
O Brasil será submetido a uma tarifa de 10% sobre suas exportações para os EUA. A medida foi anunciada nesta quarta-feira (2), pelo presidente norte-americano Donald Trump, e impactará diversos parceiros comerciais. As novas taxas, que entram em vigor à meia-noite de quinta-feira, dia 3 de abril, foram apresentadas durante um evento na Casa Branca, com a presença de secretários do governo.
Trump declarou o dia como o “Dia da Libertação”, afirmando que os Estados Unidos deixarão de depender de exportações estrangeiras e cessarão, em sua visão, de serem explorados por outras economias. Ele apresentou uma tabela com os países e blocos econômicos que serão mais impactados pelo tarifaço norte-americano. Ele anunciou tarifa de 20% sobre a União Europeia, 34% sobre a China e 46% sobre o Vietnã.
O presidente norte-americano disse que a aplicação das tarifas aos outros países “é uma medida gentil” que tornará os “Estados Unidos grande novamente”. No anúncio, Trump fez críticas aos governos passados, em especial a administração de Joe Biden, por terem deixado outros países aplicarem elevadas taxas aos produtos norte-americanos, impactando a indústria nacional. Segundo ele, esses países “estão roubando” e “levando vantagem” dos EUA.
Em 2024, o Brasil exportou US$ 40 bilhões em produtos para os Estados Unidos, sendo aproximadamente 60% desse montante composto por itens manufaturados. Os principais produtos exportados foram petróleo, produtos semiacabados de ferro ou aço, além de aeronaves e suas peças.


Câmara reage com urgência a tarifas dos EUA
Em resposta às tarifas impostas, a Câmara dos Deputados aprovou, nesta quarta-feira (2), antes do pronunciamento de Trump, a tramitação em regime de urgência do Projeto de Lei de Reciprocidade Econômica. O requerimento foi aprovado por 361 votos favoráveis e 10 contrários (todos do PL, o partido de Jair Bolsonaro). A proposta autoriza o governo federal a aplicar medidas equivalentes contra países que imponham barreiras ou sobretaxas ao Brasil.
O presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou que o Congresso está unido em defesa da indústria e dos exportadores nacionais. “O Brasil não pode aceitar passivamente ações que prejudiquem nossa economia e nossos exportadores”, declarou.
O líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), afirmou que a urgência demonstra alinhamento entre os Poderes. “O projeto garante mecanismos de defesa econômica em um cenário internacional cada vez mais hostil”, disse. Já a deputada Adriana Ventura (NOVO-SP) alertou para possíveis consequências no comércio exterior. “Precisamos avaliar cuidadosamente os impactos de uma escalada protecionista”, afirmou.
Tarifas de Trump variam entre 10% e 46%
Além do Brasil, outros países e blocos foram afetados pelas novas tarifas:
País | Taxa |
China | 34% |
União Europeia | 20% |
Vietnã | 46% |
Taiwan | 32% |
Japão | 24% |
Coreia do Sul | 25% |
Tailândia | 36% |
Suíça | 31% |
Indonésia | 32% |
Reino Unido | 10% |
África do Sul | 30% |
Brasil | 10% |
Bangladesh | 37% |
Singapura | 10% |
Israel | 17% |
Filipinas | 17% |
Chile | 10% |
Austrália | 10% |
Paquistão | 29% |
Turquia | 10% |
Sri Lanka | 44% |
Colômbia | 10% |
Trump também confirmou que as tarifas de 25% sobre carros importados entrarão em vigor em 3 de abril.
A ministra do Planejamento, Simone Tebet, destacou que a sobretaxação pode gerar inflação e aumento do desemprego em escala global. “Sem dúvida nenhuma, nós estamos vendo com preocupação. Isso pode impactar inflação mundial, perdas de emprego”, disse em evento no Banco Central.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) tem defendido a ampliação de parcerias com os EUA. Uma missão de empresários brasileiros está prevista para o próximo mês com foco em diversificação de mercados e promoção comercial.
O que pensam os empresários e economistas brasileiros
“Ainda falta detalhes, mas o anúncio feito por Trump coloca o Brasil no piso das tarifas anunciadas pelo presidente norte-americano. O Real se aprecia após apontar as taxas”, analisa o economista André Perfeito. “Minha primeira impressão é que para o Brasil saiu barato as tarifas, o que faz sentido, afinal como tenho falado há algum tempo temos déficits contra os EUA, logo não seríamos alvo nesse momento”, completou.
A elevação das tarifas comerciais pelos EUA gerou reações no mercado. Com alíquotas de até 30% para a Ásia, 20% para a Europa e 10% para a América Latina, as medidas surpreenderam negativamente. Empresas brasileiras como Iochpe-Maxion, Tupy e Gerdau podem ser impactadas. A previsão de crescimento do PIB norte-americano já foi revisada para baixo. Segundo Fernando Marx, diretor da trade TC, o maior prejudicado pode ser o próprio EUA. A expectativa agora recai sobre possíveis retaliações e futuras negociações.
Executivo com mais de 30 anos de experiência na liderança de grandes empresas no Brasil e no exterior, fundador da CF Partners, Carlos Fadigas comentou o pacote tarifário anunciado nesta quarta-feira (2) pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
“A decisão do governo dos Estados Unidos de impor tarifas de importação mais altas, reforçada pelo relatório do USTR divulgado na terça-feira, sinaliza uma mudança clara na postura americana: o país não pretende mais manter seu mercado aberto enquanto seus exportadores enfrentam alíquotas elevadas em mercados como o brasileiro. Essa nova abordagem ameaça eliminar um importante mecanismo que, até então, ajudava a equilibrar minimamente a competitividade entre economias com diferentes estruturas de custo”, afirma Fadigas.
“O Brasil, por sua vez, sempre teve um ambiente de negócios difícil, marcado pelo chamado Custo Brasil. A atual situação fiscal do país, refletida em uma das taxas de juros mais altas do mundo, ilustra a persistência desses entraves. Como consequência, temos perdido competitividade industrial, com a indústria nacional reduzindo sua participação tanto no PIB quanto no comércio global”, acrescenta.
“Durante muito tempo, esse desequilíbrio foi atenuado por impostos e tarifas de importação que buscavam criar uma “isonomia competitiva”. No entanto, com a possível perda desse instrumento, o país será ainda mais pressionado a enfrentar seus problemas estruturais e buscar soluções que o tornem verdadeiramente competitivo frente a outras economias”, explica Fadigas.
A elevação das tarifas comerciais pelos EUA gerou reações no mercado. Com alíquotas de até 30% para a Ásia, 20% para a Europa e 10% para a América Latina, as medidas surpreenderam negativamente. Empresas brasileiras como Iochpe-Maxion, Tupy e Gerdau podem ser impactadas. A previsão de crescimento do PIB americano já foi revisada para baixo. Segundo Fernando Marx, diretor da trade TC, o maior prejudicado pode ser o próprio EUA. A expectativa agora recai sobre possíveis retaliações e futuras negociações.
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