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Agenda cripto de Trump pode transformar o cenário financeiro global

O decreto assinado pelo presidente na última quinta-feira (23) visa regular o mercado de criptoativos privados
cripto Trump
Cripto da era Trump/imagem criada por Inteligência Artificial/ME

A agenda pró-cripto defendida pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tende a fortalecer os criptoativos como ferramentas legítimas de reserva de valor e a estimular seu uso nas transações entre países, uma tendência que ainda é tímida atualmente. O decreto assinado pelo presidente na última quinta-feira (23) visa regular o mercado de criptoativos.

Esses ativos digitais vêm provocando uma revolução no sistema financeiro global, rompendo paradigmas estabelecidos e alterando o panorama econômico. Eles desafiam a predominância de estruturas tradicionais, como o dólar americano e a rede SWIFT, ao introduzirem possibilidades inéditas. Essa transformação não se limita aos fluxos financeiros, mas também redefine como as economias se conectam e operam globalmente.

Desde que iniciou a guerra com a Ucrânia, a Rússia foi excluída do sistema SWIFT (sigla em inglês para Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication, ou Sociedade de Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais, em tradução livre). “As limitações levaram os russos a realizar negociações com China, Coreia do Norte e Dubai, usando também criptomoedas, um meio de evitar sanções econômicas e fortalecer suas economias”, explica Pedro de Menezes Carvalho, advogado especializado em Regulação, Negócios, Energia e Finanças.

Sistema SWIFT

O SWIFT é um sistema de mensagens criado em 1973 que conecta bancos de várias partes do mundo, permitindo a troca de moedas entre países de forma rápida e segura. “O movimento da Rússia despertou vários países que consideram o dólar não só uma reserva cambial dos Estados Unidos, mas também uma ferramenta de poder econômico. E eles começaram a pensar em outras alternativas à moeda norte-americana”, analisa Carvalho.

Os criptoativos estão emergindo como um marco disruptivo no sistema financeiro global e podem reconfigurar o cenário econômico. “Ao questionarem a hegemonia de estruturas monetárias tradicionais, como o dólar americano e a rede SWIFT, os criptoativos abrem caminhos para uma transformação profunda, não apenas nos fluxos financeiros, mas também na forma como as economias se conectam e operam globalmente”, destaca.

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Pedro Menezes de Carvalho
Pedro Menezes de Carvalho/Foto: divulgação

Um exemplo é a movimentação entre os países reunidos no BRICS, que estão criando o BRICS Pay, um sistema de transação monetária que visa substituir o SWIFT em suas relações comerciais. Com o BRICS Pay, se o Brasil quiser comprar uma mercadoria da China, poderá pagar em reais, e o sistema transformará o real em yuan. As criptomoedas funcionam de forma semelhante, eliminando as transações pelo SWIFT.

O governo norte-americano está explorando o uso de stablecoins – criptomoedas lastreadas em ativos reais, como o dólar. Diferentemente do Bitcoin, cujo valor depende exclusivamente da aceitação do mercado, as stablecoins têm seu valor garantido por reservas reais, o que as torna uma ferramenta mais estável. Para o governo dos Estados Unidos, esse pode ser um caminho para preservar a importância do dólar nas transações globais.

criptomoeda
Criptomoeda/Imagem gerada por Inteligência Artificial/ME

Decreto de Trump

O decreto de Trump criou o Grupo de Trabalho para Mercados de Ativos Digitais, que terá 180 dias para apresentar uma proposta de regulação para os criptoativos, incluindo stablecoins, e avaliar a criação de uma “reserva estratégica nacional de ativos digitais” – uma medida aguardada pelo mercado.

O ato administrativo também proibiu o Federal Reserve (banco central) de criar uma moeda digital, encerrando qualquer trabalho relacionado a essa ideia, para que uma moeda digital oficial não ofusque as demais. O apoio de Trump é direcionado aos criptoativos privados e stablecoins, mas não às CBDCs (Central Bank Digital Currencies, ou Moedas Digitais de Banco Central).

Trump
Trump e Melania: memecoins /Foto: Wikimedia Commons

Vale ressaltar que Trump lançou sua própria criptomoeda, a $TRUMP, uma “memecoin”. Lançada a US$ 7, ela chegou a valorizar mais de 680% na última segunda-feira (20). A primeira-dama Melania Trump também lançou sua própria memecoin, que valorizou mais de 25% no mesmo período.

Apesar desses casos de valorização, as memecoins são ainda mais arriscadas do que as criptomoedas tradicionais, segundo a Coinbase, uma das maiores plataformas de negociação de criptomoedas no mundo, já que qualquer pessoa pode criar sua própria memecoin.

Contrapontos

Apesar dos esforços de Trump em torno dos criptoativos, há quem veja com ceticismo esse movimento. Eswar Prasad, economista e professor da Universidade Cornell, argumenta que, embora as criptomoedas sejam promissoras, elas ainda não conseguem substituir os sistemas financeiros tradicionais em larga escala. Ele destaca que o dólar americano mantém sua dominância devido à confiança que inspira, à profundidade de seu mercado financeiro e à falta de alternativas viáveis. Em seu livro The Future of Money, Prasad sugere que, embora os criptoativos sejam úteis em nichos específicos, sua influência no cenário global permanece limitada.

Desafios de Trump

Para avançar com seus interesses, Trump precisa superar alguns desafios. Ao contrário do dólar, que possui um valor relativamente estável e previsível, as criptomoedas são altamente voláteis. Essa característica dificulta seu uso em transações comerciais regulares e em acordos bilaterais. A instabilidade do Bitcoin, que pode variar dezenas de porcentagem em poucos dias, torna seu uso arriscado para contratos internacionais.

Além disso, a infraestrutura financeira global ainda é amplamente dependente de sistemas tradicionais como o SWIFT. A transição para redes baseadas em blockchain exige tempo, investimentos e cooperação internacional, algo ainda distante em muitos casos.

Governos ao redor do mundo também têm imposto regulações rigorosas sobre criptomoedas, devido a preocupações com lavagem de dinheiro, evasão fiscal e financiamento ao terrorismo. A China, por exemplo, proibiu em 2021 a atividade de mineração de criptomoedas, forçando mineradores a buscarem refúgio em outros países.

Embora as stablecoins representem uma alternativa mais estável de transação digital, sua dependência de ativos tradicionais como o dólar ainda reforça a hegemonia norte-americana. Além disso, a complexidade técnica das criptomoedas e a falta de alfabetização financeira em muitos países dificultam sua adoção em larga escala.

De todo modo, o movimento do governo norte-americano merece ser acompanhado de perto, pois pode estimular outras nações a seguirem no mesmo caminho.

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