Paulo Guimarães: Descemos de elevador, subiremos de escada?

Paulo Guimarães* Nas últimas semanas foram atualizadas as estatísticas sobre o desempenho recente da economia mundial e as estimativas para os próximos anos. As informações relativas a 2020 já são bem conhecidas e registraram o mergulho da economia provocado pela pandemia da Covid-19. A grave crise sanitária levou a uma forte recessão econômica, que na […]
Etiene Ramos
Etiene Ramos
Jornalista

Paulo Guimarães*

Paulo Guimarães, economista*

Nas últimas semanas foram atualizadas as estatísticas sobre o desempenho recente da economia mundial e as estimativas para os próximos anos. As informações relativas a 2020 já são bem conhecidas e registraram o mergulho da economia provocado pela pandemia da Covid-19. A grave crise sanitária levou a uma forte recessão econômica, que na fase mais aguda foi simbolizada pelo preço negativo nos contratos de petróleo. O barril foi cotado a menos 37,63 dólares em 20 de abril de 2020. Em um dia histórico os vendedores estavam pagando para que outros investidores assumissem os contratos de maio.

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Após o período mais severo, com lideranças governamentais e autoridades sanitárias se dedicando obviamente ao enfrentamento da pandemia, os governos e as instituições multilaterais começaram a desenhar e implementar políticas de estímulo ao crescimento e a retomada econômica. A preocupação com os impactos sociais, principalmente entre os mais vulneráveis, era latente e ainda permanece desafiante.

Após um declínio econômico tão expressivo e o avanço da vacinação, com melhoria dos indicadores de saúde, era previsível que 2021 apresentasse taxas bem significativas de crescimento, contudo, é praticamente consenso entre os especialistas que o ritmo da retomada deverá ficar mais claro de 2022 em diante.

A tabela a seguir destaca as taxas de crescimento da América Latina e Caribe, Zona do Euro e de alguns países selecionados. A estimativa para 2022 é de que o crescimento latino americano seja inferior ao registrado em grande parte da Europa. O que chama atenção, é que tradicionalmente as taxas de crescimento dos países em desenvolvimento são mais elevadas nos períodos de retomada, quando comparadas às nações desenvolvidas. As economias mais maduras tendem a crescer em taxas mais modestas pela menor necessidade, por exemplo, de grandes investimentos em infraestrutura econômica e social, entre outros fatores.

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O que pode justificar essa diferença nas taxas do próximo ano é o esforço depositado nas políticas anticíclicas europeia. Conhecido como a “Bazuca Europeia” ou novo “Plano Marshall”, o pacote de estímulo é superior a € 750 bilhões liderados pelo Comissão Europeia e que se soma a outras dezenas de bilhões de euros dos países membros. Estaria nessa capacidade de captação de recursos para investimentos o cenário mais otimista? Ou seria a ousadia no enfrentamento da crise, apostando em ações menos conservadoras?

As taxas relativamente baixas de crescimento previstas para 2022 são realmente preocupantes no contexto socioeconômico da América Latina e Caribe. Uma retomada lenta em um ambiente de elevadas taxas de desemprego, precarização nas condições de trabalho e consequentes deterioração das condições sociais pode ser desastrosa, se não tratada com urgência.

No caso do Brasil, por exemplo, há um conjunto de instituições como os bancos de desenvolvimento liderados pela ABDE que podem conduzir esse processo. O BNDES, os bancos regionais e estaduais de desenvolvimento têm um papel fundamental nas políticas anticíclicas e na possiblidade de dar velocidade ao crescimento econômico. São os elevadores que podem evitar essa dura subida de escada.

Paulo Guimarães é economista, doutorando pela Universidade de Lisboa e sócio-diretor da Ceplan Consultoria

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