo o Nordeste.

Moradores de Jaboatão se mobilizam

Além de afetar milhares de famílias, essas enchentes atrapalham a economia do município. O bairro da Muribeca é hoje um importante centro logístico, que tem travado em dias de chuvas. Nesta quinta-feira (13), o Movimento Somos Todos Muribeca realiza uma reunião pública, a partir das 19h, no Colégio Santa Joana D’Arc, para exigir providências em relação às cheias recorrentes.

A barragem do Engenho Pereira é um dos pontos mais importantes da pauta. Essa frente representa comunidades que somam cerca de 26 mil pessoas que são afetadas pelas enchentes do rio Jaboatão. “Quem mora nas áreas mais baixas é ainda mais prejudicado: tem que enfrentar o risco de ter a casa invadida pela água ou ser levado pela correnteza, a cada período chuvoso”, afirma um dos líderes do movimento, Diógenes Pereira Dantas. Outra localidade muito afetada é o bairro de Marcos Freire.

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Jaboatão
Moradores dizem que enchentes se tornaram rotina em Jaboatão/Foto: reprodução Instagram

De acordo com Dantas, a construção da barragem poderia reduzir o problema das cheias entre 50% e 70%. “Engenho Pereira é fundamental e vamos pressionar o poder público municipal, estadual e federal para que saia do papel”, acrescenta. A execução da obra cabe a Compesa.

Reprodução do Instagram @novaprazeresdeolhonanotícia

Ao retomar as obras das quatro barragens, o plano do Governo de Pernambuco, em meio a mais um estado de emergência provocado pelas chuvas, é o controle das bacias dos rios Una e Serinhaém. Juntas, as barragens envolvem investimentos de quase R$ 90 milhões. “Mas o rio Jaboatão precisa ser contido. Ele desce com muita força de Moreno e quando a chega a Jaboatão dos Guararapes, não encontra escoamento para as águas, porque o leito do rio está assoreado e os canais obstruídos”, alerta o engenheiro Walter Kleiton Lins, diretor técnico da Moura Lins Engenharia e especialista em Infraestrutura de Transportes e Hidrologia.

mapa das barragens

O que dizem os políticos

Entre os políticos e gestores públicos ouvidos pela reportagem, a determinação é cobrar à governadora Raquel Lyra e à União que a barragem de Engenho Pereira seja retomada com urgência. O empreendimento, considerado essencial para o controle do rio Jaboatão e paralisado desde 2014, vai beneficiar principalmente Jaboatão dos Guararapes e Moreno.

Mano Medeiros, prefeito de Jaboatão dos Guararapes
Mano Medeiros, prefeito de Jaboatão dos Guararapes/Foto: divulgação Secom

O prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Mano Medeiros (PL), defende que “a barragem do Engenho Pereira é de suma importância para conter as enchentes e proteger os moradores das áreas próximas ao rio Jaboatão”. “Algumas vezes, nem chove em nossa cidade, mas somos afetados devido ao grande volume de água que desce pela bacia do rio, em Vitória de Santo Antão e Moreno”, relata.

O prefeito detalha que Muribeca é a localidade mais atingida. “Das 100 pessoas que acolhemos nos nossos abrigos no último final de semana, 96 eram daquele bairro”, contabiliza. O gestor promete mobilização para que as cheias e seus impactos, muitas vezes fatais, deixem de ser um fenômeno fixo do calendário da cidade, no inverno.

“Cobraremos a retomada da barragem ao governo do estado e à secretaria estadual de Recursos Hídricos. Também seguiremos nas articulações para que a União colabore não apenas nesta obra, como também enviando recursos para execução do Plano Estadual de Contenção de Enchentes como um todo”, sustenta.

Em segundo plano

O ex-prefeito de Jaboatão dos Guararapes e ex-deputado estadual Elias Gomes (MDB) avalia que a obra do Engenho Pereira está sendo relegada a um segundo plano. “O projeto faz parte de uma solução para os problemas crônicos de enchentes e, infelizmente, se encontra parado e sem previsão de retomada”, critica.

