As vendas de cimento não adam muito bem e isso indica que o setor de construção também segue em ritmo desacelerado. Apesar de uma ligeira melhora em maio, a queda acumulada neste ano (de janeiro a maio), já é de -2,5%.
E o que contribui para isso é o alto endividamento e inadimplência das famílias aliados à taxa de desemprego em patamares elevados. A lenta recuperação dos salários e as incertezas econômicas, também afetam o setor.
Em maio, as vendas da indústria cimenteira cresceram tímidos 1,0%, em comparação ao mesmo período do ano passado. Em termos nominais foram comercializadas 5,6 milhões de toneladas, de acordo com o Sindicato Nacional da Indústria de Cimento (SNIC).
Ainda em maio, na comparação por dia útil, as vendas do produto alcançaram 232 mil toneladas, uma alta de 3,8% em comparação a abril e de 1,2% em relação a igual período de 2022.
Desaceleração no consumo de cimento
No entanto, os principais indutores do consumo de cimento continuam desacelerando, diante das altas taxas de juros. Esse fator tem dificultado o acesso ao crédito e limitado lançamentos e financiamentos imobiliários.
Os lançamentos caíram -30,2% no primeiro trimestre de 2023, em comparação ao mesmo período do ano passado. O recuo foi ainda maior dentro do programa habitacional Minha Casa Minha Vida (MCMV), que teve queda de -41,8% frente ao primeiro trimestre de 2022.
Enquanto isso, a queda nas vendas foi de -9,2% nos lançamentos gerais e -37,1% no MCMV, diminuindo ainda mais os estoques de obras, o que tem gerado efetiva preocupação da indústria do cimento frente a demanda no curto e médio prazo.
A boa notícia, é que na última quarta-feira (06), a Câmara dos Deputados aprovou a medida provisória (MP) que recria o programa Minha Casa Minha Vida e o texto seguiu para o plenário do Senado.
O relatório aprovado traz uma série de mudanças em relação ao texto original da medida provisória. Entre essas mudanças, está o fim da exclusividade da Caixa Econômica Federal para construção das moradias do programa, assim como a previsão de estímulos para entrada de bancos privados, bancos digitais e instituições financeiras locais, como cooperativas de crédito.
Para o deputado Isnaldo Bulhões Júnior (MDB-AL), a nova medida provisória será capaz de retomar a construção de casas populares no Brasil. Bulhões disse que “A retomada do Minha Casa Minha vida é um marco após 4 anos sem nem uma nova unidade habitacional contratada pelo governo federal para o faixa 1”, disse.
Materiais de construção
As vendas de materiais de construção também seguem em retração, reflexo da alta taxa de juros e do baixo poder de compra da população, que tem contraído cada vez mais dívidas.
Em 2023, a inadimplência cresce em ritmo mais acelerado nas famílias da classe média, que ganham entre cinco e dez salários mínimos mensais. De janeiro a abril, a fatia de inadimplentes nesse grupo passou de 20,4% para 22,6%.
Apesar do cenário econômico ainda desfavorável, os índices de confiança caminham em direções opostas. O índice de confiança do consumidor subiu em maio, atingindo o maior nível desde outubro de 2022.
A melhora das expectativas para os próximos meses foi disseminada entre as faixas de renda, com exceção das famílias com maior poder aquisitivo que estão mais pessimistas. O alívio da inflação no curto prazo e o aumento do salário mínimo podem ter influenciado esse otimismo. Porém, o alto endividamento das famílias (48,5%) e o crédito caro ajudam a manter o indicador em patamar baixo e instável.
A confiança da construção voltou a oscilar para baixo em maio. O movimento foi generalizado em todos os segmentos, porém mais intenso nas empresas de infraestrutura. Desde outubro do ano passado a confiança tem oscilado entre altos e baixos, reflexo do crédito mais difícil e caro.
Na indústria, a confiança também desacelerou em maio. A menor demanda, juros elevados e a inflação geram maior cautela nos empresários que projetam redução da produção e uma tendência negativa para os próximos meses.
Ainda que o Produto Interno Bruto (PIB) tenha crescido 1,9% no primeiro trimestre de 2023 em relação ao trimestre anterior, a construção caiu 0,8% em igual período, resultado da taxa de juro elevada, que ainda desafia o setor e traz reflexos diretos tanto para os financiamentos, quanto para os investimentos produtivos e no consumo da população.
*Com informações da Agência Brasil
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