As usinas pernambucanas estão se interessando para passarem a produzir mais um produto: o biogás feito a partir dos resíduos gerados na moagem da cana-de-açúcar. Todos os combustíveis e a energia elétrica estão com os preços valorizados no mercado internacional. O biogás pode ser transformado em biometano e substituir o diesel colocado em tratores e caminhões usados dentro das próprias empresas que têm um custo alto com transporte.
Esse é um dos temas do Seminário GÁS – o combustível da transição energética, que será realizado dia 19 de julho pelo Movimento Econômico em parceria com a Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe), na sede da instituição. Até lá, o Movimento Econômico estará trazendo uma série de reportagens sobre o tema, apresentando o cenário atual e seus desafios. As inscrições podem ser feitas no link https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSfZvb3dOfSynq5JQ7WaKbwhVPmuLSEhuUKnPJADV4k7CZKhjQ/viewform
Nas usinas, o biogás pode ser produzido a partir de da vinhaça e da torta do filtro, um resíduo originário da filtração do caldo extraído das moendas. O biogás surge a partir da decomposição orgânica dos dois resíduos realizada em biodigestores.
“O potencial da biomassa brasileira para fazer biometano equivale a uma hidrelétrica de Belo Monte. Antigamente se falava que as usinas estavam dentro de um conceito da alcoolquímica. Agora, é uma bioquímica verde”, afirma o presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar-PE), Renato Cunha. O gás é medido em metro cúbico e a energia elétrica, em megawatt (MW). Para se ter uma ideia, Belo Monte tem a capacidade instalada de gerar 11.233 megawatts (MW) e produz, em média, 4.571 MW médios. Todo o Nordeste consome 11.500 MW médios.
Do gás canalizado em Pernambuco, 20% poderiam ser biometano
Estima-se que cerca de 20% de toda a atual demanda do gás canalizado em Pernambuco pode vir do biometano, que tem as mesmas características do gás natural, mas não é de origem fóssil, como explica o diretor técnico e comercial da Companhia Pernambucana de Gás (Copergás), Fabrício Bomtempo. Atualmente, a Copergás comercializa 1,750 milhão de metros cúbicos de gás por dia. Do total, não há um metro cúbico de origem renovável.
Alem dos dois resíduos citados acima, o biogás pode ser produzido também a partir de resíduos orgânicos, como os que vão para o aterro sanitário; rejeitos da criação de aves e de frigoríficos.
Em fase de construção das premissas
Renato Cunha explica que o setor “está na fase de pré-estudo e na construção das premissas que devem ser discutidas entre as usinas e a Copergás”. Para ele, é preciso desenvolver a logística e cada empresa tem uma realidade, definindo, inclusive, o futuro acesso aos dutos que transportam o gás canalizado.
Para transformar o biogás em biometano, as usinas terão que fazer a purificação do biogás, processo que vai precisar de investimentos altos. Depois que as usinas estiverem produzindo o biometano, o combustível terá que entrar nos dutos da Copergás para chegar ao consumidor final. O biometano tem que estar dentro das especificações estabelecidas pela Agência Nacional de Petróleo (ANP) para ser injetado nos dutos da Copergás.
Ainda com relação ao interesse do setor sucroenergético pelo biogás, Cunha revela que “o processo está nascendo. As empresas têm que ver com quantos anos tiram o retorno do investimento”.
A principal barreira para as empresas do setor se tornarem produtoras de biometano é o fato de que os investimentos na purificação do biogás são altos e 80% desse total são destinados a compra de equipamentos importados. E o dólar está muito valorizado diante do Real, desestimulando a compra dessas máquinas. “Uma forma de compensar isso, seria as usinas fazerem contratos de longo prazo na venda do biometano. O investimento a ser feito pela Copergás não é uma barreira, mas precisa ser justificável e viável dependendo do volume”, diz Fabrício. O investimento a ser feito pela Copergás seria a construção dos dutos até as usinas que estão espalhadas pela Zona da Mata do Estado.
Raízen vai implantar fábrica de biometano no interior de São Paulo
Uma das maiores empresas do setor sucroalcooleiro no Brasil, a Raízen vai investir cerca de R$ 300 milhões para implantar uma fábrica de biometano em Piracicaba, interior de São Paulo. A empresa fechou contratos de venda futura do gás a ser produzido com a empresa norueguesa Yara, uma das maiores produtoras de fertilizantes no mundo, que vai usar o biometano na fabricação do hidrogênio e amônia verdes. O outro comprador é a Wolkswagen que vai adquirir o gás para utilizar nas suas fábricas. Com os dois clientes, toda a produção do gás já está comercializada.
Pelo que foi divulgado até agora, a Yara vai receber 20 mil metros cúbicos de biometano por dia e a Wolkswagem, 50 mil metros cúbicos diários. A tecnologia usada na fábrica de Piracicaba vai preservar os teores de potássio e nitratos da vinhaça, permitindo que ela continue sendo usada como fertilizante nos canaviais da Usina Costa Pinto, que pertence à companhia. O processo de biodigestão vai gerar o gás, reduzindo a quantidade de matéria-prima residual da vinhaça.
O biogás que a Raízen não transformar em biometano será usado para produzir energia elétrica para as suas próprias fábricas.