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6 anos de LGPD: O que ainda precisa ser feito?

Apenas 16% das empresas estão em conformidade, após seis anos da lei ser aprovada
LGPD
LGPD: seis anos da lei que veio para proteger dados/Foto: Imagem de Peter Lomas por Pixabay

Nesta quarta-feira, o Brasil comemora o 6° aniversário da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). A legislação marcou o avanço na proteção da privacidade e dos dados pessoais no país, mas ainda precisa superar algumas barreiras para que a maioria das empresas estejam em conformidade com suas regras.

Aprovada em 14 de agosto de 2018, a LGPD entrou em vigor em setembro de 2020, com sanções aplicáveis a partir de agosto de 2021 com a finalidade de garantir que os dados pessoais sejam utilizados de forma segura e transparente, evitando o uso indevido e assegurando a proteção e segurança jurídica dos cidadãos.

A LGPD define dados pessoais como qualquer informação que possa identificar ou tornar identificável uma pessoa física ou jurídica, como nome, CPF, RG, e-mail e demais dados.

No entanto, a LGPD ainda não é plenamente cumprida em algumas partes do país. Um levantamento realizado pelo portal LGPD Brasil mostrou que, mesmo com a obrigatoriedade, apenas 16% das empresas do país estão em conformidade com a lei. Isso revela que, embora já tenha uma certa conscientização sobre a lei, ela ainda é bastante concentrada em grandes centros urbanos, e é necessário levar esse conhecimento para outras regiões do país.

Após a promulgação da lei, as empresas precisaram se ajustar à nova legislação, adotando práticas específicas. Isso envolveu a criação de políticas e procedimentos de privacidade, treinamento de funcionários e a implementação de tecnologias de segurança da informação. A LGPD estabelece multas e sanções para o descumprimento, o que -teoricamente- incentivou as empresas a se conformarem com a lei.

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Barreiras à LGPD

O advogado e especialista em direito digital pela FGV, Lucas Maldonado D. Latini e sócio no Maldonado Latini Advogados, aponta que uma das maiores dificuldades para a adequação à LGPD está na falta de conhecimento sobre a lei e como ela afeta as operações das empresas. Muitas organizações ainda não sabem que a legislação se aplica ao seu ramo de atuação. O advogado observa que a legislação abrange empresas de diversos setores, como finanças, educação, varejo etc. Todos precisam se adequar ou estão sujeitos a sanções.

Lucas Latini
O advogado Lucas Maldonado Latini/Foto: reprodução Linkedin

Para ele, as disposições sobre a proteção de dados estavam dispersas em diversas leis, dificultando a interpretação e a aplicação desses direitos. “A unificação promovida pela LGPD trouxe clareza e coesão ao marco regulatório brasileiro. Além disso, tivemos a criação da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) para assegurar a fiscalização e o cumprimento da lei”, comenta. Hoje, a ANPD é a responsável por emitir resoluções e guias orientativos que ajudam os agentes de tratamento de dados a entender e cumprir as obrigações.

Embora o marco regulatório tenha avançado significativamente desde sua implementação, há várias questões que ainda precisam ser abordadas pela Autoridade Nacional de Proteção da Dados (ANPD) para garantir que a aplicação continue a ser eficaz.

Um dos tópicos em foco é a regulamentação das transferências internacionais de dados. Em 2022, a ANPD lançou uma consulta pública para criar diretrizes sobre como os dados pessoais podem ser enviados para fora do Brasil. A LGPD exige que essas transferências sejam feitas de forma a garantir a proteção adequada dos dados em outros países. Para isso, a ANPD precisa estabelecer regras claras, inclusive sobre países em que considera ter níveis de proteção compatíveis com a legislação brasileira.

Outro ponto, é a regulamentação da Inteligência Artificial (IA). Até o momento, a legislação brasileira não aborda especificamente o uso da IA em relação à proteção de dados. A ANPD está participando das discussões do Projeto de Lei nº 2.338/2023, que visa estabelecer um marco legal para a IA e está sendo avaliado pelo Senado Federal.

O advogado destaca que um dos pontos mais importantes é que as empresas estabeleçam medidas de segurança, técnicas e administrativas, necessárias para a proteção dos dados pessoais. Essas diretrizes podem incluir padrões mínimos de segurança, uso de criptografia, firewalls e políticas de acesso. A implementação de cada uma delas é uma forma de prevenir incidentes de segurança, como vazamentos de dados, e assegurar que as informações estejam protegidas contra acessos não autorizados.

Larissa Cahú, coordenadora da área de propriedade intelectual, tecnologia e proteção de dados do escritório Da Fonte Advogados
A advogada Larissa Cahú. Foto: Filipe França/Divulgação

Cultura de proteção de dados

Segundo a coordenadora da área de propriedade intelectual, tecnologia e proteção de dados do escritório Da Fonte Advogados, Larissa Cahú, o principal desafio para adequação ao conteúdo LGPD para as empresas é o estabelecimento de uma cultura de proteção de dados.

“Fazer com que o mundo corporativo entenda a importância da proteção de dados, que os colaboradores estejam treinados para implementar a proteção de dados no dia a dia das suas atividades. É um assunto novo que a gente precisa ainda trabalhar muito para que exista engajamento para que as empresas consigam implementar o conteúdo da LGPD de uma forma mais orgânica”, disse.

Outros quatros desafios, de acordo com a especialista em proteção de dados, são: 1) adequação dos processos empresariais internos ao conteúdo da LGPD; 2) elaboração de documentos que sejam de fácil comunicação, com a introdução do “legal design” e uma governança feita para que as pessoas possam entender; 3) estabelecimento de mecanismos de transparência com os titulares de dados, com prestação de contas e 4) entender que o processo de compliance é contínuo.

“Adequar os processos é desafiador, porque mexe na estrutura da empresa e pode haver resistência”, alerta a sócia do Da Fonte Advogados.

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