Depois de mais de 13 horas das explosões na Praça dos Três Poderes e desativação das bombas restantes, o corpo de Francisco Wanderley Luiz, ou Tiü França, foi removido e levado para Instituto Médico Legal às 9h desta quinta-feira (14). Era o capítulo final da história do homem que se vestia de modo similar ao vilão “Coringa” quando, na noite de quarta-feira (13), foi protagonista de um atentado frustrado que acendeu o alerta em Brasília.
Aos 59 anos de idade, o catarinense Tiü França já estava no Distrito Federal há quase quatro meses. O seu plano era matar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. Acabou tirando a própria vida usando como travesseiro os explosivos que carregava em uma mochila.
Francisco Wanderley Luiz tinha 59 anos e trabalhava como chaveiro em Rio do Sul, Santa Catarina. Tinha dois filhos resultados do seu primeiro relacionamento. Em 2020 concorreu para vereador pelo Partido Liberal (PL) – atual partido de Jair Bolsonaro, mas que na época ainda não era filiado – com o nome de Tiü França, mas recebeu apenas 98 votos e não foi eleito.
Segundo informações da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Francisco já havia sido réu de crimes contra a incolumidade pública, infração de medida sanitária preventiva, desobediência e furto, chegando a ser preso em 2012. Ele já demonstrava instabilidade mental e postava conversas de WhatsApp nas suas redes sociais, geralmente incitando ódio, inclusive algumas que anunciavam o atentado. Após o ataque, suas contas foram derrubadas pelas plataformas.
Ameaças nas redes sociais
Um de seus posts dizia: “Distrito Federal Brasília 13 novembro 2024. Eu: Francisco Wanderley Luiz mais conhecido Tiü França (ETE x PNEU) ‘Miguel’ Sugiro a vocês uma data especial para iniciar uma revolução. Após este grande acontecimento, vocês poderão comemorar a verdadeira proclamação da república!!! ‘Em espírito estarei na linha de frente com minha espada erguida’ DEUS NOS ABENÇOE”.
Em outra postagem no dia 24 de agosto, ele esteve no Supremo Tribunal Federal (STF) numa visitação pública e fez uma publicação com a mensagem: “Deixaram a raposa entrar no galinheiro (chiqueiro) ou não sabem o tamanho das presas ou é burrice mesmo. Provérbios 16:18 (A soberba precede a queda).”
Tiü França também ameaçou em postagens ter implantado bombas nas casas de José Sarney, Fernando Henrique Cardoso, William Bonner e Geraldo Alckmin, os quais ele dizia serem comunistas. Ele desafiou a Polícia Federal a encontrar e desarmar essas bombas em 72 horas iniciando às 17:48 do dia 13/11, e chamou essa suposta ação de “jogo”, indicando um final para o sábado (16).
Daiane, ex-mulher dele, disse a agentes da Polícia Federal que Francisco já havia avisado de seus planos para ela e que fazia diversas pesquisas no Google sobre o assunto. Ela também informou que a principal motivação do atentado era assassinar o Ministro Alexandre de Moraes e quem mais estivesse junto na hora.
Brasília como destino
Para realizar o atentado, Tiü França saiu de Rio do Sul em 26 de julho e chegou no dia seguinte à Brasília, onde alugou uma casa na QNN 7 de Ceilândia que serviu para armazenar diversos explosivos que seriam usados no crime. Ele usou de diversos aparatos durante o ato, um relógio com contagem regressiva, dois artefatos explosivos no cinto, um artefato explosivo próximo ao corpo, além de um extintor de incêndio adaptado.
Além disso, o chaveiro também utilizou de seu carro para o plano, colocando materiais parecidos com explosivos, fogos de artifícios e tijolos no porta-malas do veículo para fazer uma espécie de carro-bomba.
Francisco inicialmente tentou invadir o Supremo Tribunal Federal para usar as bombas dentro do recinto, mas foi barrado pela segurança. Após isso, ocorreu a primeira explosão por volta de 19h30 – o carro de Tiü França explodiu num estacionamento entre o STF e o Anexo IV da Câmara dos Deputados -.
A segunda detonação ocorreu 20 segundos depois da primeira explosão, quando Tiu França iniciou a arremessar bombas em direção ao Palácio do Supremo Tribunal Federal e à estátua “A Justiça” localizada na frente do local. Logo após os estrondos, o ex-candidato a vereador acendeu um último explosivo e utilizou como travesseiro.
O corpo de Tiü França só foi removido da Praça dos Três Poderes às 9h05 da manhã da quinta-feira (14), mais de 13 horas após os acontecimentos, quando o Batalhão de Operações Policiais Especiais conseguiu assegurar que as bombas que estavam presas no corpo de Francisco estavam desativadas.
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