Inteligência Artificial avança e desafia educação digital no Brasil

Sem investimentos adequados na área, o Brasil pode declinar tecnologicamente perante outras nações e ficar à mercê de países que estão na vanguarda da Inteligência Artificial.
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Inteligência artificial traz desafios ao Brasil/Foto: Pixabay

O recente relatório Recomendações para o avanço da inteligência artificial (IA) no Brasil analisa os impactos da IA sobre o país. O material foi produzido por um conjunto de 16 cientistas, a pedido da Academia Brasileira de Ciências (ABC). O porta-voz da ABC, o professor da UFRJ Edmundo Albuquerque de Souza e Silva acredita que, sendo o Brasil uma economia emergente, se não forem tomadas as devidas providências a IA provocará “um desastre” na sociedade.

A análise é de grande relevância diante do protagonismo que a IA pode ter no desenho do futuro da humanidade. Se isso será bom ou ruim, depende das escolhas que governos e sociedades fizerem diante de seu avanço. O alerta é o seguinte: sem investimentos adequados na área, o Brasil pode declinar tecnologicamente perante outras nações e ficar à mercê de países que estão na vanguarda dessa inovação. Um dos pontos sensíveis é a necessidade de se preparar pessoas para lidar com essa revolucionária tecnologia.

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Na última quinta-feira, o IBGE divulgou a PNAD Contínua trazendo dados sobre o uso da Tecnologia da Informação e Comunicação no quarto trimestre de 2022. A pesquisa mostra que, no período, a Internet alcançou 91,5% dos lares (68,9 milhões) no país, um aumento de 1,5 p.p. em relação a 2021. A taxa de crescimento tem sido cada vez menor, indicando aproximação da universalização do serviço nos domicílios.

A questão, porém, não se resume ao acesso à internet, mas o uso que se faz dela. A PNAD revelou que a principal finalidade para o cesso à rede é “conversar por chamadas de voz ou vídeo”. Em segundo lugar vem “enviar ou receber mensagens de texto, voz ou imagens”. Depois: “assistir a vídeos, programas, séries e filmes”. E, na sequência, “usar redes sociais” e “ouvir músicas, rádio ou podcast”.  “Ler jornais, notícias, livros ou revistas pela Internet” está em sexto lugar nos interesses.

Os dados precisam ser analisados por especialistas, mas de imediato indicam que a diversão é a prioridade no uso da internet no Brasil, embora a rede possa ser acessada por 92,2% dos estudantes.

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Os equipamentos mais utilizados para acessar a internet foram o celular (98,9%) e a televisão (47,5%), e isso explica muita coisa. Computador (35,5%) e tablete (7,6%) ficam por último.

ChatGPT

Os dados podem indicar muitas coisas, inclusive o atraso do Brasil no processo de educação digital. Aprender a usar as ferramentas é fundamental. O professor Souza e Silva adverte sobre o uso do chatGPT, sistema de IA desenvolvido pela OpenAI em 2022, capaz de gerar conteúdo sobre os mais variados assuntos a partir de comandos escritos. “Se não tiver uma consciência crítica e um conhecimento para usar para o bem aquilo que o chatGPT dá como certo, será um desastre. Pode ser a tendência de a população aceitar coisas que uma tecnologia diz e que pode estar certo ou errado”, alerta.

Pensamento crítico

O documento da ABC recomenda a necessidade de educar as pessoas não só para o conhecimento da tecnologia, mas para despertar o pensamento crítico, visando o uso da IA de forma benéfica. Souza e Silva admitiu que existe um potencial de aumento de produtividade com o uso da IA, mas é preciso estar atento a eventuais erros que podem causar impacto grande.

Neste cenário, o nível de especialização requerido será cada vez maior. O professor alerta para a necessidade urgente de formar profissionais qualificados em áreas relacionadas à inteligência artificial, como aprendizado de máquina e ciência de dados. Países com liderança tecnológica já iniciaram essa formação há, pelo menos, uma década. O perigo, segundo avaliou, é precisar de gente mais especializada para desenvolver a tecnologia e, por outro lado, perder aqueles empregos mais simples. Com aumento de produtividade, podem ser dispensadas pessoas que sabem pouco de programação. “Vai haver impacto sobre os empregos menos especializados”.

Isso tudo, segundo ele, é preocupante se não for desenvolvida rapidamente essa tecnologia e não educar as pessoas para níveis mais altos de conhecimento. Para o cientista da UFRJ, essa é a diferença da Revolução Industrial do século 18 para a IA. A transição fica muito mais difícil. “A distância é muito maior. Precisa-se de mais especialização”.

Campanha nacional

O relatório aponta a necessidade de realização de campanha nacional de informação, para que a população entenda o que é inteligência artificial e o assunto passe a ser ensinado nas escolas. A ABC sugere que se criem centros específicos de pesquisa nas universidades sobre essa matéria. “É imperativo que o Brasil estabeleça políticas públicas e investimentos para reverter a tendência de atraso sem demora”, diz o documento.

Benefícios da Inteligência Artificial

Mas há benefícios. O professor Souza e Silva assegurou que o potencial de aplicação benéfica da IA é muito grande, por exemplo, na educação. A nova tecnologia pode ajudar a promover a criatividade e curiosidade e a fornecer conteúdos personalizados aos alunos, entre outras estratégias, com o objetivo de reduzir o abandono escolar.

Na área de saúde, a tecnologia pode ajudar no diagnóstico e identificação de doenças, na personalização de tratamentos e no uso de robôs em procedimentos médicos. Os dados do Sistema Único de Saúde (SUS) podem ser utilizados para desenvolver políticas públicas, “aprendendo com os dados e usando técnicas de IA para tratar essas informações e entender o que está acontecendo com a população”. A IA pode auxiliar o médico a ver coisas que seriam mais difíceis de serem detectadas.

Riscos

O documento da ABC defende a regulamentação da IA para minimizar os riscos que essa tecnologia avançada pode gerar. Entre as preocupações está a violação de privacidade, uma vez que dados de usuários de internet são utilizados para treinar IAs generativas. Outro risco é que algoritmos usados em sistemas de IA, ao serem treinados por humanos, disseminem preconceitos e aumentem desigualdades. “Há um risco social e ético que nós, como sociedade, temos que estar cientes e educados para o impacto que isso pode causar”, observou o professor da Coppe/UFRJ.

*Com informações da Agência Brasil

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