PL, o convidado rebelde e inconveniente do Governo Raquel

Atuação do PL, principlamente na Assembleia Legislativa, é assunto nas rodas de políticos, que questionam a permanência do sigla no governo
Raquel recebe documento com propostas do PL para a gestão, em maio de 2023 Foto:Janaína Pepeu/Secom

Márcio Didier

Sabe aquela festa em que um convidado visto como inconveniente transita sem problema, sob os olhares de reprovação por todos os presentes? Pois é. Aliado desde o início da gestão da governadora Raquel Lyra, o PL vira-e-mexe é assunto nas rodas políticas. E a avaliação é sempre a mesma: agora o partido será expurgado do governo. Mas nunca é.

A governadora, inclusive, já chegou a demonstrar incômodo em relação a este tema. Na Abertura do 7⁰ Congresso Pernambucano de Municípios, promovido pela Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe), questionada sobre se o PL continuaria no Governo, ela deu um leve sorriso, virou as costas e encerrou a entrevista sem dar uma palavra sequer.

A legenda, que tem como maior expoente no Brasil o ex-presidente Jair Bolsonaro e é comandada em Pernambuco por Anderson Ferreira, controla uma das joias disputadas no Governo do Estado, o Detran, cobiçado por todos os aliados da governadora, principalmente o PP. Isso porque o órgão administra um orçamento anual estimado em R$ 1 bilhão, para 2024, sendo a terceira maior máquina arrecadadora do Estado, atrás apenas da Secretaria da Fazenda (Sefaz) e da Copergás.

A lista de lamúrias dos aliados para expulsar o PL do Detran e do Governo é longa. A principal delas é que a sigla prometeu os votos dos cinco deputados na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), mas nas principais votações na Casa nunca entregou todos.

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Feitosa, a pedra no sapato

Debitam na conta do comando da sigla a falta de controle sobre os seus correligionários rebeldes, principalmente em relação ao Coronel Alberto Feitosa, que atua na oposição, sendo uma pedra no sapato da gestão estadual.

Foi ele quem apresentou algumas pautas indigestas para o Governo, como a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que autoriza os deputados estaduais a tratarem de matérias financeiras e tributárias na Alepe. Coisa que ele tentou, sem sucesso, no Governo do PSB. Agora conseguiu.

Uma outra PEC de Feitosa aprovada na Alepe amplia o valor da Receita Corrente Líquida (RCL) do Estado reservado para o pagamento das emendas parlamentares, dos atuais 0,5% para 1,2%, de forma progressiva, até 2026.

Feitosa, Joel e Meira têm encampado a luta para mudar projeto das faixas salariais Foto Roberto Guimarães Alepe

PL e as faixas salariais

Na mais recente frente de batalha aberta, o Coronel Feitosa ganhou a companhia do companheiro de partido Joel da Harpa. Juntos, eles estão há dois meses infernizando a vida do Governo numa cruzada para alterar o conteúdo do projeto que extingue as faixas salariais dos policiais militares e bombeiros militares até 2026 e concede reajuste salarial escalonado para a tropa.

O projeto, de tramitação delicada na Casa, por tudo que a envolve, tem provocado desgaste para o Executivo pelo longo tempo de tramitação. A oposição sequestrou a narrativa e colocou o Governo numa situação inusitada de, apesar de cumprir a promessa de campanha de extinguir as faixas e ainda conceder reajuste, ser visto pela tropa como fechado para o diálogo.

Primeiras exonerações

A atuação do PL nessa questão das faixas salariais, inclusive, provocou o primeiro expurgo de quadros do partido do Governo Raquel. A irmã de Joel da Harpa, Jael Maurino do Carmo, foi exonerada da função de coordenadora do Detran de Jaboatão dos Guararapes.  

Outros doze servidores do Prorural, que seriam ligados ao deputado federal Meira (PL), foram exonerados, inclusive, o diretor-geral Mychel Gomes de Sá Ferraz e o gerente-geral, Hercílio de Souza Lira Filho.

Nos bastidores, a leitura é que de as exonerações foram uma forma de retaliar os dois deputados: Joel pela atuação durante todo o processo das faixas salariais; e Meira por ter comparecido à sessão da Comissão de Constituição, Legislação e Justiça (CCLJ) da Alepe, considerada fora de propósito pelo Governo, pois ele é deputado federal e não teria motivo para estar ali.

Visões opostas

Alguns consideraram as exonerações como o início do desembarque do PL do Governo, algo que já vem sendo ventilado há algumas semanas. Inclusive já circulou a informação da possível entrega do Detran para o PP do deputado federal Eduardo da Fonte.

Para outros, no entanto, a avaliação é de que foi um expurgo pontual, sem maiores implicações para o partido no Governo. Esses avaliam que quando colocados numa balança, as inconveniências do PL pesam menos do que o tempo de TV do partido em 2026, o maior entre todas as legendas, e os dois votos garantidos na votação dos projetos de interesse do Executivo na Alepe, um ambiente por vezes inóspito para a gestão estadual.

Qual dessas duas correntes tem razão? Só o tempo e a governadora Raquel Lyra podem dar essa resposta. O que parece ser uma certeza é que nada muda antes do final da tramitação do projeto que extingue as faixas salariais, que será votado na próxima terça-feira (7), na Alepe, com a previsão de um plenário cheio de policiais militares e bombeiros pressionando pelas mudanças. Em momentos tensos e acirrados como esse, toda ajuda é bem-vinda. Até dos convidados inconvenientes.

Veja também:

Raquel Lyra envia PL da extinção das faixas salariais da PM para Assembleia

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