José Carlos Cavalcanti: O papel do Banco Central

Este amplo debate (das interações entre as políticas monetárias, fiscais e macroprudenciais) está na ordem do dia das principais economias do mundo.
José Carlos Cavalncanti
José Carlos Cavalcanti, economista

Por José Carlos Cavalcanti*

O que é um Banco Central de um país ou região? Um Banco Central tem sido descrito historicamente como um “lender of last resort” (um emprestador em última instância), o que significa que ele é o responsável por prover fundos à economia de um país quando os bancos comerciais não podem cobrir uma escassez de oferta. Em outras palavras, o banco central previne que o sistema bancário de um país falhe.

- Publicidade -

Todavia, o objetivo primário dos bancos centrais é ofertar as moedas dos países com estabilidade de preços ao controlar inflação. Um banco central também age como uma autoridade regulatória de uma política monetária de um país, e é o provedor único, e emissor de, notas e moedas em circulação.

Os bancos centrais usam a política monetária para gerenciar flutuações econômicas e para atingir estabilidade de preços, o que significa que a inflação seja baixa e estável.  Em muitas economias avançadas eles explicitam metas de inflação a alcançar.  Eles conduzem políticas monetárias ao ajustar a oferta de moeda, usualmente através de compra e venda de títulos no mercado aberto.

Operações no mercado aberto afetam as taxas de juros de curto prazo, as quais, por seu turno, influenciam as taxas de longo prazo e a atividade econômica.  Quando os bancos centrais baixam as taxas de juros, a política monetária é facilitadora. Quando eles elevam as taxas de juros, a política monetária é restritiva.

- Publicidade -

A crise financeira global de 2007-2009 mostrou que muitos países necessitaram identificar e conter riscos ao sistema financeiro como um todo. Muitos bancos centrais adotaram o uso de ferramentas prudenciais e estabeleceram arcabouços de política macroprudencial para promover estabilidade financeira. No entanto, a adoção de políticas macroprudenciais em todo o mundo tem alimentado um debate que diz respeito aos efeitos dessas políticas e suas interações com a política monetária.

Esse debate veio se somar a um debate mais antigo sobre as interações entre as políticas monetárias e fiscais, particularmente em períodos mais críticos da história econômica recente, como na Grande Inflação dos anos 1970s, a Grande Moderação nos anos 1990s, e a Grande Crise Financeira (2007-2009) e seus desdobramentos atuais. Este debate está no seio das relações entre os bancos centrais e os dois poderes macroeconômicos centrais do Estado: as políticas monetária e fiscal, e como elas interagem entre si.

As políticas monetária e fiscal têm ambas um grande impacto na demanda agregada (demanda de toda a economia) e, em vários graus, na oferta agregada.  A política fiscal afeta a demanda e a oferta diretamente através dos impostos e incentivos que ela cria, pelo investimento público, pelas transferências para famílias e empresas, e pelos salários do setor público. A política monetária trabalha mais indiretamente, primariamente através da taxa de juros, que influencia as condições financeiras, e, portanto, consumo e investimento.  Seus efeitos no setor real, notadamente no investimento fixo dos negócios, são geralmente mais lentos e menos certos, mas também mais pervasivos.

Este amplo debate (das interações entre as políticas monetárias, fiscais e macroprudenciais) está na ordem do dia das principais economias do mundo.  Há uma crença estabelecida na literatura e na experiência financeira internacional que os bancos centrais estão bem situados para conduzir políticas macroprudenciais ao lado das tradicionais políticas monetárias, ambas complementadas pela política fiscal do Estado.  Tal crença se dá porque, como instituições, os bancos centrais estão aptos, de forma independente e autônoma, a analisar riscos sistêmicos.  Independência e autonomia são importantes porque a instituição responsável pela política macroprudencial deve estar apta a suportar pressões políticas e oposição de grupos de interesse na sociedade.

Para um aprofundamento sobre o que são as principais atividades de um banco central, sugerimos a leitura de um livro acessível, intitulado “Central Banking 101”, publicado por Joseph Wang, um profissional que já pertenceu aos quadros do Federal Reserve, o banco central dos EUA, tanto como operador na mesa dos mercados abertos, compilando inteligência de mercado dos fazedores de políticas, quanto executando operações no mercado aberto.

Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre os bancos centrais, não hesite em nos contatar!

José Carlos Cavalcanti é economista

- Publicidade -
- Publicidade -

Mais Notícias

- Publicidade -