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Produção de H2V pode salvar a indústria de equipamentos eólicos

Nesta 3ª e última reportagem da série, entenda como os parque eólicos podem ser úteis à produção do hidrogênio verde
O presidente do conselho da ABIHV, Luís Viga, explica que a indústria do hidrogênio verde vai precisar de mais geração eólica e solar. Foto: Divulgação

Por Angela Fernanda Belfort e Fernando Ítalo

A indústria do hidrogênio verde (H2V) pode contribuir para uma retomada da produção dos fabricantes de equipamentos do setor eólico, que passam por uma crise iniciada em 2022. “Cada R$ 1 que se investe numa planta de hidrogênio verde, gera-se um investimento de R$ 1,30 na energia renovável, principalmente de eólica e solar”, afirma o presidente do Conselho da Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde (ABIHV), Luís Viga.

A entidade trabalha com a expectativa de que ocorra um investimento de R$ 70 bilhões até 2030 na implantação de plantas de hidrogênio verde no País. Para Luís, a futura produção de H2V “vai consumir a energia que está sobrando no Brasil e contribuir para a construção de mais plantas (de geração), porque é uma indústria eletrointensiva”.

O hidrogênio só é verde se for produzido a partir de energia renovável, como a de geração eólica ou solar. Entre os executivos do setor, é senso comum que o marco legal do H2V, aprovado no último dia 20 de junho, vai ajudar a destravar os investimentos previstos para a implantação de fábricas do hidrogênio verde, mesmo com a regulamentação ainda a ser implementada.  

Somente no Nordeste, são quase 40 empreendimentos interessados em fazerem parte da cadeia de produção do hidrogênio verde. Desse total, dois estão no Piauí, dois em Pernambuco e mais de 30 no Ceará. E a região pode ter um dos custos mais competitivos na produção de H2V, como já apontou um estudo da Bloomberg NEF, contribuindo, futuramente, para baixar o preço do produto no País. 

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O mercado do hidrogênio verde tem um grande potencial porque o combustível é apontado como o que pode ajudar a descarbonizar – diminuir as emissões de carbono – de vários outros setores, como o siderúrgico, o cimenteiro, entre outros. Os segmentos citados emitem carbono nos seus processos industriais e uma parte das empresas está estabelecendo prazos para reduzir as emissões por questões ambientais e de mercado. 

Parque eólico de Icapuí, no Ceará
A crise atingiu primeiro os fabricantes de equipamentos eólicos e não deve chegar aos parques geradores que vendem energia em contratos de longo prazo. Foto: Divulgação

Solução para a crise do setor

Redução da carga tributária e aperto nas regras dos bancos públicos para as operações de financiamento destinadas ao setor solar, com exigência de um percentual de nacionalização de equipamentos, de forma a garantir “isonomia” e desestimular as importações, são alternativas em discussão, assim como um aumento para a alíquota de importação de equipamentos chineses.

Para a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias (ABEEólica), Elbia Gannoum, a luz no fim do túnel na crise dos fabricantes de equipamentos eólicos vai depender de uma série de instrumentos, não de uma ação isolada.

“Quando você tem um problema com uma intensidade muito grande, a solução não é uma única saída. Não é só um fator que vai solucionar a crise de uma indústria tão forte, a de energia eólica”, afirma.

Elbia Gannoum, no entanto, acrescenta que mesmo que todas as alternativas atualmente em discussão sejam integradas num programa para resolver a crise dos fabricantes de equipamentos eólicos, ainda vai ficar faltando o mais importante: equacionar os problemas estruturais que o setor vem enfrentando. 

O crescimento do consumo de energia está ligado ao bom desempenho da economia. Sem resolver a questão do baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e da neoindustrialização do Brasil, o Governo Federal pode até conseguir reduzir as pressões sobre a indústria de equipamentos no curto prazo. A pergunta é: e depois? Como ficam os fabricantes no médio e longo prazo se a demanda no setor elétrico se mantiver no patamar que se encontra hoje? E qual o risco dessa crise se estender às geradoras, na hipótese da economia nacional não decolar como esperado e de o programa Nova Indústria Brasil, do MDIC, não vingar?

Otimista, Elbia Gannoum aposta numa solução negociada com o governo federal para resolver todos esses problemas e descarta a possibilidade da crise avançar até as geradoras e provocar o fechamento de parques. “Os contratos de geração eólicas atuais estão mantidos”, sustenta. 

Ela também acredita numa reação da economia brasileira já no segundo semestre deste ano, como efeito do Nova Indústria Brasil e que seria o suficiente para a reativação do setor.

A presidente da ABEEólica confirma que a cadeia de hidrogênio verde, motivo de disputa entre os estados nordestinos, tem o potencial de gerar um crescimento de demanda de energia em escala exponencial, o que vai tornar essa crise uma página do passado.

Energia eólica
O Nordeste tem mais de 90% de toda a geração eólica que se instalou no Brasil. Foto: Agência Brasil

O impacto dos parques eólicos no NE

As empresas do setor eólico investiram cerca de R$ 250 bilhões entre 2012 e 2023, numa estimativa da Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias (ABEEólica) com base no número de empreendimentos que se instalaram no período.  Dos cerca de 30 gigawatts (GW) de capacidade instalada no País, 28 GW estão no Nordeste, o que significa que mais de 90% destes investimentos ficaram na região. 

A implantação das eólicas fez o Nordeste passar a ser um grande produtor de energia e não depender mais da energia gerada em outras regiões. Em 2023, 15,3% de toda a energia que passou pelo Sistema Interligado Nacional (SIN) vieram das eólicas. 

Leia outras matérias da série:

Crise das eólicas: após 2,5 mil demissões, setor pede socorro

Energia solar no Brasil se aproxima de 20% da matriz e briga com eólica

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