Segundo maior polo médico do Brasil, atrás apenas de São Paulo, o Recife ganha um reforço no seu portfólio para treinamento de estudantes e aperfeiçoamento de profissionais de Medicina e Odontologia. A capital pernambucana vai passar a integrar a reduzida lista de cidades brasileiras que contam com uma unidade importadora de corpos humanos congelados. Trazidos dos Estados Unidos, pés, mãos, troncos e cabeças (com pescoço) serão utilizados no Instituto de Treinamento em Cadáveres (ITC), investimento de R$ 3,5 milhões que abrirá suas portas neste mês no bairro de Parnamirim.
O ITC, que já possui unidades em operação no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Balneário Camboriú e Salvador, é uma rede especializada na simulação de atendimento clínicos e cirúrgicos. No Recife, a unidade terá estrutura para um auditório, além de um ambiente clínico com 12 mesas cirúrgicas e aquário, tudo equipado com aparelhos de última geração que permitem transmissões ao vivo e simultâneas para todos os ambientes do ITC e fora dele.
O instituto recifense mira a formação de profissionais das regiões Norte e Nordeste em todas as áreas, com cursos para especialidades cirúrgicas, como ortopedia, cabeça e pescoço, bucomaxilo, dor, plástica e para melhoria de procedimentos de rejuvenescimento facial.
São especialistas com poder aquisitivo para pagar treinamentos de técnicas avançadas, como aperfeiçoamento de dissecação, melhor visualização de veias, artérias e de demais órgãos. Para isso, são usados cadáveres separados por idade, número de dentes, biotipo e outras definições.
Ao invés de conservados em formol, como ocorre no Brasil, os cadáveres trazidos dos Estados Unidos passam por uma técnica chamada de fresh frozen, onde os corpos são congelados a uma temperatura de -15º Celsius. As peças são descongeladas no momento do treinamento, permitindo uma situação próxima à de um paciente real.
A técnica fresh frozen não é regulamentada no Brasil. Como o país tem carência de corpos doados para treinamento dos alunos dos crescentes cursos de medicina públicos e privados que surgiram nos últimos anos, a importação passou a ganhar volume.
Cadáveres por partes
Cada parte do corpo utilizado tem um preço de mercado. Pés e mãos, por exemplo, podem valer cerca de R$ 2 mil, enquanto a cabeça com pescoço pode atingir até R$ 25 mil. Os cadáveres são de pessoas que assinaram contratos, em vida, para uso de seus corpos em treinamentos médicos.
No caso do Brasil, o ITC importa o cadáver para que ele seja usado na formação e na especialização de profissionais em ambiente controlado e com material para cursos específicos que vão desde a área dermatológica à odontologia. A vantagem desse procedimento, segundo os sócios idealizadores do projeto, é que é possível importar partes fracionadas de modo a que o curso a ser desenvolvido no Brasil tenha material de qualidade.
“As vantagens da manipulação de cadáveres frescos é que eles podem ser usados para vários treinamentos, podendo ser manipulados por profissionais de várias áreas. Normalmente eles são usados pelos médicos da área de dermatologia, seguindo-se à manipulação por profissionais de outras áreas”, destaca Gustavo Campos, referência no Brasil em cirurgia bucomaxilofacial e um dos diretores da unidade no Recife.
Segundo ele, “o ITC cumpre seu compromisso de levar formação de qualidade para profissionais de saúde, o que reverbera no melhor atendimento desses profissionais à população em clínicas, hospitais e demais serviços de saúde do Norte e Nordeste”.
O ITC não é a única rede brasileira a explorar este nicho do mercado de saúde. O Centro Internacional de Anatomia em Cadáveres Fresh Frozen (HAC) é outra instituição de formação de alto nível que tem unidades em Bauru (São Paulo) e Rio de Janeiro. “Oferecemos um ambiente high tech para a realização de aulas teóricas e práticas em anatomia humana, com foco em cabeças e pescoços (fresh frozen specimens)”, informa o site oficial.
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