Transição em Pernambuco gera expectativa no meio empresarial

O empresariado tem forte expectativa de alcançar uma interlocução mais direta e franca com o novo governo e espera mais planejamento.
Muita expectativa com a transição para o futuro governo que ocupará o Palácio do Campos das Pricensas/Foto: ME

A transição em Pernambuco tem gerado muito expectativa no meio econômico e empresarial. Ao optar por uma transição administrativa, onde prevalece a ordem de se fazer primeiro um diagnóstico do Estado para depois se pensar nos nomes de candidatos a secretários, a governadora eleita Raquel Lyra contribuiu para alimentar a ansiedade em setores da sociedade, principalmente entre os grandes empresários.

Em reserva, alguns conversaram com o Movimento Econômico e ressaltaram a preocupação com a questão do planejamento. “Precisamos retomar o planejamento em Pernambuco. O Condepe/Fidem está entregue às moscas. Nada cresce sem planejamento”, disse um deles.

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“Minha grande expectativa é com o Porto de Suape. Qual nome será escolhido para dirigir o porto, que tem recebido grandes investimentos e é um equipamento de grande importância para nossa economia. Por outro lado, também é preciso tratar o Porto do Recife, com mais atenção. E, quem sabe, a nova governadora não poderá colocar os dois portos sob uma única gestão”, disse outro.

Para o economista e sócio-diretor da PPK Consultoria, João Rogério Filho, o empresariado tem forte expectativa de alcançar uma interlocução mais direta e franca com o novo governo. “O diálogo é importante para a apresentação e encaminhamento de demandas, assim como para o estabelecimento de fóruns para colaboração da sociedade empresarial organizada para com o Estado”, disse.

João Rogério também diz considerar importante que se forme um secretariado com perfil mais técnico. “A governadora eleita tem o mérito de ter vencido as eleições com uma coalizão bastante pequena, dando a ela um raro nível de independência para a escolha de um secretariado de sua confiança e de perfil técnico. Isso é positivo, sim”.

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Planejamento necessário

O economista e professor da Universidade de Pernambuco (UPE), Sandro Prado, analisa a futura gestão sob o ponto de vista financeiro. “Raquel Lyra receberá o estado com as contas públicas “minimamente controladas”, apesar da redução repentina de 18% na cobrança do ICMS (Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) dos combustíveis em 2022. “Mesmo assim, a equipe de transição de Raquel Lyra não tem dinheiro para grandes investimentos, pois o estado teve uma perda de arrecadação significativa”, explicou. Esse é um dos fatores que indica a necessidade de uma gestão mais voltada ao planejamento.

Outra razão para que se planeje mais a gestão é que em 2023, no entendimento de Prado, será necessário “muito investimento público e privado” em Pernambuco, devido aos índices alarmantes de desemprego e pobreza no estado. “O estado tem o segundo maior índice de desemprego do país e precisa de políticas públicas para recuperação de mão de obra”.

Por esta razão, o economista entende a ansiedade de agentes políticos e econômicos por informações e negociações sobre os cargos mais importantes na montagem do novo governo. No que se refere à economia, a definição dos responsáveis pela Infraestrutura e Planejamento são as mais aguardadas.

Raquel Lyra: núcleo duro no comando da transição

“Há um olhar focado nessas áreas, mas temos também uma grande preocupação social, com educação, saúde e desemprego, porque isso é fundamental para a recuperação da economia. Na mobilidade, a gente precisa de infraestrutura para transporte de pessoas e cargas”.

No que diz respeito ao perfil do futuro secretariado, Sandro explica haver espaço para nomes técnicos, mas também a necessidade de contemplar a base de apoio da futura governadora. “A gente acredita que na segunda quinzena de dezembro esses nomes começarão a ser divulgado. Há pressa dos agentes econômicos, mas é normal um governo ter um prazo para essas negociações e nomeações para secretários e membros do primeiro escalão do governo”, disse o professor e economista, que considera normal o “mistério” sobre a futura equipe de governo, pois “a equipe não havia sido pré-formada e o partido não estava no poder”.

Risco na transição

Já a cientista política Priscila Lapa aponta um risco na demora para anunciar os escolhidos para áreas-chave do governo. “Ainda há tempo para que as coisas assentem e as correlações de forças se estabeleçam, mas, sim, o silêncio pode ser mal interpretado por apoiadores e lideranças. Pode criar fogo amigo, boicote e outros riscos que se corre ao não declarar essa definição imediatamente”.

Ela aponta que a classe empresarial vê o futuro governo como “mais claro, de acertos, propositivo” e, por esta razão, está “mais tranquila” que a classe política, com a “expectativa de poder que um novo governo pode suscitar”.

“O silêncio sinaliza que o governo vai ser composto muito mais a partir de uma decisão delas, que consultando outros políticos. O que parece é que elas estão decidindo isso numa esfera menor, sem tantas variáveis políticas, para não ter tanta ‘contaminação’ do que elas consideram prioritário, importante na construção do novo governo”, disse Priscila.

Para além da importância de formar uma boa base na Assembleia Legislativa, a cientista política destaca a importância essencial das escolhas do futuro governo para setores estratégicos como Projetos, Planejamento e Fazenda.

“A Casa Civil, por exemplo, é uma instância extremamente política com negociações sobre que áreas, regiões e lideranças serão privilegiadas na distribuição de recursos, assim como Planejamento, Projetos e Fazenda, que lidam com os caminhos de investimento que o governo vai tomar. Isso envolve decisões técnicas, claro, mas também políticas, pois ninguém faz ações na área da Fazenda sem esse viés político. Se Raquel e Priscila decidirem fazer escolhas muito mais técnicas que políticas, isso pode ficar ‘desacobertado’. Elas vão precisar construir uma composição que transite entre o técnico e o político nessas áreas também”, analisa Priscila Lapa.

No que diz respeito aos critérios para escolha de possíveis membros do governo, baseada no perfil de Raquel Lyra, Priscila Lapa afirma que pelo que se sabe até então, a futura governadora demonstra preferência por pessoas de sua confiança, “pessoas que passaram pelo governo de Raquel em Caruaru, com um know-how consolidado. É um núcleo duro de confiança, ‘puro-sangue’, que não deixa muita margem para especulações políticas, assim como ela fez quando foi prefeita”.

Priscila Lapa também diz não ter dúvidas de que a gestão de Raquel Lyra terá um perfil muito estruturador e “não vai ficar a reboque” de fazer parcerias com o Governo Federal, pois “sem esses caminhos, você não tem muito como fazer investimentos”.


Confira os membros da equipe de transição:

Priscila Krause, vice-governadora eleita

Túlio Vilaça, advogado

Eduardo Vieira, administrador

Carolina Cabral, publicitária

Fernando de Holanda, publicitário

Manoel Medeiros Neto, economista e jornalista

Ana Maraiza de Sousa, advogada

Bárbara Florêncio, advogada

Nayllê Rodrigues, advogada e administradora

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