A informação é da Saúde Digital Brasil, associação que reúne 90% do mercado do setor no país
Etiene Ramos e Agência Brasil
Diante da explosão de casos de covid-19 e influenza nas últimas semanas, o número de atendimentos médicos a distância – telemedicina – dobrou a cada 36 horas, informou a Saúde Digital Brasil, associação que reúne 90% do mercado do setor no país.
A organização informou que os teleatendimentos semanais para casos de influenza e covid saíram de 7 mil para 15 mil entre o Natal e o Ano Novo. Nos primeiros dias de janeiro o número chegou a cerca de 50 mil consultas.
A MV, um dos players em sistemas médico-hospitalares da América Latina, constatou um forte crescimento da telemedicina desde o início da pandemia, em 2020, quando o uso por seus clientes quadruplicou entre abril e maio. Nos primeiros dez dias de janeiro deste ano, o número de teleconsultas realizadas pelos clientes do sistema Clinic – para clínicas e consultórios, e do SoulMV Hospitalar chegou a 8 mil, em todo o país. O volume representa 80% total de teleatendimentos de dezembro do ano passado.
A variante ômicron do novo coronavírus, com sua alta capacidade de contágio, junto com a H3N2 estão por trás deste crescimento e, de acordo com o diretor comercial da vertical hospitalar da MV, Valmir Júnior, o aumento da demanda já está trazendo uma nova evolução: a telemedicina para consultas de urgência e emergência. “Um dos nossos clientes, o Hospital Mãe de Deus, de Porto Alegre, passou a atender pacientes com sintomas de influenza e de covid-19 em uma sala virtual para urgência e emergência, uma sala de crise, onde não é preciso agendar a consulta”, diz o diretor.
Segundo ele, as instituições de saúde não estavam preparadas pra receber tantos pacientes com a ômicron e a H3N2, ao mesmo tempo, e o medo de contágio em ambientes onde há muita gente com sintomas também contribui para o crescimento da procura pelas teleconsultas. “A grande maioria das pessoas atendidas nem é encaminhada para consulta presencial. O médico já faz a prescrição, encaminha o receituário, atestado médico e orientações por email ou para o celular do paciente. Tudo é registrados da mesma forma que numa consulta eletiva e agendada”, explica Valmir Júnior.
A MV já tinha sistemas prontos para telemedicina mas o setor de saúde tinha resistência à nova tecnologia por vários fatores. Com a pandemia, isso mudou e tanto médicos quanto pacientes desenvolveram uma nova cultura que foi rapidamente incorporada por clínicas e hospitais e pelos serviços de saúde dos estados e municípios. Só na MV, o volume de teleconsultas cresceu dez vezes em menos de um ano de pandemia. “A telemedicina é uma modalidade que veio para ficar. e a tendência é aumentar a procura porque ainda não chegamos ao pico da ômicrom. Em virtude das festas de final de ano, quando os casos aumentaram muito, a grande procura vai ser nas próximas duas a três semanas”, prevê o diretor.
Para Guilherme Weigert, do Conselho Administrativo da Saúde Digital Brasil, a teleconsulta traz benefícios ao paciente.
A teleconsulta só foi autorizada no contexto da pandemia de covid-19 para facilitar o acesso aos profissionais de saúde. Porém, a prática ainda precisa ser regulamentada pelo Congresso Nacional.
O servidor público Paulo Henrique do Espírito Santo contraiu o novo coronavírus pela segunda vez e conta que a teleconsulta foi suficiente para conseguir acompanhamento médico.
O professor de urgências clínicas da Universidade Federal de Pernambuco, Erick Barreto, diz que a teleconsulta trouxe benefícios no contexto da pandemia, mas ressalta que ela não é uma substituta completa para visitas presenciais.
Para Barreto, a telemedicina traz prejuízo em relação à interação afetiva e emocional entre médico e paciente, além de não ser acessível a toda a população. Citou como exemplo idosos sem experiência com o uso de tecnologias, ou pessoas sem acesso à internet.