Por Mauricio Laranjeira*
Com o fim da primeira viagem do Presidente Lula à China neste início de terceiro mandato, adiada por motivos de saúde, no intuito de estreitar o relacionamento com o país nas mais diversas frentes, temos o saldo de 15 acordos bilaterais assinados, discursos e posicionamentos.
Principal parceiro comercial do Brasil, apenas em 2022 exportamos para lá quase US$ 90 bilhões, 27% de tudo que vendemos para o exterior e mais que o dobro do que foi vendido ao segundo colocado, os Estados Unidos. Em 14 estados brasileiros, a China é o principal destino das exportações, o que não acontece em Pernambuco por não termos commodities agrícolas e minerais que atraiam o interesse dos asiáticos – mas isso pode ser mudado -.
Foram tema das diversas reuniões que o Presidente teve o comércio entre os países, a questão de investimentos, reindustrialização brasileira e geopolítica. Lula também se reuniu com o seu homólogo Chinês, Xin Jinping, recentemente reconduzido para seu terceiro mandato, de forma inédita, e tido com o mais poderoso líder do país desde Mao Tsé-Tung.
Mas o que podemos esperar como resultados práticos dessa missão tão divulgada e acompanhada por olhos atentos ao redor do mundo, ainda mais nessa conjuntura atual?
Com relação ao comércio entre os países, a comitiva encontrou um cenário favorável, após a aberturas das fronteiras chinesas pós-covid. Entre os acordos está a criação de mecanismos para a facilitação do comércio entre os dois países, de extrema importância, assim como para o desenvolvimento da pesquisa e da inovação, tendo em vista que temos muito que aprender com os avanços chineses nessas áreas.
Foram também feitos acordos para certificações sanitárias e para a entrada de produtos animais, o que irá beneficiar nossas exportações agrícolas e de alimentos, além de um para o fortalecimento da cooperação em investimentos na economia digital.
Quanto aos investimentos, Pequim tem sido uma grande financiadora de projetos de grande porte ao redor do mundo, e nós precisamos desses recursos, principalmente em infraestrutura, ainda mais ao considerarmos a falta de caixa dos nossos governos. A potencial diversificação do comércio e a atração de investimentos ajudará na reindustrialização do país, algo que nossa economia necessita há décadas, pois só acompanhamos a diminuição da participação da indústria no PIB. Transversalmente, temos os temas ambientais e de transição energética, ainda mais quando consideramos a China e o Brasil dois grandes players nesse setor.
Não podemos esquecer a questão da geopolítica, afinal de um lado temos a China, que vem crescendo o tamanho da sua influência de maneira muito forte, e do outro lado temos o Brasil, que não tem envergadura para solucionar a paz mundial, mas pode se beneficiar dessa aproximação, além da vontade do Presidente Lula de marcar posição para reforçar seu viés ideológico, tendo em vista o comentário sobre a necessidade de substituir o Dólar Americano nas transações internacionais (90% das transações internacionais brasileiras são em Dólar), algo que não é impossível, mas precisa das condições.
Com relação ao conflito Rússia X Ucrânia, apesar de ter sido mencionado, o Presidente Chinês afirmou preferir discutir o tema em evento mais reservado, entretanto ambos concordaram com a necessidade de um acordo de paz.
Como brasileiros, esperamos que os resultados dessa missão sejam altamente produtivos, objetivos e pragmáticos – especialidade dos chineses-, de modo a incentivar o crescimento do nosso comércio internacional, relações exteriores, atração de investimentos e, enfim, da nossa economia, com um mundo em paz.
*Mauricio Laranjeira é consultor empresarial e presidente do Comitê de Internacionalização do Sistema LIDE Pernambuco.