Juliana Albuquerque
A produção industrial do Nordeste tem sido diretamente afetada com o endurecimento das restrições impostas pelos governos na tentativa de frear o avanço da Covid-19. E grande parte da queda de 17,1% do setor na região nos últimos cinco meses foi influenciada diretamente pelos resultados negativos da indústria regional.
Segundo explica o tesoureiro do Sindicato do Couro de Pernambuco (Sindicouro-PE), Rafael Coelho, a justificativa para essa queda é que boa parte do setor curtidor é voltado para atender principalmente o segmento de moda, como fabricantes de calçados, bolsas, cintos e vestuário. Com o aumento das restrições, esse mercado praticamente parou a produção. “Desde o início da pandemia fomos fortemente atingidos pelo fechamento do comércio e pela suspensão de eventos sociais que geram a demanda pelo consumo dos produtos de moda. Os nossos clientes fabricantes localizam-se, principalmente, na cidade de Franca, em São Paulo, e no Vale dos Sinos, no Rio Grande do Sul. Em Franca, nos últimos 15 dias foi determinado um rigoroso lockdown, fechando, inclusive, fábricas e supermercados para conter uma forte onda de contágio, falta de vagas nas UTIs e óbitos. Isso impactou diretamente nossas vendas”, comenta Coelho.
Outro ponto, segundo ele, que tem afetado a produção do setor é o aumento do preço da matéria-prima. “Temos que reduzir o volume produzido devido aos elevados preços da carne. O couro é um subproduto da carne e sua oferta está diretamente ligada aos abates. Esses aumentos também geram retração no mercado”, completa.
De acordo com Rafael Coelho, quando se trata de couro, a única indústria do setor coureiro que segue sem sentir tanto o impacto das restrições locais, é a voltada para a produção e exportação de estofados para movelarias. “Esse perfil de produção, contudo, não é a realidade quando se fala do setor em Pernambuco, que tem sua demanda diretamente atrelada à indústria da moda”, argumenta Rafael. Com o arrefecimento da pandemia, ele acredita que será possível um retorno rápido dos negócios no setor.
Para o economista da Fiepe, Cezar Andrade, só com o avanço da vacinação será possível vislumbrar um cenário mais positivo para a indústria como um todo. Conforme ele explica, sem vacina, a possibilidade de novas restrições às atividades não-essenciais é sempre iminente. “Apesar de a indústria não ter fechado durante a pandemia, sua produção é diretamente ligada ao comércio, que ao fechar aos fins de semana deixa de vender e de demandar por novos produtos da indústria que, por sua vez, ainda está com o estoque em alta e deixa de produzir mais”, explica o economista.
Segundo ele, apesar do momento ainda ser de incertezas, as recentes liberações das atividades econômicas em boa parte de Pernambuco revelaram uma perspectiva de otimismo para os empresários da indústria. “A confiança do empresário permanece acima de 50 pontos, dentro de um cenário positivo, mas muito próximo do pessimismo também. Agora, com essa perspectiva de reabertura pode ser que vislumbremos uma melhora no otimismo do setor para produzir mais. Contudo, para uma melhora plena de fato, só após a vacinação em massa mesmo”, pondera Andrade.