Construção. Se havia algo que ligava todos os discursos na reunião da Frente Popular, nesta segunda-feira (22), em que foi apresentado o nome Victor Marques (PCdoB) como vice na chapa do prefeito e candidato à reeleição João Campos (PSB), era essa palavra. O contraste dos rostos e nas palavras entre os sisudos petistas e os sorridentes socialistas mostravam, no entanto, que o consenso ficou apenas nos discursos.
Ao fim da reunião com os 12 partidos, João Campos, radiante, anunciou o nome do seu ex-chefe de gabinete e amigo de escola Victor Marques como o companheiro de chapa.
“O prefeito não trabalha só. Precisa de um time engajado, motivado e eu tenho certeza e convicção que Victor representa essa forma de fazer gestão e de fazer política. De ter a capacidade de ouvir, de ter a mansidão na escuta, mas a firmeza na decisão, a firmeza de saber dizer e construir as coisas. E isso se materializou através da política. Então, que bom que a gente chega aqui com essa unidade construída e com a certeza de que a frente toma, com a unidade de todos os 12 partidos, essa decisão majoritária agora”, afirmou o prefeito João Campos.
Agora oficializado no posto de vice, Victor Marques se disse pronto para a missão e disse que a decisão de ingressar no PCdoB fez parte de uma “construção”. “Recebo com muita alegria essa oportunidade de contribuir com a gestão do prefeito João Campos. Tenho certeza de que, se assim o povo quiser, eu vou poder contribuir ainda mais nessa nova posição”, colocou Victor.
Indagado sobre a escolha do PCdoB, elogiou a sua legenda “centenária”. “Foi feita uma construção política com vários partidos, conduzida pelo prefeito João Campos. Foi uma decisão muito madura”, afirmou, usando sempre poucas palavras em suas respostas.
João Campos e a unidade
Em mais um sinal de que a engenharia para compor a chapa não foi tão cartesiana, o prefeito abusou da palavra unidade na sua fala, inclusive quando agradeceu ao presidente Lula pelo empenho na busca de uma solução.
“Essa unidade construída no dia de hoje, é a unidade que aqui apresenta a chapa majoritária de João e de Vitor, reunindo 12 partidos. Quero externar a nossa gratidão, o nosso reconhecimento, pela confiança, ao presidente Lula, que participou de forma ativa desse processo, dialogando. Aqui a presidente Gleisi Hoffman, que foi fundamental para que essa unidade fosse construída, destacou João Campos, ao abrir as entrevistas.
Depois do prefeito, foi a vez de a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, responder aos jornalistas e o fez de forma quase automática, sem emoção nas palavras e sem a temperatura adequada que a situação pedia.
“Com certeza o PT estará integrado na campanha, que já consideramos vitoriosa pelo resultado do trabalho que João tem feito aqui no Recife e ciente do cenário político construído. O PT se sente contemplado (na questão da vice). Foi um processo, né, que nós fizemos de convergência progressiva, de conversa de construção da unidade. O presidente Lula participou. Óbvio que o PT tinha legitimidade para expor nomes. Aliás, quero agradecer a toda a nossa direção, que teve a compreensão de que para unidade aqui no Recife, também no campo nacional, era importante essa construção”, colocou Gleisi, na rápida entrevista.
Humberto e o protagonismo do PT
Ao chegar à reunião no Hotel Luzeiros, no Pina, o senador Humberto Costa (PT) já dava o tom do desencanto do PT em relação ao processo. Desde o ano passado o partido defende que a vaga de vice fosse ocupada por um filiado do partido.
“O PT, como vocês sabem, demandou claramente a necessidade de ter um protagonismo importante nesta eleição. Não só porque o PT é um partido forte aqui na cidade do Recife, em respeito a essa força política, nós considerávamos que devíamos ter uma participação e um protagonismo na chapa. Em respeito também à própria relação que nós sempre mantivemos com o PSB, entendíamos que as coisas seriam assim. Trabalhamos para isso, tentamos convencer. O próprio presidente Lula também interveio nessa discussão, mas é óbvio que a última palavra é a do candidato. E agora nós vamos seguir em frente, fazer essa campanha e a vida continua”, desabafou Humberto Costa, ao chegar ao evento.
Escolhido pelo PT para ocupar a vice na chapa, o ex-vereadora Mozart Sales disse que vai ajudar na campanha. Evitando comentar o fato de ter sido preterido, destacou que voltará a atuar na Casa Civil do Governo Lula, mas que irá participar da campanha.
Ao final do encontro, a sensação era de que o alicerce da construção não estava muito seguro, com dois lados distintos. O lado eufórico do PSB pela batalha vencida não encontrava o contrapeso necessário no tom de desconforto, beirando a irritação, do lado petista.
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