Local da barragem do Engenho Pereira
Local da barragem do Engenho Pereira: só mato/Foto: cortesia

“São necessários R$ 54 milhões para a conclusão do empreendimento. Apesar do alto custo, é possível tirar o projeto do papel, articulando-se com os governos estadual e federal, e com os parlamentares que receberam votos na cidade”, afirma.

Quando foi concebida, a obra estava orçada em pouco mais de R$ 33 milhões. “Retomar obra paralisada sempre sai mais caro”, lembra Fred Moreira Lima, que também é ex-prefeito de Panelas. “Todas essas barragens vão exigir novos estudos”, atesta. Ou seja, o dinheiro gasto no primeiro estudo foi para o lixo.

Elias Gomes
Ex-prefeito de Jaboatão dos Guararapes Elias Gomes/Foto: cortesia

Elias Gomes, que foi prefeito por dois mandatos consecutivos, de 2009 a 2017, destaca que em sua gestão foi elaborado e implantado o Plano de Macrodrenagem do município. O atual secretário de Serviços Urbanos e Defesa Civil (Sesurb), Harley Souza Tavares, afirma que R$ 15 milhões são investidos anualmente nessa iniciativa.

No entanto, o engenheiro Kleiton Lins analisa que a macrodrenagem, apesar de importante, não tem fôlego sozinho para prevenir inundações em Jaboatão dos Guararapes e Moreno. “Essas intervenções não são suficientes. A construção da barragem do Engenho Pereira e a dragagem do rio Jaboatão entre o Cabo de Santo Agostinho e Jaboatão dos Guararapes são fundamentais”, argumenta.

Moreno

“Engenho Pereira já deveria ser uma realidade há vários anos. Nossa cidade sempre sonhou com essa barragem que poderia pôr fim a duas situações: as cheias e a precariedade do abastecimento de água na região”, reclama o prefeito de Moreno, Edmilson Cupertino (PP).

Edmilson Cupertino, prefeito de Moreno
Edmilson Cupertino, prefeito de Moreno/Foto: cortesia

O gestor afirma que tem realizado uma peregrinação frequente a Brasília, desde 2021, na tentativa de articular recursos para o empreendimento. Agora, promete intensificar a agenda de viagens à capital do país. Segundo ele, houve, nas gestões passadas, desentendimentos entre os governos federal e estadual em relação às desapropriações necessárias e à área que deverá ser alagada, além de desavenças políticas. “Esses problemas contribuíram para que a obra acabasse paralisada em 2014”, ressalta.

Poder Legislativo

Atual presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) e correligionário da governadora, o deputado estadual Álvaro Porto (PSDB) cobrou a implementação de Engenho Pereira em junho do ano passado, no plenário da casa, à gestão do então governador Paulo Câmara (PSB). Porto foi autor de um pedido de informações sobre o atraso da obra, enviado pela mesa diretora ao então governador Paulo Câmara (PSB) e à Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa). Mas nada avançou.

O presidente afirma que “reitera a importância da barragem para a contenção de enchentes e solução do abastecimento de água de Moreno e de áreas de Jaboatão dos Guararapes”.  O deputado “lamenta o fato de o governo anterior não ter buscado retomar as obras e adianta que o pleito será apresentado ao atual governo”.

O que diz o governo do estado?

Até o momento, não há previsão para o retorno das obras da represa. Por meio de nota, a Secretaria Estadual de Recursos Hídricos e Saneamento informa que “a barragem do Engenho Pereira teve construção iniciada no município de Moreno, sendo destinada a usos múltiplos da água, entre eles o abastecimento e redução de inundações. A obra foi paralisada em gestões anteriores da Compesa”.

“Atualmente, está sendo objeto de estudo de modelagem econômica para definição da forma mais adequada para a conclusão da obra. Ainda neste semestre será definido o arranjo mais viável para a retomada dos serviços”, conclui o documento.

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