Tania Bacelar de Araujo*
Próximo a encerrar o segundo ano de pandemia da Covid -19, que, para a cientista Sarah Gilbert, uma das lideres da produção da vacina Oxford-AstraZeneca, pode ser sucedida por outra, ainda mais letal, precisamos olhar para além deste momento.
A pandemia e seus impactos econômicos e sociais muito negativos surpreendeu o Brasil fragilizado por múltiplas crises, que se retroalimentavam, e o país teve dificuldades de lidar com os impactos desses tempos pandêmicos. O Brasil está fragilizado, ainda perplexo, e deve experimentar um 2022 muito desafiador, pois realizará eleições nacional e estaduais em meio a um ambiente econômico de crise e um ambiente político de forte polarização. O que dificulta a construção de consensos mínimos para avançar.
A própria direção estratégica dos avanços necessários não parece fácil de identificar… E o mundo, mesmo antes da pandemia, já vinha experimentando mudanças que constroem ambiente de disrupção em vários aspectos, exigindo reposicionamento do país.
Pernambuco se destaca nesse contexto, de maneira positiva. Vinha de um bom momento econômico, quando entre 2007 e 2013 captou um importante bloco de investimentos, centrados na indústria, o que o fez marchar na direção oposta a do país no seu conjunto: se reindustrializando, num país que perde consistência industrial.
Nos anos, recentes, do Brasil em crises múltiplas, a economia de Pernambuco é afetada, mas resiste, exibindo resultados acima da média nacional, como atestam os dados do Gráfico abaixo.
Nos tempos de pandemia, a capacidade de resistência se reafirma, tanto que o Banco Central (Bacen) sinaliza, no seu Índice de Atividade Econômica, que em setembro de 2021, no acumulado de 12 meses, a economia pernambucana cresceu 5,2% contra 4,2% da média nacional.
Mas, não podemos olhar apenas para o curto prazo, pois muitas mudanças em curso no mundo são de caráter estrutural. E a pandemia as acelerou…
Rumamos firmes para consolidar a era digital, avançar na era das energias limpas como elemento de partida para a descarbonização, na era da valorização dos serviços especializados e na da agroecologia… entre outras. E Pernambuco tem ativos relevantes para ser agente importante destas mudanças.
A presença do ecossistema construído em torno do Porto Digital e sua tradicional e competente base científica e educacional fazem de Pernambuco um polo irradiador da aplicação de novos conhecimentos e gerador de serviços especializados, crescentemente relevantes.
Sua presença proeminente nos mapas brasileiros dos ventos e do sol, já deu o start para os avanços na mudança da matriz energética. Ao lado da produção de etanol e biogás a partir da biomassa da base canavieira, que vem se transformando.
A Universidade Federal Rural de Pernambuco vem avançando no ensino, pesquisa e extensão da agroecologia, conhecimento que precisa transbordar para a base agropecuária em transformação do estado, em particular a dos numerosos produtores familiares.
A sólida base educacional do estado está desafiada e se reinventar face às mudanças em curso que atingem os tradicionais modelos de ensino-aprendizagem. O avanço pernambucano na base de ensino médio é evidente nos indicadores nacionais, mas a juventude vai cobrar mais! E com razão!
Esses são apenas alguns exemplos de temas que precisam estar na agenda governamental, empresarial e das entidades não governamentais.
*Tania Bacelar de Araujo é economista, Mestre e Doutora em Economia pela Universidade de Paris Panthéon-Sorbonne e sócia da Ceplan Consultoria Econômica