Por José Carlos Cavalcanti*
A estagnação secular, um conceito primeiramente apresentado pelo economista Alvin Hansen em 1938, refere-se às economias sofrendo de uma estruturalmente baixa demanda privada, requerendo taxas de juros muito baixas para sustentar a demanda e para atingir o produto potencial (*) – requerendo certamente taxas de juros tão baixas que elas são menores que a taxa de crescimento econômico.
Este estado, como apontado recentemente pelo Prof. Olivier Blanchard (Professor de Economia do MIT/EUA, foi economista-chefe do FMI e hoje faz parte do Peterson Institute of International Economics – PIIE), é sumarizado por uma formulação que se tornou famosa (pelo menos nas discussões dos macroeconomistas); ou seja: r < g, onde uma segura taxa de juros (r) é menor que a taxa de crescimento (g). Em 2013 o Prof. Lawrence H. Summers (Professor da Universidade de Harvard/EUA, foi Secretário do Tesouro dos EUA no governo Bill Clinton) agitou amplo interesse ao declarar que as economias avançadas estavam em um estado de estagnação secular.
Segundo o Prof. Blanchard, a evidência empírica era certamente muito gritante de que a maioria das economias estava naquele estado. As taxas reais de juros (taxas nominais descontadas das taxas de inflação) tinham declinado de forma estável desde meados dos anos 1980s, e eram menores que as taxas de crescimento, tipicamente negativas. Em acordo, os dois Professores (e muitos outros) exploraram as implicações fundamentais de tal condição. O Prof. Blanchard focalizou a questão no âmbito da política fiscal, e em seu mais recente livro, intitulado “Fiscal Policy under Low Interest Rates” (Política Fiscal sob Baixas Taxas de Juros), extraiu conclusões para a política fiscal.
Ao reconhecer que as atuais taxas de juros estão altas, e não baixas, o Prof. Blanchard chama a atenção para o fato de que devemos nos preparar, no momento, para um mundo em que r > g na média. E aponta que o Prof. Summers, em encontro recente da American Economic Association (janeiro de 2023) opinou que “nós não vamos retornar para a era da estagnação secular”, alterando sua visão anterior.
No entanto, o Prof. Blanchard discorda do Prof. Summers! Primeiramente, porque a questão fundamental é a seguinte: não há variável mais importante para a política macroeconômica do que r – g. Segundo, pelo fato dele acreditar que a estagnação secular foi e é guiada por fatores profundamente estruturais, que nem a COVID nem a inflação fizeram nada para revertê-la.
Para ele, uma vez que os bancos centrais tenham vencido a luta contra a inflação, que eles certamente irão, “nós iremos muito provavelmente retornar a um ambiente macroeconômico não dramaticamente diferente, pelo menos neste respeito, daquele antes da COVID”. Isto significa que taxas de juros seguras – isto é, taxas para ativos sem risco padrão – serão baixas novamente. E como resultado, ele vê uma alta probabilidade de que r < g permanecerá o regime prevalente por algum tempo.
E por que ele acredita que as taxas permanecerão baixas? Para ele o declínio nas taxas seguras dos títulos do governo (ajustadas pela inflação esperada) tem sido estável e global desde os anos 1980s. O declínio pode ter começado mais cedo no Japão, mas essencialmente todas as economias avançadas compartilham a condição até a inflação pós-COVID de 2021. Esta tendência não resultou em eventos particulares, tais como a crise financeira global ou a crise da COVID: enquanto estes levaram a taxas temporariamente baixas, essas taxas baixas foram desvios de curta duração de uma tendência para baixo subjacente.
No restante do seu artigo o Prof. Blanchard dá substância ao seu argumento (marcadamente dando relevância aos fatores que concorrem para o acúmulo de poupança levando ao declínio das taxas de juros). É bem verdade que o artigo foi publicado em janeiro do corrente ano, e o mundo ainda não tinha assistido o início da atual crise bancária, com os fatos acontecidos com os bancos Silvergate, SVB, Signature e Credit Suisse, tampouco as implicações deste ainda recente evento.
Mas qual é o argumento do Prof. Summers, que depois de quase dez anos sustentando que o mundo vivia uma “estagnação secular”, agora deixou de defender esta tese? Eis o que veremos na próxima newsletter!
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre estagnação secular, não hesite em nos contatar!
(*) Definido como o nível de produto real que a economia poderia produzir operando a altas taxas de utilização dos recursos.
*José Carlos Cavalcanti é economista e professor na Universidade Federal de Pernambuco
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